O Bradesco reportou um 1T22 em linha com nossas expectativas e consenso de mercado, mas com uma melhora na qualidade, principalmente no que se refere aos ajustes feitos na recorrência do lucro. O banco lucrou R$ 6,8b (ROE de 18,3%), crescendo 3% t/t e 5% a/a. Com um resultado recorrente mais limpo (ou seja, com menos ajustes), avaliamos o 1T22 do Bradesco como marginalmente positivo.
O forte crescimento em linhas da carteira de crédito com maiores spreads contribuiu com o bom avanço da margem com clientes. O resultado da seguradora ainda foi fraco com o financeiro pressionado pela alta da Selic e sinistralidade ainda elevada em saúde e auto, apesar do guidance otimista. A margem com clientes mais forte foi compensada pela queda forte da margem com mercado, sob efeito da remarcação de títulos com a abertura da curva de juros.
Como resultado, o Bradesco revisou o guidance para comportar essas dinâmicas. Os novos números mostraram uma maior qualidade da composição do crescimento de lucro em 2022, com uma melhora no: (i) crescimento da margem com clientes, (ii) receitas de serviços e (iii) despesas controladas. Do lado mais negativo, a margem com mercado veio bem mais pressionada do que esperávamos e o banco aumentou o guidance de PDD. Ao valuation atrativo de 1,2x P/VP e perspectiva de crescimento de lucro de 2 dígitos conforme nossas estimativas ajustadas pelo novo guidance justificam recomendação de COMPRAR.
Carteira de crédito: melhora de mix
A carteira de crédito do Bradesco cresceu 1,5% t/t e 17,1% a/a (carteira expandida cresceu 18,3% a/a). O bom crescimento foi puxado pela expansão dos empréstimos com maiores spreads, como rotativos de cartões. A carteira de cartão de crédito cresceu 45,6% a/a e 7,6% t/t. Como resultado do maior crescimento em um mix mais rentável, a margem com clientes (NII clientes) do Bradesco cresceu 19,6% a/a e 7% t/t.
Qualidade de crédito: crescimento de provisões
As provisões cresceram 23,8% a/a e 12,9% t/t, impactadas pelo mix mais concentrado em linhas com maior risco e elevação da inadimplência. A inadimplência (NPL 90d) atingiu 3,2%, uma alta de 0,7 pp a/a e 0,4 pp t/t.
O índice de cobertura continuou em queda, atingindo 235%. Vale destacar a velocidade com que o índice de cobertura caiu neste ciclo, dado que no final de 2020 encontrava-se em impressionantes 403%.
Margem com mercado: mais fraca do que esperávamos
A margem com mercado (NII mercado) foi de somente R$ 1,2b, queda de 47% a/a e 43% t/t. O resultado fraco se deve ao impacto da elevação dos juros na marcação de títulos de ALM. Esperamos que a margem com mercado siga ainda mais pressionada ao longo do ano, conforme o Bradesco e demais bancos vem sinalizando.
A margem com mercado poderia ter sido ainda mais pressionada no 1T e ao longo de 2022 se o Bradesco não tivesse marcado antecipadamente o impacto da curva de juros em títulos no 4T21. A marcação gerou uma perda de ~R$ 1,9b (líquido de imposto) na margem com mercado no 4T. Na época o banco considerou a marcação como item extraordinário, adicionando-a novamente ao lucro.
Seguros: ainda recuperando gradualmente
O resultado da seguradora seguiu pressionando, subindo modestos 4,7% a/a e caindo 6,8% t/t. O resultado foi impactado pela sinistralidade ainda se recuperando do seguro saúde e elevada em auto e pelo resultado financeiro fraco. O seguro saúde teve um índice combinado de 101,4% no 1T (vs. 97,8% no 1T21), ainda sob efeito da última onda da pandemia no início do ano. O auto foi impactado pela inflação da tabela FIP. O índice combinado do auto foi de 100,2% (vs. 94,9% no 1T21).
O resultado financeiro da seguradora caiu 20,6% t/t, puxado pelo descasamento entre IGP-M e IPCA. Passivos antigos de previdência são indexados ao IGP-M, gerando o descasamento. O ROE da operação de seguros atingiu 18,9% (+1,1 pp t/t), tendo sido impulsionado pela redução do patrimônio da seguradora. A queda no patrimônio foi resultado do pagamento de dividendos pela seguradora e marcação de títulos para baixo.
Guidance: ajustado
A fim de comportar as novas tendências, o guidance foi ajustado. A margem com clientes foi revisada da faixa entre 8 e 12% para de 18 a 22%. A revisão da margem com clientes é reflexo principalmente da melhora de mix de crédito. Dado o mix mais arriscado a estimativa de provisão foi ajustada de R$ 15 a R$ 19b para R$ 17 a R$ 19b. A faixa para receitas de prestação de serviços foi revisada da faixa entre 2 e 6% para 4 a 8%. Por fim, a estimativa de despesas operacionais caiu da faixa entre 3 e 7% para 1 a 5%.
Em nossa estimativa anterior de guidance estávamos considerando um lucro de R$ 28,5b no meio da faixa indicativa. Apesar dos ajustes incorporamos somente um ligeiro aumento para R$ 29b, dada maior pressão do que esperávamos inicialmente na margem com o mercado.