O Banco do Brasil fechou o 2T23 com o maior lucro líquido (recorrente) do setor pelo segundo trimestre consecutivo, evento impensável há alguns anos. O banco entregou míseros 8,5% de ROE em 2016, se destacando em 10 pp abaixo de seus rivais. Desde então, muitas melhoras foram feitas como mudança de mix, readequação de preços, melhora na concessão de crédito e corte de custo. Nesse 2T23, o BB entregou um lucro recorrente de R$ 8,78b, crescimento de +2,8% t/t e +12,6% a/a) e ROE de 20,8% (+0,3 pp t/t e +0,6 pp a/a), em linha com consenso e nossas estimativas. Acreditamos que o nível atual de rentabilidade possa permear os próximos resultados, e quem sabe 2024, quando esperamos um arrefecimento das provisões.
O resultado foi marcado positivamente por: (i) bom crescimento da carteira de crédito; (ii) margem financeira bruta, impulsionada pela tesouraria e margem com clientes crescendo acima da carteira; (iii) redução do risco legal (R$ 1b 2T23 x R$ 1,5b 1T23). Já no lado negativo, temos: (i) forte evolução da PDD; (ii) receita de prestação de serviços ainda fraca; e (iii) aumento da perda em outros componentes do resultado (R$ 0,3b 1T23 x R$ 0,9b 2T23).
O banco revisou o guidance com alguns itens para melhor e outros detratores do lucro, mas com um impacto neutro no lucro. Os principais destaques foram: do lado positivo, a margem financeira bruta que sai de um crescimento de 17% a 21% para 22% a 26%; e do lado negativo um aumento substancial custo de crédito (provisões liquidas para perdas de crédito) que sai de -R$ 23b a -R$ 19b para -R$27 a -23b. Na margem, acreditamos que o pico de provisão desse ciclo tenha sido nesse trimestre, com uma combinação de agravamentos tanto em PF como PJ e um adicional de R$ 338m a mais de provisão para o caso Americanas, performando 70% de provisão contra a dívida total devida pela varejista. Portanto, apesar do aumento acima do esperado em provisões de crédito esse trimestre, acreditamos em uma melhora gradual, mesmo porque já estamos vendo uma melhora na inadimplência PF desde o 4T22.
Continuamos otimistas com os fundamentos do BB. Acreditamos que o resultado para o ano continue forte, com lucro de R$ 35,3b (+11,1% a/a). Dessa forma reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço alvo de R$ 62,8. O banco continua negociando em múltiplos atrativos, a 3,8x P/L 23E, 3,4x P/L 24E e 0,64x P/VP 23E.
Guindance de 2023: Revisado
O banco revisou o guidance para 2023. Do lado positivo, o BB elevou o crescimento das linhas de margem financeira bruta e carteira de crédito. Do negativo, o BB aumentou a provisão para crédito duvidoso, enquanto a linha de receitas de prestação de serviços foi revisada para baixo.
Considerando o novo guidance, o lucro não sofreu alteração. Acreditamos que o cenário mais provável para o ano seja seguir o meio do guidance, já sinalizado pelo resultado do 1S23 que indica um lucro líquido para na faixa média do guidance para o ano, com a ressalva (upside) que o melhor trimestre do ano, geralmente é o 4T, e que as provisões de hoje feitas a mais podem eventualmente aliviar a necessidade e mais provisões no futuro (2024).
Carteira de Crédito
A carteira de crédito (visão Bacen) cresceu para R$ 921,5b (+0,7% t/t e +13,4% a/a). A carteira continua com forte crescimento quando comparado a seus pares, se mantendo acima do guidance original, mesmo com desaceleração trimestral (+16,1% a/a no 1T23).
O crescimento segue nas principais quebras do negócio. A linha de pessoa física (PF) chegou em R$ 300b (+0,7% a/a e +9,9% t/t), com destaque para o consignado, empréstimo pessoal, cheque especial e renegociação de crédito. A carteira de pessoa jurídica (PJ) alcançou R$ 292b (+3,4% t/t e +10,4% a/a), puxada pelo crédito de investimentos, ACC/ACE, crédito imobiliário e crédito renegociado. O rural segue sendo destaque, apesar de contração na carteira t/t para R$ 291b (-1,8% e +21,2% a/a) – a queda t/t foi consequência da contração na carteira Pronaf, Pronamp e custeio agropecuário, mas no olhar anual segue forte, acima do topo do guidance revisado (+18%). Esperamos uma retomada no crédito rural após a liberação do novo Plano Safra feito ao final de junho.
