Com resultados sólidos e rentabilidade acima de vários pares privados, esperamos que o Banco do Brasil (BB) caminhe para mais um ano com um bom desempenho. Acreditamos que o BB continue rodando com um ROE de 18-20% ao longo de 2023, apenas pela inércia dos resultados de 2022 de crescimento de crédito, reprecificação da carteira, corte de custos em alguns itens, menor exposição as dívidas podres da Americanas, além de uma carteira mais defensiva com baixa inadimplência.
Acreditamos que o risco de ingerência política hoje é menor que em 2012 quando algumas iniciativas (exemplo, Bom Pra Todos) levaram o banco a sair de um ROE de 15-20% para menos de 10%. Mas isso demorou aproximadamente 4 anos para derrubar a rentabilidade para esse patamar de 10% em 2016. Por isso, acreditamos que o melhor a fazer é monitorar as iniciativas de negócio do banco nos próximos trimestres. Os números para esse ano de 2023 estão bem contratados a não ser que algum deslize de inadimplência derrube os resultados – ao nosso ver, o maior risco. Desde 2016, inúmeros barreiras foram reforçadas como a lei das estatais, criação de mais comitês com decisões em colegiado, aumento de transparência e um plano estratégico de 5 anos que não pode ser mudado muito.
A indicação do novo time gestão composto de funcionário de carreira com dezenas de anos de casa, mitiga em muito a interferência política, na nossa visão. Com 22 anos de casa, Tarciana Medeiros foi eleita como CEO do Banco do Brasil. O último cargo de Tarciana no BB foi de executiva no varejo, área core do banco. Trouxeram também Marco Geovanne, para CFO do banco. Após 23 anos de BB, Marco ultimamente estava como VP no Bank of America na área de investment banking. Seguindo, a maior parte dos novos vice-presidentes que compõem a nova equipe também são funcionários de carreira com décadas de experiência no banco.
O dilema de ser barato
Fora dos holofotes políticos, pelo menos por enquanto, acreditamos que os bons resultados possam animar os investidores a impulsionar as ações do banco. Barato, negociando a patamares bem atraentes com um valuation de 3,3x P/L 2023E e 0,7x P/VP 2022E (sem Americanas), reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço alvo de R$ 52,6. Ao menos, acreditamos que o valuation baixo possa ser um piso para o preço do papel. Nosso target leva em consideração o modelo de Gordon Growth, sendo estimado um ROE de 16,0%, crescimento (g) de 7,0% e custo de capital (Ke) de 17,95%.
Perspectivas para 2023
Esperamos que 2023 seja um ano positivo para a companhia por conta do carrego vindo de 2022, principalmente: (i) carteiras já reprecificadas; (ii) mix mais defensivo com menos pessoa física baixa renda e mais agro e consignado; (iii) custo de funding mais controlado por conta da limitação da taxa da poupança; e (iv) tesouraria sendo beneficiada pelos juros altos (excesso de liquidez aplicada em Selic). Do lado negativo, esperamos uma maior pressão na linha de provisão pela piora do ciclo, mas de forma mais controlada e despesas administrativas devido ao acordo salarial de inflação + 0,5% para 2023. Dessa forma, estimamos um lucro líquido de R$ 34,7b (+11,1% a/a) 2023E vs R$ 32,7b esperado pelo consenso.
Em relação ao caso de Americanas, se considerarmos uma provisão de 50% do montante da dívida após impostos, estimamos que o lucro esperado para 2023 do BB seja reduzido em -1,1%. O que representa uma queda pouco expressiva frente ao realizado pelo Santander e esperado para o Bradesco.
