Diferentemente do que aconteceu nos últimos trimestres, a Via (ex Via Varejo) e o Magazine Luiza (MGLU3) não irão reportar os seus resultados no mesmo dia.
A Via será a primeira grande varejista de e-commerce a reportar os números do 1º trimestre de 2023, que acontecerá após o encerramento do pregão da quinta-feira (4/mai). Magazine Luiza deverá divulgar seu balanço apenas em 15/mai.
Este trimestre deve trazer insights sobre o “novo normal” o varejo e-commerce, dado o evento de recuperação judicial da Americanas no período. Ao nosso ver, os grandes players (Via, Magazine Luiza e Mercado Livre) não fizeram um approach agressivo para capturar a fatia de mercado da recuperanda – fatia essa composta por venda incentivada (via cashbacks e descontos) e compra por impulso. Parte desse mercado “se perde” no caminho.
A migração de GMV 1P on-line e GMV 3P para outros players não acontece de forma tão trivial e imediata. Vale lembrar, também, que, apesar da forte desaceleração de vendas (que em fevereiro atingiu pouco menos da metade da média mensal de 2022), as operações da Americanas ainda continuam em pé.
Reiteramos a nossa recomendação de MANTER as ações da VIIA3, com preço-alvo 2023E de R$ 3,00, o que representa um upside de 65% em relação ao último valor negociado (25/abr).
Receita líquida deve se manter estável
Não esperamos abertura de lojas Casas Bahia nos primeiros meses. Pelo contrário, devemos ver três fechamentos de unidades no período, que escorregaram do 4º trimestre do ano passado para o início desse ano.
- Lojas físicas. Com uma dinâmica de vendas mais forte nos meses de janeiro e fevereiro, e arrefecendo um pouco em março, esperamos um GMV Bruto de Lojas físicas de R$ 6,1 bilhões (+11,1% a/a; -9,9% t/t). A maior contribuição deve vir do indicador de “mesmas lojas” (SSS), estimado em ~7,0% a/a.
- Digital. Dado o mix do 1P on-line, o mercado deve seguir desafiador para a Via nesse trimestre. A nossa expectativa é que GMV 1P on-line bruto caia 25% a/a, a R$ 2,7 bilhões. Por outro lado, esperamos uma forte aceleração anual do GMV 3P, a R$ 1,4 bilhão (+23% a/a), dada a base mais normalizada de comparação.
A Via deve adicionar aprox. 5 mil sellers em sua base no marketplace, se aproximando da marca de 160 mil. Apesar de não ser um número explosivo, considerando o evento “Americanas”, devemos ver um barateamento no CAC (Custo de Aquisição) de vendedores, que se veem engajados para vender mais na plataforma e trazer oportunidade para a varejista oferecer seu fulfillment para eles.
Consolidando as linhas, a nossa expectativa é que a Via apresente um GMV Bruto de R$ 10,5 bilhões (-1,9% a/a; -16,1% t/t) e uma receita líquida neutra na visão anual, a R$ 7,4 bilhões (-0,3% a/a; -16,6% t/t).
Margem bruta deve ganhar força
Apesar do impacto do DIFAL (Diferencial de Alíquotas do ICMS) no 1P, acreditamos que a maior penetração do canal físico e a forte aceleração do canal de marketplace, que gira a um Take-rate acima de 10,0%, sejam dois grandes impulsionadores de rentabilidade bruta da Via nesse 1º trimestre. Esperamos um lucro bruto de R$ 2,3 bilhões (+2,2% a/a) e uma margem bruta de 31,5% (+80bps a/a) – uma estimativa acima do consenso do mercado (30,8% de margem bruta, em dados consultados pela Bloomberg)
Maiores despesas manterão a margem EBITDA no mesmo nível
Devemos ver um aumento de despesas operacionais da Via no período, impactada por maiores despesas fixas, dada a abertura de mais de 60 lojas nos últimos 12 meses. Em nossa projeção, a companhia deve apresentar um EBITDA aj. de R$ 662 milhões (-1,7% a/a) e uma margem EBITDA de 9,0% (-10bps a/a).
Originação de crédito deve seguir caindo
Com uma estratégia de “tirar o pé do acelerador” na oferta de crédito, e assim como o apresentado no 4º trimestre, esperamos que a carteira de crédito da Via recue sequencialmente. Dessa forma, beneficiado positivamente pelo efeito do Bolsa Família, acreditamos que o PDD e a inadimplência sigam bem controlados no período, sem apresentar crescimento.
O prejuízo é inevitável
Operacionalmente, a Via consegue amarrar as pontas. Contudo, dada a Selic no patamar de 13,75% e considerando a alavancagem financeira de 3,2x, não há como a companhia escapar de mais um prejuízo líquido nesse trimestre. Em nossa visão, a Via deve reportar um prejuízo líquido de R$ 230 milhões e uma margem líquida de -3,1%, revertendo o lucro contábil apresentado no 1T22 (R$ 18 milhões).