Em meio a continuidade da elevação da Selic e virada do ciclo de crédito, o Inter segue sofrendo com o custo de funding e inadimplência. Buscando cada vez mais aumentar a rentabilidade em meio a redução do ritmo de crescimento, o banco pode estar entre a cruz e a espada. Diferentemente do que víamos no passado, acreditamos que restam poucas opções para o Inter se não buscar ser mais rentável. Com o rápido crescimento no crédito, eventual redução do patrimônio e mercado pouco disposto a pagar os múltiplos do passado em fintechs, o banco precisará de rentabilidade para preservar o capital. O crescimento caiu, mas lucro ainda não veio.
O lucro de R$ 28,8m na visão BRGAAP foi em linha com a nossa expectativa e do mercado. Na visão IFRS, que será adotada a partir de então, o Inter teve um lucro de R$ 15,5m, prejudicado pelas provisões mais altas em função da aplicação do método de provisão por perda esperada. No relatório estaremos considerando a visão BRGAAP, que está de acordo com nossas estimativas e projeções atuais.
Em linhas gerais o resultado não teve nada de brilhante. Os destaques negativos foram a continuidade da elevação do custo de funding, que vem impactando severamente a margem financeira e a elevação da inadimplência. Ademais, há sinais de que o crescimento do banco esteja perdendo tração, sinalizado pela queda do ARPAC, menor ritmo de crescimento de clientes e queda do GMV do Inter Shop t/t. Com menor crescimento, acreditamos que o banco terá que começar a aumentar seu preço / takerate e cortar custos para que a rentabilidade venha despontar.
NII: Compressão de margem
O NII do Inter foi de R$ 565m, crescimento de 3,8% t/t e 67,5% a/a. O NII foi beneficiado principalmente pelas receitas com mercado, que cresceram 8,1% t/t e 375,6% a/a em função da maior remuneração do float com a alta da Selic. As receitas com crédito cresceram 24,1% t/t e 80,5% a/a, patamar abaixo da elevação do custo de funding que saltou +38,1% t/t e +440% a/a. A continuidade da rápida elevação do custo de funding pressionou a NIM, que contraiu 0,2 pp t/t.
A piora no custo de funding pode estar sendo pressionado pela gradual mudança do mix de depósitos, com o Inter dependendo cada vez mais de depósitos à prazo. Os depósitos à vista correspondiam a 47% do funding de Inter no 2T21, caindo para 38% (-9 pp a/a) no 2T22.
A carteira do Inter cresceu 13,5% t/t e 68,5% a/a, desacelerando em relação ao ritmo do ano passado. A desaceleração pode ser resultado do maior conservadorismo na concessão após a elevação da inadimplência e reprecificação em algumas linhas de crédito, com destaque para cartões.
Serviços: sustentando crescimento de receita
O desempenho da linha de serviços não foi de todo o mal em termos de receitas, crescendo 12,5% t/t e 89,3% a/a. As receitas de seguros subiram 20,7% t/t e 63% a/a. Em investimentos, Inter Invest, a alta das receitas foi de 8,2% t/t e 116% a/a. Em shopping a alta da receita foi de 14,15% t/t e 101% a/a.
Do lado negativo, os números operacionais foram fracos. Mesmo com easy comps do 1T, que sofre com impactos da sinistralidade, o GMV do Inter Shop caiu 6% t/t. Os ativos sob custódia (AUC) do Interinvest ficaram flat (estáveis) t/t, crescendo 22% a/a. O ARPAC (receita média por cliente ativo) continuou caindo pelo 3º trimestre consecutivo, saindo de R$ 35 no 4T para R$ 33 no 2T22. Outras linhas como número de cartões utilizados e a própria carteira de crédito também vem apresentando forte desaceleração.
PDD: Provisão para perda esperada
As provisões cresceram 4,4% t/t e 121% a/a, correspondendo a 4,52% da carteira de crédito (-0,4 pp t/t e +1,07 pp a/a). A elevação das provisões é resultado da continuidade da elevação da inadimplência. A inadimplência consolidada da carteira (NPL 90) atingiu 3,35% (+0,53 pp t/t e +0,15 pp a/a). Esperamos um pico da inadimplência entre o 3T e 4T.
O Inter passou a reportar o resultado em IFRS após a reorganização societária e migração da base acionária para os EUA. Diferentemente do BRGAAP, no IFRS as provisões são feitas por perda esperada. Na prática, o Inter precisa constituir a provisão no momento da concessão de crédito.
Capital: Ainda confortável, mas pode ter pressão adiante
O capital do Inter (tier 1) atingiu 32,9% (-2,8 pp t/t e +13,3 pp a/a). Além do rápido consumo pelo crescimento da carteira, o capital deve ser prejudicado caso o Inter faça a redução do capital. O Inter anunciou estar estudando a possibilidade de reduzir o capital em R$ 1,15b para amortizar o financiamento obtido para pagamento do cash-out no processo de reorganização societária.
ROE: Buscando eficiência e melhora do ROE
As despesas de Inter cresceram 1,6% t/t e 51,4% a/a. O crescimento abaixo das receitas sinaliza uma busca maior por rentabilidade. Como comentamos, a rentabilidade poderá contribuir para preservar o capital, tendo em vista que ao valuation de 0,9 x P/VP 22 achamos pouco provável que o managment opte por levantar capital via um follow-on, por exemplo.
Além de crescer receitar através da reprecificação da carteira e cobrança de produtos, o Inter deve focar em melhorar a eficiência. A razão custo/receita do Inter (cost-to-income) supera os 70%, patamar elevado se comparada a média dos bancões, que varia dentre 35-40%. Dada mudança de estratégia, incorporamos um menor crescimento de despesas nos próximos anos às nossas projeções. Esperamos um ROE de 2% em 2022 e de 6,6% em 2023, com um cost-to-income atingindo 69% em 23. Após reorganização societária e ajustes nas projeções estamos alterando o nosso preço alvo de Inter para US$ 4,9 por ação (R$ 25,9 por BDR) mantendo recomendação de COMPRAR.