Margem Financeira (NII)
A margem financeira líquida ficou em R$ 22,9b (+8,2% t/t e 34,2% a/a). Nesse trimestre, pela primeira vez, o banco quebra sua margem financeira (NII) em NII clientes e NII mercado, facilitando a comparação com seus pares. A margem com clientes atingiu o total de R$ 20b com crescimento de 3,0% t/t e 16,8% a/a (acima da expansão do crédito), beneficiado pelo aumento dos saldos médios e pelo spread que ficou em 8,87% (+0,07pp t/t e +0,09pp a/a). Já o grande destaque fica com a margem com mercado que continuou em um ritmo forte, chegando a R$ 2,8b (68,3% t/t e reversão do prejuízo de R$ 103m no 2T22), impactado positivamente pela elevação do resultado de títulos e valores mobiliários alocados na tesouraria e na margem financeira do Banco Patagonia. Diferentemente do Itaú, mas igualmente ao Bradesco, o BB inclui a remuneração do capital de giro na linha com o mercado, portanto a recorrência desse resultado deve se estender nos próximos trimestres.
Serviços
A receita de prestação de serviços atingiu o montante de R$ 8,3b (+1,9% t/t e +5,6% a/a), influenciado positivamente pelas linhas de operações de crédito e garantias (+26,6% t/t e +14,2% a/a) e consórcios (+5,6% t/t e +73,9% a/a). O principal ponto negativo ficou com a linha de administração de fundos que retraiu -1,0% t/t e -4,4% a/a.
Provisão e Inadimplência
A provisão (PDD) atingiu R$ 7,2b no 2T23 (+22,6% e +144,3% a/a), puxado pelo aumento do risco de crédito que expandiu 104,8% t/t e 85,5% a/a.
O risco de crédito passou por alguns movimentos neste trimestre. (I) no trimestre passado 1T23 houve um reperfilamento de dívida de uma empresa do segmento de large corporate com desconstituição de provisão no total de R$ 2,5b, simultaneamente com reconhecimento de perda por imparidade de debênture originada no contexto da mudança do perfil de dívida, ou seja, o risco de crédito do 1T23 normalizado deveria ser acrescida em R$ 2,5b; (II) houve provisionamento adicional de Americanas devido a mudança de risco de F para G, o que requer aumento de provisionamento de 50% para 70% (20% a mais do provisionado), impactando essa linha em R$ 338,8m; (III) a carteira de crédito pessoa física passou por um aumento no risco nas linhas não consignadas.
O índice de inadimplência acima de 90 dias (NPL 90+) ficou em 2,73%, apresentando um aumento de 0,11pp t/t e 0,73pp a/a. Apesar do avanço, o banco está 0,87pp abaixo da inadimplência da indústria, muito por um mix mais defensivo para o momento do ciclo com mais crédito consignado e rural.
No trimestre, o índice do BB foi impactado pelo reconhecimento da inadimplência de Americanas que impactou o NPL 90+ em 0,08pp. Assim, sem considerar a varejista, o índice ficaria em 2,65% (0,95pp abaixo da indústria), apenas um pouco acima dos 2,62% do 1T23. Importante destacar que a inadimplência PF aparentemente teve seu pico no 4T22 com 5,44% melhorando para 5,27% nesse 2T23.
O banco parou de consumir cobertura, com o índice estável sequencialmente em 201,3% (-1,35pp), enquanto o índice da indústria retraiu 13,3pp no mesmo período. No ano, a cobertura do BB foi consumida em 69,7pp.
Despesas Administrativas
Em nossa consolidação, as despesas administrativas totais ficaram em R$ 13,2b (+0,6% t/t e +5,8% a/a). As despesas com pessoal ficaram em R$ 6,9b (+3,0% t/t e +9,0% a/a), com a comparação anual impactada principalmente pelo reajuste salarial de 8% ocorrido no final de 2022. Já as outras despesas administrativas ficaram em R$ 6,3b (-2,0% t/t e +2,6% a/a), sendo o aumento anual impactado pelas maiores despesas com comunicação, processamento e dados.
Capital
O índice de capital principal cresceu para 12,2% (+0,2 pp t/t e +0,4 pp a/a). Já o índice de Basiléia atingiu 15,7% (-0,5 pp t/t e -1,8 pp a/a). A queda do índice de Basiléia é consequência da redução do patrimônio de referência (PR), por conta de redução do capital complementar. Apesar de redução no Basiléia, o banco segue com um indicador saudável, acima dos pares incumbentes, com crescimento do capital principal.
Dividendo
Após a divulgação, o banco anunciou o pagamento de dividendos e JCP complementar, somando aproximadamente R$ 2,3b (1,7% de dividend yield). Os proventos serão pagos dia 30/08/2023 e terá como base a posição acionária do dia 21/08/2023.