Esperamos que o Bradesco tenha um trimestre um pouco mais morno, com crescimento de lucro de 1,2% t/t e 9,2% a/a, reportando um lucro de R$ 6,9b. Com uma carteira de pessoa física proporcionalmente mais alta que seus pares, o risco na piora do ciclo de crédito com o aumento da inadimplência, fica mais evidente no Bradesco. O consumo das reservas de provisões adicionais tem sido bem mais rápida que antecipávamos, aumentando a preocupação de um impacto um pouco mais severo que projetávamos nesse ciclo. Esperamos uma elevação da inadimplência acima do que era esperado inicialmente, impactada pelas perdas no consignado e margem com o mercado enfraquecendo ainda mais em comparação ao 1T. Do lado positivo, o resultado deve ser beneficiado pelo melhor mix de crédito, bom ritmo de crescimento da carteira e normalização do resultado de seguros.
O nosso lucro para o trimestre está acima do consenso e na nossa avaliação o resultado tem downside risk, podendo prejudicar as perspectivas de crescimento de lucro para o ano. Nos nossos números estamos estimando um crescimento de lucro de 8% em 2022, um pouco abaixo meio do guidance estimado de 11%. Dependendo das dinâmicas do 2T devemos revisar as nossas projeções anuais. Apesar do riscos, o valuation do Bradesco de 6,39x P/L 22 e 1,09 P/VP 22 está atrativo. Por ora, reiteramos COMPRAR.
Crédito: apesar da revisão em algumas linhas, cresce como esperado
Esperamos que a carteira venha em linha com expectativas no tri, potencialmente fechando o ano no meio do guidance (12%). Acreditamos que algumas linhas como cartão e cheque especial devem desacelerar, impactadas pelo menor apetite de risco e elevação da inadimplência mais rápida do que era esperado inicialmente. Temos observado uma readequação do apetite de risco e menor aprovação de crédito nessas linhas em todo o setor.
Outras linhas PF (pessoa física) devem continuar com um bom crescimento, explicado pela economia mais aquecida do que o esperado inicialmente e easy comps de 2021, ano ainda impactado pela pandemia. As linhas PME (pequenas e médias empresas) e Grandes Empresas não devem ter muitas novidades e seguem crescendo t/t.
NII: Crescimento na média, mas com riscos a serem considerados
O NII clientes (receita de juros com clientes) deve continuar com uma boa performance, crescendo 7,0% t/t e 25,6% a/a. O bom desempenho é resultado da melhora de mix. Em contrapartida, o NII mercado (tesouraria) deve ampliar a queda observada no 1T, movimento resultante da continuidade da elevação da curva de juros e marcação de títulos.
Inadimplência e custo de crédito: acima do esperado
O Bradesco deve continuar com uma tendência de elevação da inadimplência, que já vinhamos observando no 1T22, incluindo um spike na inadimplência (npl 90d) de 20 bps decorrente de morte de devedores na carteira consignada. Durante a pandemia o governo federal deixou de realizar a prova de vida e a retomada revelou o problema na concessão.
Por um lado, o Bradesco tinha um índice de cobertura maior do que pares privados, o que contribui para mitigar a elevação das provisões. No entanto, sua carteira mais concentrada em PF, que tem maior risco, e alta da inadimplência no consignado acelerou o consumo de parte desse colchão de provisão mais rapidamente.
Seguros: Esperamos recuperação
O resultado de seguros e serviços devem continuar com uma boa dinâmica. Serviços deve crescer t/t, dada sazonalidade do 1T. Seguros deve vir bem a/a e t/t, em função do easy comps do ano passado, ainda foi impactado pela pandemia, e pela elevação da Selic média, que beneficia resultado financeiro da seguradora.
A seguradora em períodos normalizados corresponde a 30% do lucro total do banco. Na nossa avaliação, a recuperação da seguradora poder ser um dos drivers para o resultado de Bradesco no ano. A boa dinâmica pode fazer com que o resultado de seguros supere a ponta alta do guidance de crescimento de 23,0%.
Despesas: Crescimento acompanhando a inflação
Esperamos que as despesas sigam avançando t/t e a/a. No ano, o Bradesco terá maiores desafios com despesas no 2S, assim como demais bancos. O dissídio de salários deve ser novamente alto, pressionando as despesas de pessoal. Com a continuidade do controle das demais despesas, esperamos que o Bradesco entregue um crescimento de despesas no meio do guidance (5,0%).
Capital: impactado por crédito do overhedge
O Bradesco possui índice de capital principal de 13,65%, acima de pares privados. No entanto, término do crédito fiscal do overhedge poderá ter impacto de 40 bps no capital no 2T e 4T. O fim do crédito fiscal do overhedge deve fazer com que o capital termine 2022 no mesmo patamar do ínicio do ano. De forma geral, continuamos a observar o nível de capital como robusto, possibilitando manutenção do payout de 30-40%.