Acreditamos que o Bradesco ainda terá um fraco desempenho para 2023, entregando rentabilidades inferiores que de seus pares (Itaú e Banco do Brasil). Assim, entendemos que 2023 será um ano em que o Bradesco estará arrumando a casa, em busca de combustível para voltar a melhorar a rentabilidade em 2024 quando vemos maiores gatilhos de valorização das ações.
Apesar do Bradesco já ter provisionado 100% dos créditos tóxicos de Americanas com potencial de reversão caso seja repactuado, não esperamos que o Bradesco terá uma agenda de crescimento relevante de lucro em 2023, como o Itaú. Acreditamos que o banco continuará sendo pressionado pelo mix da carteira de crédito, principalmente pelas exposições a pessoa física baixa renda e safras antigas, fazendo com que ainda tenha fortes despesas de provisão de crédito para o primeiro semestre de 2023 com a carteira de crédito crescendo próximo do projetado pela FEBRABAN para o mercado, ficando no meio do guidance disponibilizado pelo banco em 8% a/a. Por fim, o resultado de tesouraria (margem com mercado) ainda deve ser negativo, podendo ter uma melhora para a segunda metade do ano caso tenha uma queda da taxa de juros.
Dessa forma, esperamos um lucro líquido de R$ 3,87b para o 1T23 (-43% a/a) e um ROE de 10%. Já para o consolidado do ano de 2023, esperamos uma queda de -3% a/a no lucro, melhor que a desaceleração do ano passado de -21% a/a. Projetamos uma melhora gradual nos resultados do banco em 2023, com um lucro de R$ 20,1b e um ROE de 12,6%, mas ainda bem inferior as nossas expectativas de rentabilidade para o Itaú e Banco do Brasil que devem entregar ROEs próximo de 20% em 2023.
Portanto, reiteramos nossa recomendação de MANTER, mas com uma revisão marginal de preço alvo, saindo de R$ 15,60 para R$ 15,10 devido a nossa visão mais conservadora para 2023. Apesar de entendermos que os múltiplos de 7,10x P/L 23E e 5,12x P/L 24E, além de um P/VP 23E de 0,87x seja baixo historicamente, não vemos gatilhos para valorização das ações no curto/médio prazo.
Carteira: Seletividade na originação
Esperamos que a carteira cresça 7,6% a/a no 1T23, apresentando uma forte desaceleração em relação ao ano passado, que cresceu +17% a/a no 1T22, devido a maior seletividade nas originações ao longo dos últimos trimestres visando conter o aumento da inadimplência. No ano, esperamos que a carteira cresça 8,0% a/a, ficando em linha com a projeção para o mercado.
Margem Financeira (NII): Resultado de tesouraria continuam pesando
Esperamos que a margem financeira tenha um aumento de apenas 1,2% a/a para o 1T23, ficando em R$ 17,3b. Estimamos que a margem com clientes cresça em linha com a carteira, não tendo muito espaço para expansão de NIM (spread da carteira) por conta de um mix mais conservador de menor risco, mas com menor margem. Ainda, esperamos uma margem com mercado negativa devido à pressão dos juros, principalmente no primeiro semestre do ano.
Custo de Crédito: Provisão ainda elevada
Esperamos que o custo de crédito deva ser mais pressionado no 1T e 2T de 2023 devido, pesadas ainda pelas safras antigas com impacto maior de pessoa física baixa renda e PMEs. Já para a segunda metade do ano, esperamos ter uma melhora devido a maior seletividade do banco na originação de crédito. Esperamos que a PDD atinja um total de R$ 10,4b para o 1T23 (+114% a/a) e para o ano um total de R$ 37,7b (+17% a/a).
Seguros: Sem pandemia, resultados melhores
Esperamos que a frente de seguros apresente um bom resultado, com prêmios ganhos crescendo bem por conta da reprecificação e um índice de sinistralidade estável com menores impactos de sinistros relacionados a pandemia. Para o 1T23 estimamos um aumento de 9% a/a no resultado das operações de seguros e também um crescimento de 9% a/a para 2023.
Tarifas: Pressionado por seletividade e falta de operações
Esperamos que os serviços continuem pressionados, com a frente de cartões crescendo menos que o ano passado, visando uma maior seletividade, buscando maior crescimento no alta renda. Estimamos que as frentes de gestão de recursos ainda continuem fracas devido a migração para fundos mais conservadores e consequentemente com menores taxas de administração. Ademais, a área de Investment Banking ainda deve continuar fraca com o mercado de ações com baixas operações e a frente de renda fixa mais restrita após o caso de Americanas. Esperamos as receitas de tarifas no 1T23 tenha uma queda de -3,4% t/t, mas com um aumento de 3,7% a/a. Para o ano, esperamos um crescimento de 4,3% a/a.
Despesas: Controlada, mas elevada
Esperamos que as despesas administrativas totais fiquem em R$ 13,5b no 1T23 (+6,6% a/a), sendo estimado um aumento de +7,4% em outras despesas administrativas devido a fraca base comparativa de 2022. Para o ano, esperamos que companhia tenha um maior controle das despesas, sendo esperado resultados em linha com a parte inferior do guidance (+8,3% a/a).
Imposto: Beneficiado pelo JCP
Estimamos uma alíquota baixa para o Bradesco em 2023, ficando em aproximadamente 18% no ano devido as nossas expectativas de pagamento de JCP (juros sobre capital próprio) elevadas por conta da taxa de cálculo (TLP) ainda em valores altos.