O lucro líquido recorrente do Banrisul de R$ 251m no 4T22 mostrou uma boa recuperação de +83% t/t (-3% a/a), em linha com as nossas expectativas de R$ 249m e 12% acima do consenso de mercado. Apesar da melhora, o ROE de apenas 10,9% do 4T22 continua pressionado por conta do aumento no custo de funding com a alta da Selic. Já no consolidado do ano, o lucro líquido recorrente foi de R$ 781m, apresentando uma queda de -20,4% a/a. O resultado consolidado de 2022 mais fraco que 2021 ocorreu por:
- Redução da receita com juros.
- Maiores dados de provisão para perdas de crédito.
- Maiores receitas de prestação de serviços e tarifas.
- Maiores despesas administrativas.
- Aumento nas despesas com provisões trabalhistas, fiscais e cíveis.
- Crescimento na linha de outras receitas.
- Impostos.
Importante destacar que o trimestre anterior do banco foi impactado pelo programa de demissão voluntária, o que acabou puxando muito o resultado do ano para baixo, impactando o lucro do ano consolidado em R$ 65,9m.
O índice de rentabilidade (ROE) reportado de 10,9% no 4T22 continuou fraco, principalmente quando comparado com os outros bancos listados e o próprio histórico do Banrisul. Com sua rentabilidade ainda abaixo de seu custo de capital, os múltiplos de valuation continuam deprimidos, negociando em 4,2x P/L 2023E e 0,4x P/VP 2022. Ainda, a possível privatização foi deixada de lado pelo governador do Rio Grande do Sul (Eduardo Leite). Por isso, sem grandes gatilhos para impulsionar o preço das ações no curto prazo, reiteramos nossa recomendação de MANTER com preço alvo de R$ 11,2.
No entanto, do lado mais positivo, acreditamos que a estabilização da Selic nesse patamar dá um certo folego ao funding do banco para melhorar seus resultados, apesar da potencial piora no ciclo de inadimplência. Indicado pelo próprio guidance da empresa, esperamos uma melhora nos resultados de 2023 e 2024. A magnitude e velocidade da melhora que nos resta confirmar nos desdobramentos dos próximos trimestres. Além do valuation descontado, outro ponto atraente seria o dividend yield de 13% para 2023, já que o banco aumentou o payout de dividendos de 40% para 50% para maximizar o pagamento de JCP.
Guidance 2023: Deve melhorar
O guidance fornecido para 2023 sinaliza uma desaceleração na concessão de crédito, refletindo a piora do ciclo de crédito, com a carteira total crescendo entre 10-15%, mas acima das estimativas da FEBRABAN de 8,2% para o mercado. Do lado positivo, o banco enxerga uma melhora de rentabilidade com o ROE saltando de 8,6% em 2022 para 11-15% em 2023. Nos nossos modelos, temos 11% no momento. Lembrando que o ROE de 2022 de 8,6% ficou bem abaixo da estimativa inicial entre 9-13%.
Carteira de Crédito
A carteira fechou o ano de 2022 em R$ 49b, com crescimento de 3,5% t/t e 19,4% a/a, sendo impulsionada no trimestre pelo crédito rural, com evolução de 17,4% t/t e 62,9% a/a.
Apesar da carteira ter crescido substancialmente em relação a 2021, o crescimento foi abaixo da parte inferior do guidance de 24%-29%, seja no geral, ou em linhas mais importantes, como crédito comercial pessoa física (PF) e pessoa jurídica (PJ). Desse modo, a forte expansão do segmento rural não foi suficiente para compensar o crescimento mais contido em outras linhas.
Para 2023, acreditamos que o guidance de 10%-15% seja mais factível de ser cumprido, diferente do orçado para 2022, que em nossa visão era difícil de ser alcançado, visto que demandaria uma evolução bem acima da média dos pares.
Receita com Juros (NII)
A receita com juros (NII) concluiu o 4T22 em 1,3b (+11,2% t/t e +9,1% a/a), finalizando o ano de 2022 em R$ 4,7b (-3,6%) a/a. Do lado positivo, o NII ao longo do ano foi marcado pelo aumento da carteira de crédito e pela maior taxa de juros, beneficiando a receita pela reprecificação da carteira e volume das operações. Porém, a elevada Selic aumentou significativamente o custo de captação (funding) que apresentou um crescimento de +143,3% a/a no consolidado de 2022, amenizando o resultado de receita de juros
Receita de tarifas
As receitas de tarifas apresentaram um crescimento de +5,5% t/t e +6,8% a/a no 4T22, sendo que no consolidado do ano de 2022 apresentou um aumento de +7,6% a/a.
A linha foi marcada pelo Banrisul Pagamentos e receitas com administração de fundos, mas que foram amenizados pela redução da taxa de administração de consórcios e cartão de crédito.
Provisão (PDD): Aumentou
Apesar do Banrisul ter comunicado via fato relevante que não tem exposição aos créditos tóxicos de Americanas, o banco apresentou um aumento nas provisões em 18,5% t/t e 81,1% a/a. O aumento deve-se a rolagem dos créditos para níveis de ratings inferiores, o que obriga o banco a provisionar uma porcentagem maior do total da dívida, acrescido de um aumento na carteira de crédito. Pode-se notar que o banco teve uma redução de R$ 9,3b t/t na classificação de risco E e aumentou em R$ 15,4b a letra F na comparação t/t.
Despesas administrativas
As despesas administrativas totais caíram em -2,0% t/t, mas com alta de +2,5% a/a. Apesar do dissídio ocorrido em set/22 que impacta o 4T como um todo, no t/t houve uma redução de outras despesas como serviços técnicos, serviços de terceiros, processamento de dados, segurança e outros. Ainda, há o impacto do programa de demissão voluntária que reduz o número de funcionários para o 4T22, reduzindo, portanto, a despesa com pessoal.
Capital: Confortável como sempre
No 4T22, o Índice de Basileia alcançou 17,4%, em um patamar confortável, bem acima do regulatório (10,5%). Apesar disso, quando comparado ao ano de 2021, o mesmo índice apresentou uma redução de -0,99 pp (18,4% 2021 x 17,4% 2022).
Acreditamos que o principal detrator de capital, em uma comparação a/a, tenha sido a rápida evolução da carteira de crédito, do lado do risco, mas que não teve um acompanhamento da evolução da rentabilidade, frente a uma margem financeira mais pressionada no ano.