A rentabilidade do Banrisul permaneceu fragilizada no 3T23, registrando um ROE de apenas 5,4%, representando uma significativa deterioração de -4,3 pp t/t. O Banrisul apresentou um lucro líquido recorrente de apenas R$ 127 milhões no trimestre, refletindo uma queda expressiva de -43,8% t/t e -7,1% a/a. O desempenho ficou bem abaixo das nossas estimativas de R$ 185 milhões (-31%) e também da média do consenso de R$ 203 milhões (-37%). O resultado poderia ser ainda mais fraco, não fosse o crédito tributário de imposto de renda e contribuição social na ordem de R$ 35,65m.
Contudo, o banco reafirmou o guidance apresentado no 1S23, indicando que podemos esperar uma recuperação no 4T23, embora provavelmente na extremidade inferior das expectativas. Em nossas projeções, consideramos o cenário mais desafiador para 2023 em relação ao guidance, podendo ficar ligeiramente abaixo do ROE de 9%, que é a extremidade inferior do guidance (9%-13%). O lucro acumulado nos 9 primeiros meses de 2023 totalizou R$ 567 milhões, o que implica um lucro de aproximadamente R$ 300 milhões (ROE de 12,5%) no 4T23 para atingir os 9% de ROE, um resultado desafiador diante das tendências observadas no 3T23.
O trimestre foi marcado por:
- Menor receita líquida de juros (NII);
- Maiores despesas administrativas totais (incluindo aumento relevante de provisões trabalhistas, fiscais e cíveis);
- Maior fluxo das despesas de provisão para perdas de crédito;
- Imposto de renda beneficiando a geração de lucro líquido.
Para 2024, projetamos que as provisões se normalizarão, e os custos de captação devem diminuir devido à queda da taxa Selic. Estes fatores devem impulsionar o lucro e aprimorar a rentabilidade, resultando em um ROE estimado de 12,0% (vs. aproximadamente 9% em 2023E). Adicionalmente, prevemos que os níveis de inadimplência, tanto em pessoa física quanto em empresas, começarão a se estabilizar. Isso pode possibilitar que o banco expanda sua carteira de clientes a um ritmo mais acelerado em comparação com 2023.
Apesar do cenário mais desafiador previsto para 2023 em comparação com nossas projeções anteriores, acreditamos que o panorama de 2024 pode ser consideravelmente melhor para o Banrisul. Essa melhoria pode resultar em um aumento da rentabilidade, atuando como um catalisador para a valorização de suas ações. As ações do Banrisul estão sendo negociadas com múltiplos bastante atrativos, com apenas 0,48x P/VP em 2023E, 3,92x P/L em 2024E e um dividend yield de 12,8% em 2024E.
Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR, estabelecendo um preço-alvo de R$ 16,30 para o final de 2024 (considerando uma probabilidade de privatização de 0%), apresentando um upside de 42,5%.
Banrisul (BRSR6) | 3T23: Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) é o destaque negativo
Carteira de Crédito: Agronegócio segura a desaceleração
A carteira de crédito apresentou um total de R$ 52,5b (+1,9% t/t e +10,6% a/a), puxada principalmente pelo crédito rural e crédito imobiliário. A linha de crédito rural segue sendo uma das prioridades do banco, apresentando uma expansão de 60% a/a. O crédito rural já representa 20% do total da carteira do Banrisul, aumento de 1pp t/t e 6pp a/a. Já o crédito comercial está em desaceleração, apresentando expansão de apenas 0,2% t/t e 1,6% vs o crescimento de 6% no 2T23 e 11% a/a no 1T23.
Receita com juros (NII): Impactado pelas despesas de captação
A receita de juros (NII) do Banrisul atingiu R$ 1,4 bilhão no 3T23, representando uma redução de -1,7% t/t e um aumento significativo de +18,9% a/a. Durante o trimestre, as despesas relacionadas a operações de captação no mercado (+17% t/t) e operações de empréstimos, cessões e repasses (+13% t/t) expandiram-se mais do que as receitas de intermediação financeira, que cresceram apenas 10% t/t. É relevante observar que a linha de operações de crédito, arrendamento mercantil e outros créditos registrou um crescimento mais modesto, de apenas 2% t/t.
Receita de tarifas: Bom crescimento t/t
As receitas de tarifas finalizaram o 3T23 em R$ 575m (7,8% t/t e 10,1% a/a). O aumento das receitas no trimestre está relacionado ao cartão de crédito e da Banrisul Pagamentos.
Provisão (PDD): Piora de 11% t/t
Neste trimestre, as provisões apresentaram um forte aumento de +10,9% t/t e +83,1% a/a, ficando em R$ 436m. Esse aumento é principalmente atribuído à renovação da carteira por níveis de classificação e ao crescimento das operações de crédito em atraso, ocorrendo em um contexto de expansão das operações de crédito.
O índice de inadimplência acima de 90 dias (NPL 90+) ficou em 2,0%, estável t/t e +0,4pp a/a. Já o índice de cobertura foi consumido em -3,8pp t/t e -71,5pp a/a, ficando em 253,5%, mas ainda em patamares confortavelmente elevados.
Despesas Administrativas: Impactado pelas outras despesas operacionais
As despesas administrativas totais ficaram em R$ 1,6b (+5,8% t/t e +1,3% a/a). O impacto trimestral é principalmente atribuído ao crescimento nas despesas relacionadas ao processamento de dados, serviços técnicos especializados e outras despesas operacionais (incluindo principalmente provisões trabalhistas, fiscais e cíveis).
Imposto: Contribuindo para o lucro líquido
Neste trimestre, o Banrisul teve uma alíquota de imposto de -38,9%, ou seja, uma alíquota que beneficiou a geração de lucro líquido com créditos tributários totais de R$ 35,7m.
Capital: Sem mudanças
O Índice de Basileia atingiu 16,1% (estável t/t e -0,6pp a/a), ultrapassando o mínimo regulatório em 5,6 pp. O Índice de Capital Principal e o Índice de Nível I encerraram em 13,4%, superando confortavelmente o mínimo regulatório em 6,4 pp e 4,9 pp, respectivamente.