O banco gaúcho reportou um trimestre acima das nossas expectativas em termos de lucro e rentabilidade no 4T21, impulsionados principalmente por menores provisões. Mas o guidance para 2022 nos parece menos otimista, principalmente pela pouca ou não melhora na rentabilidade (ROE no meio do guidance de 11%), implicando um crescimento modesto do lucro em torno de 5%. Do lado mais difícil de interpretação, o banco está com um cenário bem agressivo de crescimento de crédito em torno de 26,5% no meio do guidance, bem acima da média. O lucro recorrente do 4T21 de R$ 258m veio 43% acima das nossas expectativas e 16.7% acima do consenso de mercado, mas 22% abaixo do 4T20. O ROE do ano ficou em 11.4%, um pouco acima do meio do guidance para 2022.
Privatização à vista? 2022 é um ano de eleição para governador do Estado do Rio Grande do Sul em que a discussão sobre a privatização do banco deve vir à tona novamente. Do lado mais positivo, o processo de privatização foi facilitado, não dependendo mais de um plebiscito público ou mudança da constituição. O atual governador, Eduardo Leite admitiu a possibilidade de disputar a reeleição, que até recentemente vinha reiterando que não disputaria. Eduardo privatizou as companhias de distribuição e transmissão de energia do Estado (CEEE-D e CEEE-T), a Sul Gás e está próximo de concluir a privatização da companhia de saneamento do estado, a Corsan. Em dez/21, ele enfatizou que a privatização do Banrisul seria “inevitável”. Contudo, na nossa avaliação, a privatização do banco ainda é distante e impopular no estado.
Crédito: acelerando, mas o guidance é um pouco puxado
Após um primeiro semestre de 2021 sem crescimento, a carteira de crédito acelerou sua expansão no 4T21, terminando o ano com um crescimento de 9,1% a/a e 6,0% t/t. O crescimento veio principalmente do segmento rural, PJ capital de giro e câmbio.
Mas a surpresa veio no guidance de crédito, com o Banrisul estimando um crescimento agressivo da carteira de 24-29% em 2022, bem acima de qualquer outro banco e das estimativas da Febraban de algo em torno de 7% para toda a indústria.
Margem financeira: pressionada com a selic
Pressionada pela elevação das despesas com juros (custo de funding), a margem financeira (receita com juros) do Banrisul caiu 3,5% t/t e 19,5% a/a. Com a elevação da selic o custo de funding cresceu 10,5% t/t e 13,3% a/a no acumulado anual. Em resposta ao aumento de custos, o banco tende a reprecificar a sua carteira de crédito. No entanto, a rápida elevação da selic fez com que o custo de funding subisse mais rapidamente do que o Banrisul foi capaz de reprecificar a sua carteira, gerando uma pressão no spread.
O Banrisul tem ainda mais dificuldade de reprecificar a sua carteira por ela ter um crescimento menor que o mercado. O menor crescimento diminui o ritmo de originação de créditos a novas taxas. A carteira do Banrisul cresceu somente 9,1% a/a, em comparação a 15,1% do Banco do Brasil.
Provisão: salvação do trimestre
As despesas de provisão para perdas de crédito tiveram queda de 45,3% t/t e 61,2% a/a. O bom desempenho se deve ao alto índice de provisionamento e inadimplência sob controle. O índice de cobertura de 90 dias do Banrisul é de 309,7% em comparação a 247,8% da média do mercado. Como o índice de cobertura se refere a quantidade de reservas para perdas de crédito em relação à quantidade de créditos em atraso (90d), o alto índice de cobertura possibilita menores provisões futuras.
A inadimplência fechou o ano a 2,07%, caindo 0,14 pp t/t e 0,25 pp a/a. A tendência é contrária ao que vemos nos bancos privados. A queda na inadimplência pode estar atrelada a carteira de menor risco do banco, com presença forte no consignado. Apesar de esperarmos uma elevação da inadimplência para 2022, o patamar mais baixo no trimestre contribuiu para o menor provisionamento.
Receitas de tarifas: ajudada pela sazonalidade
As receitas de tarifas cresceram 4% t/t e caíram 1% a/a. A elevação t/t se deve ao crescimento das receitas de adquirência. O último trimestre do ano geralmente tem um desempenho mais forte em função do período de festas. Além do efeito sazonal, o maior índice de vacinação e enfraquecimento da pandemia no 4T21, geraram maior circulação e consumo.
As receitas de tarifas vêm sendo pressionadas principalmente por competição, refletidas aqui pela pequena compressão a/a. Além disso, o Pix reduz volumes do débito, TED/DOC e tarifas bancárias.
Despesas: impactadas pelo dissídio
As despesas cresceram 3,3% t/t e 2,6% a/a. O crescimento t/t ocorreu em função do impacto do dissídio salarial dos bancários, que afetou o 3T somente no mês de setembro. Do lado positivo, os planos de demissão voluntária (PDV) contribuíram para a queda de 3,2% a/a das despesas de pessoal em 2021 consolidado.
As outras despesas administrativas tiveram um aumento de 5,9% t/t, puxadas pelo crescimento das despesas com serviços terceiros, propaganda, promoções e aluguéis.
Guidance: surpreendentemente forte no crédito
No meio do guidance, o Banrisul projeta um ROE de 11%, que implica em um lucro de cerca de R$ 1,03b, um crescimento modesto de 3,9% a/a. O ROE (retorno sobre patrimonio líquido médio) do guidance está faixa entre 9% e 13%.
Nossa surpresa com o guidance foi o crescimento do crédito. O banco projeta um crescimento na faixa entre 24% a 29%. O crescimento está muito acima dos 9,1% a/a de 2021. Com um cenário macroeconômico adverso de baixo crescimento do PIB, inflação elevada, juros altos e aumento da inadimplência, na nossa avaliação, será difícil entregar tamanho avanço na carteira. O guidance de crescimento da carteira mostra uma desconexão das estimativas da Febraban de apenas 6,7% de crescimento de crédito para todo o sistema.
O crescimento da margem financeira foi projetado pelo banco na faixa entre 4,5% e 8,5%, bem abaixo da carteira de crédito de 26,5% no ponto médio. O diferencial tão grande de crescimento nos deixa intrigados se considerarmos a desaceleração da elevação da Selic e gradativa reprecificação da carteira em 2022.
Índice de capital: seguiu sólido e crescendo
Um destaque positivo para o trimestre foi o nível de capital. O índice de capital do Banrisul cresceu 3,9 pp t/t e 3,42 pp a/a. O patamar de 18,4% supera 15,2% do Banco do Brasil e concorrentes privados.
Uma das razões para o crescimento do capital é o aumento 59% t/t da dívida subordinada (Tier II) em R$ 1,7b em dez/21. Já o índice de capital nível 1 fechou o ano em sólidos 15,04%, crescendo 0,5 pp t/t e 0,05 pp a/a.
Cartões: apresentou melhoras
Na parte de cartões, o Banrisul teve um desempenho positivo, com o volume processado no crédito crescendo 7,8% a/a em 12 meses. Nos cartões atrelados a conta, com destaque para o Banricompras, o volume de transações avançou 9,8% no acumulado de 12 meses.
Como consequência do avanço operacional, a receita do Banrisul Cartões cresceu 9,6% a/a no acumulado anual. Já o lucro teve melhora de 14,5% a/a em 2021.