A eleição foi decidida, mas e agora? Para o Banco do Brasil (BB), os olhos cautelosos estão voltados para a indicação do próximo presidente do banco, provavelmente a ser anunciado após o anúncio do próximo ministro da Fazenda e antes do dia da posse no próximo 1 de janeiro. Pelo menos foi assim na última vez, quando o nome de Rubem Novaes já era anunciado como novo CEO do banco ao final de novembro de 2018. A própria indicação do próximo ministro da Fazenda irá nos dar uma bela cor de como o novo governo irá preencher a vaga de CEO do banco. A troca de CEO geralmente é acompanhada por mudanças na composição dos vice-presidentes e diretoria.
Apesar da blindagem que o banco construiu ao longo do tempo com inúmeros comitês em colegiado em diversos níveis de decisão, lei das estatais, plano estratégico de 5 anos que deverá ser seguido e estrutura organizacional marcada por profissionais de carreira, as dúvidas de possíveis ingerências políticas irão pairar no ar (para mais detalhes, vide nosso relatório BB Day). Provavelmente, investidores irão olhar o histórico para inferir o grau de risco. Político ou não, o fato é que o banco tomou decisões de precificação e concessão de crédito que induziram seu ROE a despencar para 8,5% em meados de 2016 enquanto seus rivais privados rodavam com o dobro de rentabilidade. Não acreditamos que mesmo aconteça desta vez, mas o risco precisa ser bem monitorado.
Desde 2016, o caminho da recuperação de capital e rentabilidade foi longo e árduo, com cicatrizes até hoje em seu valuation de um desconto de mais de 50% de P/VP e 40% de P/L em relação a seus pares privados (Itaú, Bradesco e Santander). No 2T22, finalmente, o BB entregou um ROE de 20% e um nível de capital superiores a seus pares.
Para o 3T22, acreditamos que o Banco do Brasil deve continuar entregando um bom desempenho com mais um trimestre com ROE de 20%, acima de Santander e Bradesco. Estimamos um lucro robusto, chegando em R$ 7,92b uma melhoria marginal t/t, mas ainda com expansão de 54% a/a. O bom resultado deve ser impulsionado por: (i) carteira crescendo bem (+14% a/a), principalmente no agro; (ii) receita com juros (NII) crescendo mais rápido que carteira de crédito; e (iii) manutenção no nível de despesas. Do lado negativo, esperamos uma aceleração nas provisões para crédito duvidoso, com total anual migrando para o meio do guidance.
Negociando a múltiplos atraentes de 3,3x P/L 23E, 0,68x P/VP 22E e 12,22% de dividend yield, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR nesse momento, com atualização de preço alvo (PA) de R$ 45,4 para R$ 50,0 para final de 2023. O nosso PA é baseado no modelo de Gordon growth, considerando um ROE de longo prazo de 16,0%, taxa de crescimento nominal de 7,0% e um custo de capital (Ke) de 18,67% (refletindo o risco de mudança de management). O nosso PA implica em um valuation de 3,79x P/L 24E e 0,77x P/VP 23E.
Carteira: agro continua com forte crescimento
No crédito, esperamos uma continuidade do ritmo do crescimento t/t, com leve aceleração a/a para 14%. A principal linha continua sendo a agrícola, com evolução de 15,6% a/a, impactado principalmente por uma originação decorrente do Plano Safra.
Nas linhas de pessoa física e empresas vemos uma redução na originação, marcado por um cenário econômico mais conturbado.
Margem financeira: reprecificação da carteira e tesouraria ajudando
A dinâmica de reprecificação da carteira, favorecendo o spread bancário, deve contribuir com o crescimento do NII (margem financeira) de 10% t/t e 20% a/a, chegando em R$ 18,8b. Além disso, a receita de tesouraria também deve se beneficiar visto que 80% dos títulos e valores mobiliários (TVM) são indexados à CDI/TMS (Taxa Média da Selic), posição que corresponde a R$ 326b. Assim, a Selic média maior, saindo de 12,5% no 2T22 para 13,5% no 3T22, deve favorecer essa posição do banco.
Provisões e inadimplência: mix conservador quando comparado aos seus pares
Esperamos maior desembolso do banco para provisões para crédito duvidoso em R$ 4,6b, crescendo 56,8% t/t e 17,3% a/a. O maior impacto mais alto deve ser explicado pela crescente exposição ao segmento de pessoa física (PF), mas sobre uma composição de crédito mais conservadora muito consignado. Estimamos que a inadimplência piore nos segmentos de PF, mas conseguindo se manter bem abaixo de seus pares.
Despesas: inflação, um proxy para o crescimento
Esperamos que as despesas fiquem sob controle, em linha com a inflação, com um crescimento de 4,8% para 2022. O resultado, deve ser puxado principalmente pela despesa de pessoal por conta do dissidio trabalhista impactando o mês de setembro no 3T22 e o 4T22 como um todo. O aumento acordado foi de 8% (com base no INPC). Para 2023 já foi estabelecido um reajuste salarial de inflação + 0,5%.