Após um resultado bem abaixo do esperado no 4T23, que resultou em uma rentabilidade (ROE) de apenas 7% para o Bradesco, esperamos uma melhora no 1T24. Essa melhoria será impulsionada principalmente pela redução das provisões para devedores duvidosos. Para o 1T24, projetamos um lucro de R$ 3,85b, expansão de +34% t/t, porém com uma queda significativa de -10% a/a. A rentabilidade deve continuar em patamares fracos, em torno de 9,5% (+2,4pp t/t e -1,5pp a/a) nesse começo de ano.
Mas é importante ressaltar que a evolução sequencial (t/t) do 1T24 era esperada, considerando que o 4T23 foi impactado por algumas despesas adicionais para reforço do balanço. O Bradesco provisionou R$ 2,5 bilhões na carteira de atacado no 4T23 que foram contabilizados como recorrente. Além disso, o banco provisionou antecipadamente R$ 1 bilhão em despesas de reestruturação e R$ 1 bilhão em despesas cíveis, ambos tratados como não recorrentes.
Para 2024, esperamos que o lucro fique um pouco acima do ponto médio do guidance (R$ 13,4b a R$ 22,9b) em R$ 18,6b, com um crescimento de +14,3% a/a, beneficiado principalmente por uma melhora no NII mercado (tesouraria), redução de provisões de crédito e despesas administrativas controladas. No entanto, a rentabilidade de 11% deve continuar em níveis bem abaixo de seus pares incumbentes (Itaú, Banco do Brasil e Santander), indicando que a reestruturação deve levar 2-3 anos.
Apesar do resultado atual não ser tão animador, acreditamos que o pior já passou e que a rentabilidade tende a melhorar com a recuperação do ciclo de crédito.
Acreditamos que tanto o guidance de 2024 como o plano de reestruturação consideram entregas mais conservadoras, refletindo lições aprendidas após vários anos marcados por guidances otimistas que não se concretizaram. Vemos potencial para que o banco supere as metas estabelecidas, aproveitando-se desse viés conservador.
Com a retomada da rentabilidade, mesmo que gradual, achamos que as ações estão sendo negociadas a múltiplos atrativos. Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR e vemos a ação em múltiplos atrativos, negociando apenas 7,9x P/L 24E e 5,0x P/L 25E, além de um P/VP 24E de apenas 0,9x. No entanto, estamos cortando nosso preço-alvo de R$ 20 para R$ 17, refletindo um menor ROE de longo prazo e o aumento do custo de capital que foi impactado pela abertura da curva dos juros americanos.
Na nossa visão, o principal risco reside na possibilidade do Bradesco não conseguir efetivar sua reestruturação com sucesso, o que poderia resultar em perda de competitividade, queda de participação de mercado e dificuldades para atingir rentabilidade em linha com seus pares (20% de ROE).
No curto prazo, achamos que o maior risco reside na fraca geração de receita, após vários trimestres com baixa originação de crédito, corte de custos e redução de benefícios e limites de clientes podendo impactar seu relacionamento com clientes.
Bradesco (BBDC4) 1T24 | Melhora das provisões t/t e a/a
Carteira de crédito: Retomada em PF e PME
Para o 1T24, esperamos que a carteira de crédito cresça 3,1% t/t e 0,7% a/a, beneficiada pela retomada gradual no segmento pessoa física e pequenas e médias empresas (PMEs).
Para 2024, acreditamos que o banco continuará originando nesses segmentos de forma gradual. Assim, projetamos uma expansão de 9% a/a.
Receita de juros (NII): NII Mercado melhorando… aos poucos
Para o 1T24, esperamos que a receita de juros (NII) caia -1,1% t/t e -4,2% a/a, chegando a R$ R$ 15,9b. Estimamos que o NII clientes fique pressionado no trimestre com queda de -1,3% t/t e -10,2% a/a, contabilizando R$ 15,2b, devido a exposição de um mix mais conservador e contração da carteira de crédito em 2023. Por outro lado, esperamos que o NII mercado fique em R$ 728m (+4,6% t/t e revertendo o valor negativo de -R$ 312m no 1T23), beneficiado em parte pela queda da taxa de juros.
Para o ano cheio, estimamos que a receita de juros fique em R$ 69,7b (+6,9% a/a). Acreditamos que o NII clientes deva apresentar uma melhora gradual ao longo do ano, conforme o banco comece a originar em linhas mais arriscadas, melhorando o spread, e o volume aumente com a expansão da carteira. Em relação ao NII mercado, também esperamos uma evolução gradual ao longo do ano com a queda de juros, chegando a R$ 3,6b, uma melhora significativa comparado ao montante de R$ 311m em 2023.
Receita com tarifas: Ainda pressionada
Para o trimestre, esperamos um impacto negativo da sazonalidade na comparação trimestral, com queda de -1,3% t/t, terminando o trimestre com R$ 8,9b. Já na comparação anual, acreditamos que essa linha fique ainda pressionada, com expansão de apenas +1,9% a/a.
Para 2024, estimamos que a receita com tarifas continue fraca devido à pressão em certas linhas como conta corrente, assim, esperamos um crescimento de apenas +4,0% a/a, ficando no meio do guidance.
Receita com seguros: Segue forte, mas em desaceleração
Para o trimestre, prevemos que os resultados do setor de seguros permaneçam em níveis atrativos. No entanto, devido à sazonalidade típica do primeiro trimestre, esperamos uma queda de -5,2% t/t, mas uma forte expansão de +22,5% a/a.
Para 2024, estimamos crescimento, mas com uma desaceleração para essa linha. Projetamos um crescimento de +7,6% a/a, mas ainda contribuindo de forma significativa para a composição de lucro do Bradesco.
Custo de Crédito (PDD): Melhor t/t e a/a
Para o 1T24, esperamos uma melhora significativa t/t de -19,2%, devido ao impacto relevante e pontual de aproximadamente R$ 2,5b em provisões na carteira de atacado no 4T23. Na comparação anual, prevemos uma melhora de -10,7% a/a, à medida que a inadimplência começa a se estabilizar. Assim, projetamos que a PDD fique em R$ 8,5b no trimestre.
Para 2024, estimamos que as provisões cheguem a R$ 37,2b (-5,9% a/a), ficando próximo do ponto médio do guidance.
Despesas administrativas: Controladas
Para o trimestre, estimamos que as despesas administrativas fiquem em R$ 14,1b, apresentando uma leve melhora sazonal de -2,9% t/t, mas com avanço de +5,5% a/a, ficando um pouco acima da inflação.
Para 2024, vemos as despesas administrativas em R$ 57,9b (+4,3% a/a), crescendo em linha com a inflação. No entanto, esperamos que as outras despesas sigam em patamares robustos (+27,7% a/a), impactado pelas contingências cíveis.
Imposto
Com a melhora do lucro antes de imposto, esperamos que o benefício fiscal gerado pelo JCP tenha um impacto menor na redução do imposto. Assim, esperamos uma alíquota de 16,5% para o 1T24 e 17,3% para 2024.