O Inter encerrou o 4T22 com um lucro líquido de R$ 29m, em linha com nossas estimativas de R$ 30m, mas acima das expectativas do mercado em R$ 19,8m. Após vários trimestres rodando em prejuízo, o pequeno lucro ainda não é alto suficiente para suportar um mega gatilho em suas ações, mas ajuda nossa tese de que o banco estaria indo na direção de sua nova retórica: em busca de uma melhora em sua alavancagem operacional com maior equilíbrio entre crescimento e rentabilidade. Este último ainda bem baixo, com um ROE de apenas 1,6% no 4T22 e um rápido consumo de Basiléia (-5,7 pp t/t e -20,2 pp a/a), acreditamos que o banco precise realmente priorizar uma melhora de rentabilidade nos próximos anos para suportar o forte crescimento de carteira sem que necessite de um aumento de capital.
No consolidado do ano de 2022, o banco reportou um prejuízo de -R$ 13m. Estimamos um lucro de R$ 380m em 2023 (ROE de 5,2%) e R$ 888m em 2024 (ROE de 9,9%). Na nossa visão, a volta de resultados positivos e crescentes pode impulsionar novamente as ações do Inter.
Acreditamos que as ações do Inter estão sendo negociadas a múltiplos atraentes com P/VP de 0,5x 22e, P/L de 10,4x 23e, mas caindo rapidamente para 4,4x P/L em 2024. Isso porque esperamos uma volta mais forte da rentabilidade, principalmente em 2024, conforme comentamos em nossas perspectivas para 2023. Dessa forma, mantemos nossa recomendação de COMPRAR com preço alvo de R$ 17,50.
Nossos números de médio prazo estão mais conservadores do que o agressivo Plano 60-30-30 em que o Inter espera chegar com 60 milhões de clientes, 30% de ROE e 30% de índice de eficiência daqui a 5 anos em 2027. Acreditamos que esses números são muito otimistas, ficando bem acima das nossas estimativas para o período.
Em linhas gerais, o Inter tem conseguido aumentar suas receitas, chegando à marca de R$ 1b em receitas líquidas no 4T (+18% t/t e +33% a/a), porém as despesas ainda seguem pressionando a geração de resultado do banco, sendo destaque negativo as despesas com pessoal que aumentaram em +63% a/a.
O 4T22 ainda teve uma ajuda de ativos fiscais na linha de imposto. O resultado antes de imposto continua negativo (-R$ 20m) no trimestre.
Clientes
O Inter apresentou um forte aumento da base de clientes ativos ao longo do tempo, saindo de 5,3m de usuários ativos em 2020 para 12,6m em 2022. Por outro lado, pode-se perceber que o crescimento está desacelerando, saindo de +68% a/a no 4T21 para + 43% a/a no 4T22.
O custo de aquisição do cliente (CAC) não apresentou grandes variações, tendo um aumento de +5,7% a/a, ficando em R$ 30 por cliente.
Porém, a receita média por cliente ativo (ARPAC) está praticamente no mesmo nível do CAC em R$ 31 por cliente, apresentando uma forte redução de -19,8% a/a. Portanto, por mais que o custo de aquisição seja baixo, a receita gerada por cliente também é baixa.
Carteira: Em ritmo de crescimento mais brando
A carteira de crédito segue em ritmo de crescimento, mas de forma mais branda que nos anos passados, chegando a R$ 22,7b (+31,8% a/a e +8,1% t/t) e sendo composta majoritariamente pelas operações de crédito imobiliário, cartão de crédito e crédito pessoal. Para 2023, esperamos que a carteira cresça em um ritmo semelhante.
Margem Financeira (NII): Beneficiado pelo floating
O resultado de juros (NII) atingiu um total de R$ 279m (+33,9% t/t e +26,7% a/a), sendo beneficiado pelo aumento da receita de floating que atingiu um total de R$ 183m no trimestre (+61% a/a)devido ao maior volume de depósitos à vista e uma taxa Selic mais elevada. Ainda, o NII contou com a atuação de reprecificação dos portfólios de longa duração.
Serviços e Comissões: Maior take rate
O resultado líquido de serviços e comissões apresentou um total de R$ 240m (+10% t/t e +57% a/a).
- Inter Shop: apresentou um volume transacionado de R$ 1b, uma redução de -11% a/a, porém o take rate saiu de 8% no 4T21 para 11,2% no 4T22 (+3,1pp).
- Inter Seguros: forte aumento no número de contratos ativos (+13% t/t e +52% a/a).
- Inter Invest: R$ 67,2b de ativos sob custódia (AuC), aumento de +9% t/t e +37% a/a.
- Inter Global: iniciou em 2022 e já possui 1,1m de clientes ativos.
Provisão e Inad: Conforme o esperado
O índice de inadimplência acima de 90 dias ficou em 4,4%, apresentando uma piora de +0,40 pp t/t e +1,4 pp a/a. Já o nível de cobertura atingiu 131,9%, apesar da queda de -9,43 pp t/t e quase nenhuma variação a/a, impactado positivamente pelo crescimento em produtos de baixo risco e pelo mix da carteira.
Com a piora do ciclo de crédito, as despesas com provisões se estabeleceram em R$ 265m, alta de +0,6% t/t e +44,3% a/a.
Despesas Administrativas: Pessoal pressionando o resultado
No 4T22, as despesas administrativas ficaram em R$ 757m (+15% t/t e +11% a/a), puxado pelo crescimento das despesas com pessoal que ficaram em R$ 240m (+36% t/t e +63% a/a) devido ao dissídio e o 13º salário.
No ano, as despesas administrativas somaram o total de R$ 2,7m (+41% a/a), sendo marcado pelo crescimento do volume de operações, ampliação dos serviços e produtos, além do aumento da base de funcionários e clientes.
Capital e Patrimônio Líquido: Evento de cash-out
O Inter reportou um forte índice de Basiléia (Tier 1) de 24,1%, ficando 10,5pp acima dos top 5 bancos de acordo com a instituição, mas com forte compressão de 5,7 pp t/t e 20,2 pp a/a. Porém, o patrimônio líquido do banco, apresentou uma queda de -16% a/a, ficando em R$ 7,1b devido ao evento de reorganização societária de cash-out.