O Banrisul registrou um lucro líquido de R$ 304m, entregando um crescimento substancial de +139% t/t e +21% a/a. Esperávamos uma melhora, ainda assim, o lucro ficou 8,5% acima das nossas expectativas e 15% acima das projeções do mercado. A rentabilidade (ROE) de 12,6%, saltou 7,3pp t/t, mas finaliza o ano na faixa baixa do guidance em 9% por conta dos fracos resultados nos trimestres anteriores.
Em novembro de 2023, uma nova gestão assumiu a liderança do banco, marcado pela entrada de Luiz Gonzaga como CFO e outros três profissionais de carreira do banco em cargos executivos. Apesar da recente transição, a nova equipe conseguiu apresentar melhorias no banco, especialmente com ajustes na tesouraria, na equipe de vendas, recuperação do crédito, e processo de aprovação do consignado estadual, que aumenta a receita de juros e diminui despesa com provisões. Além disso, o 4T23 não foi impactado por eventos pontuais que ocorreram no trimestre anterior.
Os principais impactos positivos no trimestre foram: (i) Aumento da margem financeira; (ii) redução nas despesas de provisão para perdas de crédito; (iii) crescimento das receitas de prestação de serviços. Do lado negativo: (i) aumento das despesas administrativas; (ii) incremento nas despesas outras despesas (provisões trabalhistas fiscais e cíveis); e (iii) impacto tributário e PPR resultante.
Para 2024, estimamos que o banco apresentará um desempenho operacional significativamente mais atrativo em comparação a 2023, com lucro crescendo 40% a/a chegando a R$ 1,2 bilhão, elevando a rentabilidade para 12,2% – ainda baixa, porem com uma melhora de +3,1pp a/a). Acreditamos que 2024 será caracterizado por um maior controle das despesas com provisão para devedores duvidosos (PDD) e que a receita líquida de juros terá um sólido crescimento ano a ano, impulsionada por maiores spreads e menores custos de captação (funding), em parte devido à queda da taxa Selic.
Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de COMPRA, com um ajuste no preço-alvo de R$ 16,30 para R$ 17,60. Vemos as ações descontadas, sendo negociadas a apenas 5,4x P/L 2024E e 0,47x P/VP 23. Nosso preço-alvo leva em consideração o modelo de Gordon Growth, considerando um ROE de 13%, um crescimento (g) de 6,5%, e um custo de capital (Ke) de 15,75%. Estimamos um dividend yield de 10,1% para 2024.
Guidance: Menos detalhes
Para esse ano de 2024, o Banrisul retirou algumas linhas importantes de projeção como o ROE, que possibilitava nossa projeção de lucro para o ano em cima do guidance. No entanto, acreditamos que o ano deve ser de forte crescimento de lucro devido à expectativa robusta de expansão da margem financeira (+25% a +30% a/a) e despesas mais controladas, representadas tanto pela provisão de crédito quanto pelas despesas administrativas. Em nossas projeções, consideramos um lucro de R$ 1,2b (com nossa margem estando mais conservadora que o guidance) para 2024 (+40% a/a), chegando a um ROE de 12,2% (+3,1pp a/a).
Em relação ao guidance de 2023, o banco entregou todas as linhas dentro das expectativas revistas no 1S23, com exceção na margem financeira que ficou 0,4pp abaixo das projeções. Além disso, a carteira de crédito que ficou dentro das expectativas teve uma mudança na composição, deixando o agro acima das projeções e pessoa física e jurídica com um desempenho abaixo das estimativas.
Carteira: Guidance aponta desaceleração em 2024; suspeitamos que seja no agro
No trimestre, a carteira de crédito cresceu +2,3% t/t e +9,3% a/a, ficando em R$ 53,67m e atingindo a faixa baixa do guidance. A carteira foi beneficiada no 4T23 especialmente pelas linhas de capital de giro (+2,7% t/t), imobiliário (+4,0% t/t), rural (+5,7% t/t) e outros em pessoa física (+7,0% t/t). Do lado negativo, o consignado contraiu -1,3% t/t.
