A BB Seguridade reportou um lucro líquido recorrente de R$ 1,87 bilhões, refletindo um crescimento de +1,5% t/t e +1,6% a/a. O desempenho do trimestre esteve alinhado com nossas estimativas, apresentando uma variação de -0,7%, e com o consenso de mercado, com uma diferença de -1,8%. Apesar do impacto do desastre no Rio Grande do Sul, que afetou particularmente a sinistralidade do Rural e Habitacional, o lucro manteve-se resiliente. Esperamos que parte dos sinistros do RS sejam recuperados nos próximos meses, podendo reverter parte da sinistralidade. O evento do RS resultou em 5 mil acionamentos e R$ 225m em despesas de sinistros.
A expansão do lucro anual ocorreu devido ao aumento das receitas de corretagem da Brasilseg (+14,5% a/a) e Brasilprev (+17,7% a/a). Além disso, a unidade seguradora registrou crescimento nos prêmios ganhos (+3,8%) e uma leve redução no índice de sinistralidade com resseguros. A Brasilcap também teve uma melhora na alíquota de imposto e uma expansão no resultado financeiro. No lado negativo, o índice de sinistralidade sem resseguros da unidade seguradora aumentou de forma significativa tanto em comparação trimestral quanto anual, em grande parte devido aos eventos ocorridos no Rio Grande do Sul. Além disso, os prêmios emitidos pela seguradora apresentaram um desempenho fraco, com uma queda de -12,5% t/t e -4,8% a/a.
Do ponto de vista contábil, o trimestre foi impactado por um evento extraordinário: a Provisão Complementar de Cobertura (PCC) de R$ 129 milhões (líquido de imposto) na unidade de Previdência. Esse ajuste foi necessário em função da Circular 678 da SUSEP/2022, que introduziu mudanças significativas na regulamentação de provisões técnicas, teste de adequação de passivos (TAP), capitais de risco, entre outros aspectos. No lucro líquido da holding, o impacto total foi de R$ 97 milhões. Esses ajustes foram considerados não-recorrentes tanto para a BrasilPrev quanto para a BB Seguridade.
Durante a conference call, o CEO reafirmou o alinhamento de interesses com o controlador Banco do Brasil, destacando a intenção de renovar o contrato entre as duas entidades, que atualmente se estende até 2033. O CEO enfatizou que a relação entre a BB Seguridade e o BB é de longo prazo e reconheceu que o contrato atual pode causar desconforto entre investidores. Embora não tenha sido fornecida uma data específica, o CEO deixou subentendido que existe um esforço para que a renovação ocorra nos próximos 1,5 anos, antes das próximas eleições presidenciais. Na nossa opinião, isso poderia destravar um valor enorme para as ações da BB Seguridade que hoje negociam com um desconto relevante de múltiplo para Caixa Seguridade.
Com o resultado em linha com nossas estimativas, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço-alvo de R$ 44,00. Vemos as ações como um papel defensivo com um dividend yield interessante e consistente em 10,2% 2024e, além de múltiplos atrativos, negociando apenas 8,5x P/L 2024e e 7,7x P/L 2025e.
BB Seguridade (BBSE3) | Resultado 2T24: Lucro segue atrativo
Dividendos: Maior payout de dividendos no segundo semestre
Junto com a divulgação de resultados, a BB Seguridade anunciou o pagamento de dividendos no valor de R$ 2,7 bilhões referente ao primeiro semestre de 2024. Esse valor equivale a R$ 1,39 por ação, representando um dividend yield de aproximadamente 4%. Os dividendos serão pagos no dia 30 de agosto, com base na posição acionária do dia 16 de agosto, e as ações ficarão ex-dividendos em 19 de agosto.
Durante o conference call, o CFO Sperendio sinalizou que a dinâmica de dividendos será melhor no segundo semestre, principalmente com a proximidade do fim da recompra de ações, no qual a seguradora não iria conseguir renovar esse ano dado o tramite regulatório do Banco do Brasil com o Banco Central para aprovar o cancelamento das ações e aumento de participação do BB na BB Seguridade.
