O Banrisul reportou mais um resultado volátil com queda em rentabilidade e sem uma clara tendência para os próximos trimestres. O lucro líquido ajustado do 3T22 do Banrisul foi de R$ 138m, -40% menor t/t, -20% mais fraco a/a e -28% inferior as nossas estimativas de R$ 191m. As receitas seguem pressionadas pela Selic mais alta, enquanto despesas com provisões continuam em patamar elevado e com certa volatilidade. Mas a maior surpresa foi o aumento das despesas com pessoal de +12,9% t/t e 20% a/a por conta do dissídio salarial e pelo acordo coletivo de pagamento único de cesta básica (R$ 1.000/funcionário). Com a queda significativa do lucro, o principal indicador de rentabilidade (ROE), saiu de 10,12% para 6,06% (-4,06 pp t/t). Se considerarmos o evento não-recorrente do programa de desligamento voluntário, o impacto negativo seria bem maior e o lucro cairia para R$ 72m.
Do lado positivo, a inadimplência continua caindo, banco aumentou seu nível de provisionamento (cobertura) para patamares maiores que a do mercado e o capital do banco continua a níveis altos.
A despeito do crescimento de crédito, as receitas com juros (NII) continuam patinando, crescendo apenas 3,3% t/t mas com queda de -5,3% a/a devido a maior taxa média de Selic no trimestre (13,6% 3T22 vs 12,6% 2T22), o que acarretou em aumento na linha de despesas financeiras.
A provisão de devedores duvidosos (PDD), apresentou aumento de 17,6% t/t. O crescimento se dá pela rolagem da carteira por níveis de rating e crescimento das operações de crédito.
Mesmo com o lucro menor no 3T22 devido, o Banrisul manteve seu guidance para 2022.
Revisamos nosso preço alvo de R$ 12,00 (2022) para R$13,00 (2023) e reiteramos nossa recomendação de MANTER os papéis BRSR6. Nosso target se baseia no modelo de Gordon Growth com uma probabilidade de privatização ao preço de 2x P/VP de hoje, utilizamos ROE de 12%, crescimento de 5%, custo de capital (Ke) de 16,2%, e 3% de probabilidade de privatização.
Cenário eleitoral: Sem privatização!
Do lado negativo para uma potencial valorização das ações, o cenário de privatização foi deixado de lado após o discurso do governador reeleito Eduardo Leite de que não tem a intenção de privatizar o banco.
Comparação mais difícil
Para piorar a comparação, houve uma redução considerável na linha de “outras receitas” de -73,6% t/t, devido a: (i) uma reversão de provisão no montante de R$ 159m ocorrido no 2T22 referentes a anulação de uma multa em operações de câmbio nos anos de 1987 a 1989; (ii) e R$ 104m devido a reclassificação da equivalência patrimonial no trimestre passado relativo a venda do Banrisul USA. Na nossa visão, poderíamos ter considerados esses dois ganhos como não-recorrente no 2T22 também, mas o banco decidiu deixar como recorrente para fazer frente ao forte aumento provisões de despesas trabalhistas e riscos fiscais.
Carteira de Crédito: O Agro é pop!
A carteira de crédito apresentou crescimento de +6,4% t/t e +21,7% a/a, sendo impulsionada no tri, principalmente, pela carteira rural que aumentou em +23,8%t/t e +52,2% a/a, impactado pelo Plano Safra 2022/2023. A carteira também apresentou melhoras na questão de risco, ficando alocada em 93,1% em ratings AA-C.
NII: Selic prejudica resultado
A receita de juros (NII) apresentou leve crescimento no t/t (+3,3%), o resultado ocorre pelo aumento nas despesas de operações de captação no mercado (+11,4% t/t) e pelo crescimento mais fraco das receitas de intermediação financeira que evoluíram apenas +7,6% t/t. Na comparação a/a observamos queda de -5,3% ocasionado por um aumento mais relevante nas despesas do que nas receitas, vindas principalmente das operações de captação no mercado que teve forte impacto do aumento da taxa de juros (Selic).
Receita de Tarifas: Sem forças para crescer
A receita de prestação de serviços e tarifas bancárias manteve-se de lado t/t (+0,7%) mas com um leve crescimento no de +5,3% a/a. Os principais destaques negativos no a/a foram as receitas de cartão de crédito e consórcio, ambos apresentaram uma desaceleração de -13,9%. O destaque positivo foi o Banrisul Pagamentos com crescimento de +15,8% a/a.
PDD: Aumentou, mas inadimplência é saudável
As despesas de provisão para perdas de crédito (PDD) apresentou aumento de +17,6 t/t, ocasionado pela rolagem da carteira por níveis de rating e incremento nas operações de crédito.
Apesar do aumento na PDD, o banco tem conseguido reduzir seu nível de inadimplência acima de 90 dias, saindo de 1,78% no 2T22 para 1,58% no 3T22. Esse movimento de queda no índice demonstra a resiliência da carteira de crédito da companhia, mesmo em um cenário macroeconômico desafiador, fortalecida pela maior concentração em crédito consignado e em ratings AA-C. Ainda, a empresa conta com um excelente nível de cobertura (324,9%).
Despesas Administrativas: Cuidado com os não recorrentes
As despesas administrativas totais apresentaram queda de -18,1% t/t, mas poderia ter uma redução mais expressiva caso não fosse o aumento considerável nas despesas de pessoal (+12,9% t/t) devido ao dissídio salarial e acordo coletivo de cesta básica (R$ 1.000,00/funcionário uma única vez).
Se considerarmos os dados não ajustados, o impacto em despesas pessoais seria mais agressivo devido ao programa de demissão voluntária (PDV) que tem um impacto de aproximadamente R$ 119,8m no 3T22. Porém, a companhia estima uma economia todo ano de aproximadamente R$ 116,9m após o processo de PDV.
A principal causa da redução das despesas administrativas totais vieram da linha de “outras despesas operacionais” (-61,5% t/t) que foi impactada pelas provisões feitas no 2T22 (trabalhista e riscos fiscais).
Capital: Acima do mínimo regulatório
O Banrisul finalizou o 3T22 com Índice de Basiléia em 16,7%, sendo 6,2pp acima do nível mínimo regulatório com os adicionais de capital principal (10,5%). O Índice de Capital Nível I encerrou o trimestre em 13,8% (5,3pp acima do mínimo regulatório).