Ontem (16/jan), no final do dia, o Inter surpreendeu o mercado com um fato relevante inesperado, anunciando uma oferta primária de ações (follow-on) de 32 milhões de ações Classe A (8% de diluição), podendo ter um adicional de mais 4,8 milhões de ações (1,2% de diluição adicional) – a oferta será coordenada pelo Bank of America e Goldman Sachs. Em nossas estimativas, considerando as ações adicionais, o volume da oferta pode equivaler a aproximadamente 9% do valor de mercado. Além disso, o banco divulgou um guidance para o 4T23 com um lucro estimado de R$ 150m – R$ 155m e um ROE de 8% – 8,3%, aproximadamente 20% acima do que tínhamos estimado e reflete um aumento no lucro de aproximadamente 40% trimestre a trimestre.
Vale lembrar que as ações Classe A dão direito a 1 voto por ação, enquanto as ações Classe B têm o direito a 10 votos por ação – mantêm a propriedade proporcional e participação de voto quando são emitidas novas ações Classe A. O Inter estima que após a oferta, as ações Classe B representarão aproximadamente 79% do poder de voto combinado das ações em circulação, presumindo-se que não haja subscrição das ações adicionais. No prospecto, o banco destaca que as ações Classe A são negociadas no Brasil via BDRs, mas que não estão sendo ofertadas nesta oferta.
Apesar da notícia ser negativa em termos de fluxo (oferta e demanda) no curto prazo, já que deve segurar o desempenho das ações, acreditamos que o Inter está passando por um forte processo de melhora de rentabilidade evidenciada pelo novo guidance. Nosso preço-alvo ajustado pelo aumento de capital é de R$ 31,7, o que reflete um upside próximo de 32%. O nosso novo preço alvo ajustado considera o aumento do número de ações e o montante de R$ 800m rendendo a taxa Selic a valor presente usando o modelo DDM (dividend discount model).
Guidance: O lado positivo da história
O guidance fornecido pelo banco foi uma surpresa positiva, superando nossas expectativas e as do consenso de mercado. Acreditamos que o lucro esperado representa uma melhora significativa trimestre a trimestre e sinaliza, em nossa avaliação, o comprometimento da gestão em atingir as metas agressivas estabelecidas para 2027 (60 milhões de clientes, 30% de índice de eficiência e 30% de ROE).
Nossa visão: Não era o melhor momento, mas…
Em nossa análise, consideramos que o Inter não tinha a necessidade imediata de uma oferta, uma vez que possui folga relevante de capital, evidenciada por uma sólida Basileia de 23,7%. Com a oferta de 32 milhões de ações (R$ 800 milhões), a Basileia do banco eleva-se para 26,9%. Incluindo o adicional de 4,8 milhões de ações (totalizando R$ 920 milhões), a Basileia pode atingir 27,4%.
Apesar da forte valorização das ações ao longo de 2023 de 148%, acreditamos que, do ponto de vista de capital, o banco não tinha a urgência necessária para realizar a oferta no momento. Dado que as ações do Inter estão sendo negociadas abaixo de 1,5x P/VP, a instituição financeira poderia ter aguardado por um momento mais propício, buscando realizar a oferta em um cenário de múltiplos mais atrativos, conforme já praticado anteriormente pela própria instituição. Em nossa análise, acreditamos que essa decisão poderia ter sido postergada, especialmente considerando a constante melhoria nos resultados trimestre a trimestre da empresa. Mas, entendemos que em momentos cruciais, a escassez de capital pode ser um obstáculo significativo. Portanto, a disponibilidade de capital é sempre bem-vinda, especialmente no contexto de empresas em fase de crescimento.
Uso dos recursos: Razões ainda obscuras
O prospecto destaca que os recursos captados na oferta serão utilizados para fins corporativos gerais e para quitar taxas e despesas relacionadas. O banco espera captar US$ 164,5 milhões (excluindo o adicional), estimando R$ 824,5 milhões (considerando o dólar a R$ 5,0076 e o preço por ação de US$ 5,25) – valores próximos às nossas estimativas. O preço da oferta ainda será definido no processo de bookbuilding.
De acordo com notícias veiculadas, o movimento pode ter como objetivo aumentar a liquidez das ações na Nasdaq, visto que há interesse de investidores internacionais no papel.