Para 2024, esperamos uma expansão de +5,5% a/a, impactado pela menor expectativa de crescimento do agro que deve permanecer nominalmente próximo dos níveis atuais.
Receita Líquida de Juros (NII): Cresce mais que o crédito para 2024
No 4T23, a receita líquida de juros (NII) aumentou +7,8% t/t e +15,3% a/a, totalizando R$ 1,48b e fechando o ano na faixa baixa do guidance. O trimestre foi beneficiado por algumas medidas da nova gestão como a recuperação de crédito baixados para prejuízo e receitas do crédito comercial PF.
Para 2024, esperamos uma expansão de +22,2% a/a no NII, beneficiado por uma melhora no custo de captação (funding) e maiores spreads.
Tarifas: Em linha como inflação para 2024
No trimestre, a receita com tarifas cresceu +5,1% t/t e +9,7% a/a, totalizando R$ 604m. O trimestre foi impactado positivamente pelo aumento das receitas da Banrisul Pagamentos (+6,5% t/t e +7,8% a/a), comissões de corretagem de seguros (+4,9% t/t e -0,7% a/a) e demais receitas (+7,8% t/t e +37,1% a/a).
Para 2024, vemos a linha crescendo em linha com a inflação, próximo de +3,8% a/a.
Despesas
Para o 4T23, as despesas administrativas totais atingiram R$ 1,6b (+4,5% t/t e 12,8% a/a). O trimestre foi impactado em parte pela despesa com pessoal (+2,1% t/t e +5,8% a/a), impactado dissídio e contratação de novos empregados. Além disso, as outras despesas administrativas (+3,7% t/t e +8,8% a/a) sofreram pressão do aumento nas despesas com manutenção e conservação de bens, comunicações, serviços de terceiros e técnicos especializados e outros. Por fim, as outras despesas operacionais (+9,6% t/t +42,0% a/a) foram impactadas por provisões cíveis, fiscais e trabalhistas, além do remensuramento do passivo atuarial.
Para 2024, projetamos que as despesas administrativas totais cresçam um pouco acima da inflação em +7,1% a/a.
Despesas de provisão (PDD)
No trimestre, as provisões de devedores duvidosos (PDD) apresentaram uma melhora significativa de -50,2% t/t e -23,1% a/a, ficando em R$ 217m. O trimestre foi beneficiado pela rolagem da carteira por níveis de rating, liquidação de operações de crédito que estavam 100% provisionadas e revisão na política de provisionamento para o crédito rural.
O índice de inadimplência acima de 90 dias ficou em 1,95%, queda de -0,04pp t/t, mas com um aumento considerável de 0,37pp a/a. Já o índice de cobertura apresentou um consumo de -7,8pp t/t e -68pp a/a, ficando em 245,6% (níveis ainda extremamente satisfatórios).
Para 2024, estimamos que a PDD fique em R$1,58b (+19,3% a/a) devido a menores recuperações de crédito e crescimento em linhas mais arriscadas.
Imposto
Para o 4T23, a alíquota de imposto foi de 32%, assim não foi ajudado pela alíquota invertida de imposto como no trimestre passado.
Para 2024, esperamos que a alíquota fique próximo de 27,6%, beneficiada em parte pelo pagamento de JCP.
Capital
O Índice de Basileia atingiu 16,8% (+0,7pp t/t e -0,8pp a/a), ultrapassando o mínimo regulatório em 6,3 pp. O Índice de Capital Principal e o Índice de Nível I encerraram em 13,6%, superando confortavelmente o mínimo regulatório em 6,6 pp e 5,1 pp, respectivamente. O capital nível I foi beneficiado no trimestre pelo lucro líquido e efeito dos ajustes prudenciais.