Guidance: Prêmios emitidos ficam abaixo do intervalo
No consolidado do primeiro semestre de 2024, o resultado operacional não decorrente de juros ficou dentro do intervalo do guidance (5% a 10%), alcançando 8,8%. As reservas de previdência superaram as expectativas, atingindo 13%, acima do guidance de 8% a 12%.
No entanto, os prêmios emitidos pela Brasilseg ficaram aquém do guidance (8% a 13%), registrando apenas 5%. A seguradora espera uma melhora na dinâmica com o Plano Safra no segundo semestre, já que o governo adiou o anúncio do plano este ano. O desempenho comercial foi negativamente impactado pelo desempenho mais fraco no seguro agrícola, devido ao anúncio tardio do Plano Safra e possivelmente também influenciado pelos eventos no Rio Grande do Sul. Além disso, o encerramento de um contrato de seguro de quebra de garantia de baixa rentabilidade e baixa contábil de contratos de cosseguro contribuíram para o impacto negativo nos prêmios emitidos pela Brasilseg.
Brasil Seg (unidade de seguros): Sinistralidade ex-resseguros aumenta t/t e a/a
A unidade de Seguros registrou um lucro líquido de R$ 1,02 bilhão, uma queda de 1,4% t/t, mas um leve crescimento de 3,3% a/a. Esse crescimento anual foi impulsionado pelo aumento dos prêmios ganhos (+3,8% a/a), especialmente pelo seguro Prestamista (+6,7% a/a). Além disso, o índice de sinistralidade com resseguros diminuiu em -2,4pp a/a.
Acreditamos que a queda trimestral do lucro esteja relacionada ao aumento dos sinistros (+9,1% t/t), enquanto as receitas (prêmios ganhos) permaneceram praticamente estáveis (+0,5% t/t). Em nossa visão, o aumento dos sinistros é, em parte, resultado do desastre no Rio Grande do Sul, que pressionou a sinistralidade dos seguros Rural e Habitacional, além do aumento da sinistralidade em outros produtos, como o Prestamista.
Em ambas as comparações, anual e trimestral, a sinistralidade sem resseguros apresentou fortes aumentos de +2,6 pp t/t e +8,9 pp a/a.
- Sinistralidade
O índice de sinistralidade considerando resseguros foi de 36,6% (+0,6 pp t/t e -2,4 pp a/a). Excluindo resseguros, o índice foi de 33,0% (+2,6 pp t/t e +8,9 pp a/a). Na comparação trimestral, a sinistralidade do Rural deteriorou, chegando a 23,2% (+2,4pp t/t e +2,7% a/a), puxado pelos produtos: (i) Agrícola, que aumentou +5,4 pp t/t e +59,3 pp a/a, atingindo 66,7%; e, (ii) Penhor Rural também apresentou deterioração trimestral, chegando a 21,6% (+5,8 pp t/t e -4,8 pp a/a). O Prestamista também teve um forte aumento de +10,6 pp t/t e +4,8 pp a/a, chegando a 41%, enquanto o Habitacional alcançou 36,3% (+17,9 pp t/t e +24,2 pp a/a).
A sinistralidade do Penhor Rural, Agrícola e Habitacional foi afetada pela catástrofe ocorrida no Rio Grande do Sul, mas os impactos foram amenizados pelo acionamento da proteção de resseguro para cobertura de catástrofe e excesso de danos. O evento no RS resultou em 5 mil acionamentos e R$ 225 milhões em despesas de sinistros.
BrasilSeg (Seguradora): Forte aumento da sinistralidade sem resseguro
Brasil Prev (unidade de previdência): PCC afeta lucro contábil
A unidade de Previdência registrou um lucro líquido recorrente de R$ 347 milhões (+13,6% t/t e -20,8% a/a). A significativa queda anual deve-se principalmente ao pior resultado financeiro (-51,3% a/a), impactado pelo aumento do custo do passivo devido à inflação no IGPM no 2T24, comparada à deflação no 2T23, além da marcação a mercado negativa de alguns títulos no 2T24, em contraste com a positiva no 2T23. Mas em relação o trimestre anterior (1T24), o resultado financeiro ajudou a impulsionar o lucro da unidade, beneficiado pelos elevados níveis da Selic e pela recuperação do descasamento entre IPCA e IGP-M que foram detratores no trimestre passado.
