Sem muitas surpresas em termos absolutos, o lucro recorrente de Bradesco de R$ 7,04b (+3,2% t/t e 11,4% a/a) veio em linha com nossas expectativas e do mercado, impulsionado principalmente pelo desempenho favorável da margem financeira com clientes, seguros e receita com serviços. O ROE evolui 0.24 pp t/t para 18.5%. Do lado detrator, a margem com mercado foi negativa e grau de elevação das provisões veio acima do esperado, puxada pelo contínuo aumento da inadimplência e surpreendentemente rápido consumo do colchão de cobertura.
Provavelmente, a piora do ciclo de crédito deve continuar ser o tema central para o Bradesco nos próximos trimestres, principalmente porque o banco é o mais exposto em Pessoa Física entre os incumbentes. Analisando a evolução da qualidade de crédito com uma piora maior nos segmentos de baixa renda em crédito clean (sem garantia), possivelmente inadimplência do Bradesco deve continuar subindo nos próximos trimestres, chegando ao pico no 4T22. O Bradesco saiu de um índice de cobertura de 349% no 2T21 para 218% neste tri, chegando rapidamente a um patamar histórico pré-pandemia. O soft guidance até o final do ano para o índice de cobertura fica entre 200-220%. Por fim, o banco vendeu R$ 2b de carteira esse tri, que ajudou a melhorar marginalmente seu índice de inadimplência.
Por outro, o robusto crescimento da margem com clientes, recuperação de seguros e alíquota efetiva mais baixa podem compensar a piora da carteira de credito e os resultados fracos de tesouraria (NII com mercado). Apesar do easy comps do 2T21 ajudar, o resultado da operação de seguro foi o grande salvador da pátria, crescendo 48,4% a/a (vs. range de 18-23% do guidance). Olhando a dinâmica de resultados seguimos preferindo o Itaú ao Bradesco, principalmente pela dinâmica mais favorável de receita. No entanto, ao valuation de 6,88x P/L 22 e 1,17x P/VP 22 vemos o Bradesco como uma ação barata, e reiteramos nossa recomendação de COMPRAR. Alternativamente, BBDC3 negocia com um desconto de 17% sobre BBDC4, o que a torna mais atraente do ponto de vista de valuation (1x P/VP) e dividend yield.
NII: bom crescimento da margem clientes, compensado por perdas na tesouraria
O NII foi fraco, caindo 4,1% t/t, impactado principalmente por perdas na margem com mercado (-R$ 587m). O soft guidance para o ano todo é de um resultado de tesouraria no zero a zero, portanto com mais resultados negativos nessa linha no 2S22. No comparativo anual, o NII continuou crescendo 4%, principalmente pelo crescimento de carteira, aumento do spread e melhora do mix de crédito. Por outro lado, o NII clientes teve um bom crescimento de 7,1% t/t e 25,8% a/a.
PDD: queimando gordura
Em meio a ciclo de elevação da inadimplência, o Bradesco aumentou as provisões, que chegaram a R$ 5,3b no trimestre (+9,9% t/t e +52,4% a/a). A inadimplência (NPL 90d) atingiu 3,5%, subindo 0,3 pp t/t e 1pp a/a. Com a rápida elevação da inadimplência, parte explicada pelo mix mais agressivo, o índice de cobertura do Bradesco vem sendo rapidamente consumido, tendo atingido 218,1% neste trimestre (-17,3 pp t/t e -106,6pp a/a). No 1S, o Bradesco vendeu R$ 2b em carteiras ativas. Adicionando-os ao cálculo, estimamos que o NPL 90d do banco estaria em 3,8% (+0,3 pp acima do NPL reportado), aumento de 0,6 pp t/t.
Seguros: vem com tudo!
O resultado de seguros foi um dos destaques do resultado, tendo crescido 12,8% t/t e 135,5% a/a, refletindo a melhora da sinistralidade advinda do covid, bom desempenho comercial e resultado financeiro robusto com a Selic média mais alta. Olhando o resultado da unidade de seguros como um todo, o lucro da Bradesco Seguros foi de R$ 1,8b, uma alta de 176% a/a, beneficiado pela sinistralidade de 81,9% (-3,6pp a/a) e crescimento do resultado financeiro de 19,5% t/t e 185% a/a. Com um ROE de 20,9%, a Bradesco Seguros aumentou sua participação no lucro total do Grupo de 23,5% no 1T22 para 26,6% nesse trimestre.
Despesas: antecipando 2S
Potencialmente em uma iniciativa para antecipar e conter o impacto do dissídio de salários no 2S, o Bradesco vem controlando despesas. Apesar da despesa administrativa total ter subido 2,4% t/t e 9,2% a/a, em função principalmente da despesa de pessoal (+3,9% t/t e +11,7% a/a), outras linhas como outras receitas e despesas operacionais tiveram um desempenho positivo. As outras receitas e despesas operacionais foram de somente 468m negativos (vs. -R$ 1,1b no 1T e -R$ 860m no 2T21), impulsionadas por uma normalização no provisionamento de ações cíveis, pandemia e menores níveis de fraude.
Alíquota efetiva: empurrão da TJLP
A alíquota efetiva do Bradesco de 31,2% (-2,25pp t/t e -1,24pp a/a) também contribui para o resultado do banco, explicada principalmente pelo pagamento de JCP. A alta da TJLP poderá permitir maior payout via JCP mantendo a alíquota efetiva mais baixa nos próximos trimestres.
Capital: consumido pelo fim do crédito do overhedge
O capital (tier 1) de Bradesco fechou o trimestre em 13,3% (-0,38pp t/t e -0,83 pp a/a). A queda se deve ao fim do crédito fiscal do overhedge, que deve consumir capital do Bradesco ao longo do ano. De forma geral, continuamos a observar o nível de capital como robusto, possibilitando manutenção do payout de 30-40%.