Imagina acordar e descobrir que o jogo virou no tabuleiro do varejo. Em vez de gastar cada vez mais para atrair clientes ao site próprio, Casas Bahia decidiu surfar o tráfego onde ele já acontece: na maior vitrine do e-commerce, o Mercado Livre.
A Casas Bahia passará a operar como seller no marketplace do Mercado Livre. O movimento busca capturar demanda onde o fluxo ocorre e reduzir a necessidade de comprar audiência a qualquer preço no canal próprio.
Já vimos isso antes?
Essa parceria lembra o acordo entre Magazine Luiza e AliExpress de 24 de junho de 2024. É uma referência útil, ainda que não um espelho perfeito de desenho econômico e integração.
No caso da Magalu, a parceria ainda não mostrou tração visível no 3P. Desde 2023, o GMV de marketplace tem oscilado por trimestre na faixa de R$ 4 a 5 bilhões, sem mudança estrutural clara de patamar.
Sem disposição para abrir mão de rentabilidade, e com um xadrez online em que Shopee e Mercado Livre seguem ganhando share, a notícia tende a ser negativa para a Magalu, pois reforça a concentração de tráfego e subsídios nas plataformas líderes.
Ganha-ganha para Casas Bahia e Mercado Livre
Com um tamanho de mercado de bens duráveis em torno de R$ 150 bilhões, o online já responde por cerca de 55%, superando o offline.
Para Casas Bahia, faz sentido estar onde o fluxo corre. O objetivo é vender mais, girar melhor o estoque e ganhar poder de negociação com a indústria, preservando a percepção de preço do canal próprio. O acordo, de longo prazo, preserva liberdades de sortimento e de precificação. Isso reduz o risco de canibalização do e-commerce da companhia e permite ajustar a alocação conforme o retorno por categoria.
A troca é clara. O Mercado Livre aporta tráfego, conveniência e capilaridade. A Casas Bahia leva reputação, escala e catálogo. Para o consumidor, a experiência tende a ganhar em confiança e serviço.
No conjunto, abre-se uma nova avenida de crescimento no online, enquanto a liderança no offline segue como base. A execução em SLA, NPS e incrementalidade sobre o canal próprio será o que separa bom de ótimo.
A entrada como seller chega às vésperas da Black Friday, um catalisador natural de volume. A companhia pretende capturar GMV incremental com disciplina de margem, condicionada a mix, take rate efetivo e custos logísticos e de atendimento.
Mais escala pode acelerar giro, melhorar condições com a indústria e diluir despesas operacionais. O efeito combinado pode sustentar avanço de margem EBITDA nos próximos trimestres e, por consequência, apoiar a desalavancagem financeira da companhia.