O BMG apresentou um lucro líquido de R$ 124m no 4T23, uma robusta melhora de 72% t/t e 70% a/a. A rentabilidade (ROE) ficou em 12,7%, ainda em patamares fracos frente aos seus pares como Agi e Mercantil, mas com uma melhora significativa de aproximadamente 5pp a/a. O lucro antes de imposto (EBT) também melhorou, alcançando R$ 106m, maior EBT desde meados de 2021 e substancial turnaround do prejuízo de -R$ 97m no 2T23, refletindo melhoras em diversas linhas: redução de despesas operacionais, provisões e receita de juros.
Assim como o trimestre passado, o 4T23 marca a gestão do recém-empossado CEO Felix Cardamone, assumindo o cargo em abril de 2023. Desde então, ele demonstrou habilidade ao gerar resultados de curto prazo, iniciando uma reestruturação nas áreas de análise de crédito, cobrança, fraude e onboarding. Essas iniciativas visam reduzir a inadimplência, aprimorar a precificação e fortalecer o controle das despesas.
Para 2024, projetamos um lucro de R$ 427 milhões, crescimento de 108% a/a, resultado em um ROE de 11% (vs. 5% em 2023).
Apesar do risco elevado, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço-alvo de R$ 3,90 para o final de 2024, baseado em uma reestruturação em andamento, valuation interessante de 4,9x P/L 24E, 0,5x P/VP 24E e um dividend yield de 11,6% 24E.
Carteira de Crédito: Sem crescimento
A carteira de crédito total atingiu R$ 23,8b no 4T23, com uma diminuição de -1,3% t/t e -0,1% a/a. A diminuição da carteira no trimestre ocorreu principalmente devido à reorganização de negócios e a cessão, sem retenção substancial de riscos e benefícios, da carteira em atraso no 4T23.
Neste trimestre, houve uma cessão de R$ 384m na carteira de consignado. Além disso, o banco reduziu consideravelmente a linha de PJ Varejo (-95,9% t/t e -96,7% a/a).
Receita de juros (NII): Cresce a despeito do crédito de lado
No 4T23, a receita de juros (NII) totalizou R$ 1,2 bilhão, aumento de 2,9% t/t e de 9,2% a/a.
As receitas de crédito atingiram R$ 1,8 bilhão, apresentando uma leve queda de -0,1% em relação ao trimestre anterior. Esse declínio foi influenciado pelas reduções das taxas de juros do consignado. No entanto, os crescimentos das carteiras do cartão consignado e da antecipação do FGTS ajudaram a compensar parte da queda.
Além disso, estratégias de cessão de crédito consignado sem retenção de riscos contribuíram para as receitas. O custo de captação ficou em R$ 1,05b, aumento de +2,9% t/t, devido a movimentação do IPCA.
Inadimplência e Provisão: Queda substancial na inadimplência e PDD
As provisões para devedores duvidosos (PDD) ficaram em R$ 333m, queda substancial de -19,6% t/t, reflexo das novas políticas e ações de crédito e de cobrança.
A taxa de inadimplência acima de 90 dias (NPL 90+) alcançou 3,5%, queda de 2,1 pp t/t e 1,4 pp a/a. O principal destaque positivo foi o segmento de Varejo Pessoa Física (crédito pessoal, cartão de crédito aberto e antecipação FGTS), que apresentou uma contração de -6,3pp t/t e -11,0pp a/a na inadimplência acima de 90 dias para 5,6%, devido ao processo de cessão da carteira em atraso e a interrupção de originação de cartão de crédito mar-aberto para o varejo.
No trimestre, o índice de cobertura atingiu 107,7%, refletindo aumento de 6,5 pp t/t e 13,7 pp a/a.
Despesas: Redução
As despesas (ex-receitas operacionais) ficaram em R$ 517m, apresentando uma redução de -2,0% t/t e -1,2% a/a. O destaque positivo para o trimestre ficou com a linha de “outras despesas” que caíram 14,3% t/t.
As despesas de pessoal aumentaram 3,6% t/t e caíram 6,3% a/a, enquanto o número de colaboradores aumentou 1,5% no trimestre, mas com redução de 2,6% a/a devido ao redimensionamento das equipes.
Por fim, o banco tem focado na eficiência, revisando processos, redimensionando equipes e direcionando negócios para maior rentabilidade. O índice de eficiência de 57,1% no 4T23, uma leve piora de 1,3pp t/t e melhora de 1,5pp a/a.
Capital: Se a rentabilidade não melhorar, pode ser preocupante
O índice de Basiléia apresentou uma queda de -0,2pp t/t e a/a, ficando em 13,3%. O capital principal atingiu 9,4%, estável t/t e redução de -1,4pp a/a. Já o capital nível 1 alcançou 9,8%, refletindo uma queda de 0,1pp t/t e -1,5pp a/a.
O banco deve seguir sua estratégia de originar e vender (sem retenção de risco) crédito consignado para gerar comissão sem piorar seu índice de Basileia, mantendo seu canal de relacionamento vivo com os correspondentes bancários.
O Patrimônio de Referência está sendo significativamente influenciado pela marcação a mercado de títulos públicos, com um impacto de aproximadamente 1,2 ponto percentual na Basileia. Levando em conta o encerramento de 2023, cerca de 58% do accrual dessa marcação será realizado ao longo de 2024, melhorando os índices de capital do banco.