A BB Seg constituiu uma Provisão Complementar de Cobertura (PCC) de R$ 129 milhões nesse trimestre, conforme a Circular 678 da SUSEP, o que reduziu o lucro contábil para R$ 217 milhões, que consideramos como não recorrente.
Por outro lado, as receitas com tarifas (taxa de gestão) aumentaram +5,4% t/t e +13,1% a/a, impulsionadas pela expansão das reservas de previdência, que atingiram R$ 410 bilhões (+12,2% a/a). No primeiro semestre de 2024, a captação líquida foi de R$ 5,3 bilhões (+141,9% a/a), embora tenha sido negativa em -R$ 255 milhões no 2T24.
BrasilPrev (Previdência): Impactado a/a pelo resultado financeiro
Brasil Cap (unidade de capitalização): Menor alíquota de IR
A unidade de capitalização registrou um lucro líquido de R$ 71 milhões, mantendo-se relativamente estável em relação ao trimestre anterior (+0,7%) e expandindo +12,3% em relação ao ano anterior.
O desempenho anual foi beneficiado pela redução da alíquota de imposto para 27,8% (comparado a 37,5% no 2T23), resultado de uma decisão judicial favorável sobre a CSLL, além do melhor desempenho do resultado financeiro, que alcançou R$ 116 milhões (+5,1% a/a).
No entanto, a arrecadação com títulos de capitalização caiu -10,4% t/t e -9,1% a/a, refletindo a retração nas vendas. A receita líquida com títulos também apresentou queda (-21,1% t/t e -18,3% a/a), devido ao aumento na participação de títulos de menor prazo (12 e 24 meses).
BrasilCap (Capitalização): Melhora na alíquota de imposto
BB Corretora (Broker): Lucro estável t/t
A corretora registrou um lucro líquido de R$ 794 milhões no trimestre, mantendo-se praticamente estável em relação ao trimestre anterior (+0,2%), mas apresentando um crescimento significativo de +12,4% a/a. Na comparação anual, esse aumento no lucro foi impulsionado principalmente pela melhora nas receitas de corretagem, que cresceram +11,8% a/a, além de uma expansão da margem operacional em +1,1pp a/a. Na conference call, o CFO Sperendio destacou que as receitas do primeiro semestre foram favorecidas por incentivos em produtos recorrentes.
O resultado financeiro também contribuiu para esse desempenho positivo, com um crescimento de +2,9% a/a, sustentado pela evolução do saldo médio de caixa e instrumentos financeiros em aproximadamente R$ 1 bilhão, o que ajudou a compensar a queda na taxa Selic.
Já na comparação trimestral, a estabilidade t/t do lucro ocorreu pelo melhor desempenho do resultado financeiro (+19,6% t/t), já que o resultado operacional foi impactado em parte pelo menor nível de receitas de corretagem (-0,9% t/t) e maior nível de despesas operacionais (+2,5% t/t).
BB Corretora (Corretora): Lucro estável t/t
Circular Susep 678/2022
A Circular Susep 678/2022, que entrou em vigor em 02 de janeiro de 2024, promoveu alterações significativas na regulamentação de provisões técnicas, teste de adequação de passivos (TAP), capitais de risco e outros temas aplicáveis às entidades supervisionadas pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).
Impactos para BB Seguridade:
- Brasilseg:
A mudança na compensação de déficits e superávits resultou na constituição de PCC no valor de R$ 130,7 milhões para os contratos de seguros antigos e não comercializados, contabilizada em Lucros e Prejuízos Acumulados.
- Brasilprev:
A Circular 678 afetou principalmente os planos de previdência de benefício definido, resultando em uma constituição inicial de PCC de R$ 650,9 milhões. A reclassificação dos ativos para “disponível para venda” permitiu a incorporação da mais valia ao patrimônio líquido no montante de R$ 2,1b antes de impostos, compensando a necessidade de PCC.
Em junho de 2024, a atualização das premissas atuariais levou à constituição adicional de PCC de R$ 216,7 milhões e R$ 58,4 milhões devido a mudanças nas premissas de decisão dos clientes e conversão de recursos em renda.