Com um prejuízo de -R$ 30m, o resultado do 3T22 do Inter veio mais fraco principalmente por causa da deflação de 1,32% no período que impactou a rentabilidade dos ativos indexados ao IPCA. Caso esse impacto não ocorresse, o banco teria um lucro de R$ 23m. O resultado foi 8,9% abaixo de nossas expectativas bem aquém dos -R$ 7m de prejuízo do mercado. Apesar do banco ter voltado seu foco para rentabilidade recentemente, o trimestre desapontou nesse quesito. No entanto, acreditamos que o Inter deva voltar a ter lucro no 4T22 com uma melhora mais significativa ao longo de 2023, por conta do processo de reprecificação da carteira com a alta da Selic e a volta da inflação do IPCA.
Acreditamos que o banco está fazendo o trabalho para buscar a esperada rentabilidade, com foco em: (i) reprecificação de carteira; (ii) crescimento da carteira de crédito (41% a/a no 3T22); (iii) controle da inadimplência (estável no trimestre); (iv) aumento da receita de serviços. No entanto, vemos desafios em seu caminho como melhoria da eficiência e habilidade de crescer receitas sem perder clientes.
Atualizamos nosso preço-alvo (PA) para R$ 25,1 e reiteramos nossa recomendação de COMPRAR, com um valuation de 10x P/L 23E e 0,8x P/VP 22E, a compressão de sua cotação tornou o valuation em patamares bem mais atrativos do que em tempos anteriores. Nosso PA é baseado em um modelo de dividendos descontados (DDM), payout de 40% do lucro, com um custo de capital de 17,2% e um crescimento de longo prazo (g) de 7% nominal. O nosso PA implica um valuation de 10,9x P/L 24E (sobre o lucro contábil).
IPCA: O bom pode ser ruim as vezes
O banco possui aproximadamente R$ 3,6b indexado ao IPCA, cerca de 34% da carteira de títulos e valores mobiliários (TVM), mais R$ 400m de crédito imobiliário (liquido de LCI) atrelada a esse indicador. A estratégia se provou vantajosa nos trimestres anteriores, com a inflação acelerando, mas com a deflação, o plano se mostrou uma faca de dois gumes. A estimativa do banco é que houve uma perda de -R$ 103m de receita bruta e de -R$ 53m na linha de lucro líquido, em consequência da deflação.
Clientes: desacelerando no trimestre
Como já havíamos levantado no 2T, o avanço da base de clientes e da carteira de crédito vem desacelerando. O número de clientes ativos segue crescendo abaixo dos clientes totais e depósitos à vista vem perdendo participação na composição do funding. A perda de participação dos depósitos a vista pode vir a pressionar o custo de funding, um dos atributos do Inter.
Carteira: Segue com forte crescimento
A carteira do banco segue com bom crescimento, alcançando R$ 21b, aumento de +7,8% t/t e +41,4% a/a, puxado principalmente por crédito pessoal e cartão de crédito (63,1% a/a e 68,4% a/a respectivamente). Ao olharmos a carteira bruta (com a antecipação de recebíveis de cartão de crédito), vemos um crescimento 10,9% t/t e de 47,3% a/a, alcançando R$ 22b. Para o ano, esperamos uma desaceleração no ritmo de crescimento por conta de uma base comparativa mais difícil do 4T21.
Apesar do crescimento de crédito em linhas mais arriscadas (pessoal e cartão de crédito), vemos uma redução da originação nessas linhas por conta do ciclo de crédito mais difícil.
Margem financeira (NII): reprecificando parte da carteira
O NII de R$ 209m cresceu +8,5% t/t, mas caiu -8,8% a/a, principalmente por conta da deflação no período. O movimento do banco de reprecificação dos empréstimos, até agora, já repassou nos produtos de curta duração (cartões, empresas e antecipação de recebíveis), os produtos mais longos, como crédito imobiliário e consignado devem demorar mais tempo.
Serviços e Comissões: Crescimento tímido
A receita de serviços e comissões alcançou R$ 217m, crescendo robustos +6,1% t/t e +76,7% a/a. Os segmentos mais importantes, como Inter Shop, Inter Invest e Inter Seguros apresentaram um leve crescimento no trimestre, de 4,47% t/t.
O Inter Shop, apresentou um crescimento de 9% t/t conseguindo repassar a queda de GMV (R$ 990m 2T22 para R$ 939m no 3T22) por um repasse de 0,7 pp no net take rate (5,1%). No Inter Invest, observamos um crescimento da receita em 14,6% t/t, com adição de R$ 8,6b em ativos sob custódia. No Inter Seguros, vemos uma queda de 11,4% t/t.
O ARPAC (receita média por cliente ativo) caiu de R$ 32 para R$ 29 (-11,3% t/t e -7,8% a/a), motivado pela deflação no trimestre, com a retirada desse evento o indicador permaneceu estável em R$ 33.
Provisão: Mesmo com um ciclo apertado, qualidade continua
As custos com provisões de R$ 263m cresceram 8,5% t/t e 90,7% a/a. O índice de cobertura de cresceu 12pp t/t e 18 pp a/a para um patamar mais confortável de 141%, mais em linha com a média do mercado. Ademias, o banco conseguiu manter a inadimplência (>90 dias) praticamente constante, com um leve aumento de 0,1pp t/t, mesmo com um ciclo de crédito mais apertado.
Despesas: Em linha com a inflação
O avanço nas despesas em 5,5% t/t, chegando em R$ 657m. O maior impacto foi na linha de outras despesas administrativas, principalmente pelo avanço da linha de processamento de dados e informática, 18% t/t e 107,4% a/a. Esse avanço nas despesas prejudicou a eficiência do banco, que subiu para 77,3%, evolução de 6,3 pp t/t e 5,8 pp a/a.
Capital: Continua em um patamar confortável
O capital (nível 1) do banco foi consumido em -3,1 pp t/t e -20,3 pp a/a, chegando em 29,8%, consequência de um forte avanço no crédito, que não foi acompanhado por uma elevação de rentabilidade para repor o capital. No entanto, o indicador está em um patamar saudável, não devendo gerar problemas no curto prazo.