Caso Americanas: menor exposição entre os incumbentes
Importante destacarmos que nossos números base não estão considerando o caso de Americanas no resultado do banco, pois ainda não sabemos quando o BB irá provisionar, podendo ser no 4T22, 1T23 ou até mesmo ao longo de 2023. No entanto, dado o volume baixo de exposição de R$ 1,36b, acreditamos que faça todo sentido provisionar 100% no 4T22, podendo ser similar ao Itaú, 50% com novas provisões e 50% marcadas sob provisões complementares genéricas previamente reportadas. Neste caso, o lucro de 4T22 seria de R$ 8,07b (vs. R$ 8,45 sem Americanas), ROE de 20%, levando o lucro de 2022 a R$ 30,9b e, portanto, tudo mais constante, melhorando o crescimento de lucro para 2023 para 12,5%.
Importante destacar que o Banco do Brasil seria o menos impactado em relação aos outros grandes bancos listados. Por fim, o Capital Nível 1 apresentaria uma queda de -0,1pp, considerando 100% de provisão após impostos.
4T22: Boa rentabilidade continua
Esperamos que o 4T22 não tenha um descolamento grande em relação ao trimestre passado, mantendo o ritmo de crescimento robusto na margem financeira (NII), risco de crédito controlado e carteira de empréstimos sendo puxada pelo agronegócio devido, principalmente, ao Plano Safra. Esperamos também que a despesa seja um pouco maior devido ao dissídio que ocorreu em set/22 que impacta o 4T como um todo. Dessa forma, esperamos um lucro de R$8,4b para o trimestre (4,1% acima do consenso) com ROE de 21%, apresentando um crescimento de +1,1% t/t e +42,5% a/a, ficando dentro do guidance indicado pelo banco para o ano de 2022.
Provisões: Em linha, mas cuidado com Americanas!
Esperamos que as provisões para o 4T22 venham levemente acima do trimestre passado, atingindo o valor de R$ 6,96b (+3,2% t/t e +21,2% a/a). Não esperamos grandes surpresas nessa frente devido ao mix conservador da carteira que é concentrado em grandes empresas e em crédito consignado para pessoa física. Para 2023, esperamos um impacto maior vindo de pessoa física por conta do cenário econômico, mas não esperamos grandes surpresas devido ao mix, sendo estimado um aumento de +24,2% a/a nas provisões líquidas.
Carteira: Agro segue sendo destaque
Esperamos a continuidade no crescimento da carteira de crédito, porém em um ritmo mais brando no t/t devido ao cenário macroeconômico mais conturbado, menor incentivo para realização de investimentos por grandes empresas e maior seletividade para pessoa física visando manter o mix da carteira conservador. Esperamos que o agronegócio continue sendo destaque de crescimento ainda estimulado pelo plano Safra 2022/2023. Assim, projetamos que a carteira de crédito atinja o montante de R$ 912,9b no 4T22(+6,0% t/t e +16,3% a/a).
Para 2023, esperamos que a carteira tenha um crescimento mais comportado devido ao cenário macro desafiador, porém sendo ainda puxado pelo agro que deve continuar sendo estimulado pelo plano Safra. Estimamos uma carteira no montante de R$ 1,0tri 2023E (+9,6% a/a).
Margem Financeira: Juros é bom para tesouraria
Esperamos que a margem financeira seja robusta para o 4T22 devido a (i) reprecificação da carteira nos meses passados que favorece o spread bancário e (ii) tesouraria entregando bons resultados devido as posições favoráveis para cenário de juros altos (basicamente o excesso de liquidez investido em LFTs).
Estimamos que a margem (NII) atinja o montante de R$ 19,9b (+1,5% t/t e +34,2% a/a), ficando dentro do guidance disponibilizado pela companhia.
Esperamos que para 2023 a margem continue robusta, principalmente na frente de tesouraria devido as nossas estimativas de Selic média maior que 2022. Portanto, projetamos um crescimento de +14,2% a/a.
Despesas: Dissídio afeta o tri!
Esperamos que a despesa administrativa total apresente um leve crescimento no 4T22 (+4,2% t/t) devido ao dissídio que aconteceu em set/22. Acreditamos que o acordo salarial já contratado para 2023 continuará pressionando a linha de despesas para o próximo ano. Ainda, o BB está com gastos visando aprimoração de tecnologia, o que deve pressionar as despesas totais para o trimestre e deve continuar em 2023.