Com um lucro líquido de R$ 4,3b no 1T23, o Bradesco superou nossas estimativas de R$ 3,9b em 11% e as expectativas do consenso de mercado em 13%. O lucro antes do imposto excedeu em apenas 5% nossas estimativas. Apesar do lucro superior as nossas projeções, o resultado ainda se encontra em patamares bem inferiores ao que acreditamos ser um lucro mais normalizado do Bradesco. O lucro de R$ 4,3b foi -37% menor que o 1T22 e a rentabilidade (ROE) de apenas 11,1%, bem abaixo de alguns rivais. As provisões seguem elevadas, carteira de crédito contraiu -2,2% t/t e a margem financeira (NII) enfraqueceu -2,4% a/a. Do lado positivo, vemos avanços numa gradual recuperação de rentabilidade que deve ajudar no crescimento de lucro, principalmente à partir do segundo semestre de 2023.
O banco completou 80 anos de idade em março de 2023. Se os 80 anos de histórico fizerem jus, acreditamos que o Bradesco voltará a rodar com rentabilidades similares a seus pares.
Das maiores preocupações que tínhamos (tesouraria negativa, custo de crédito crescente e eficiência/digitalização), pelo menos o resultado de tesouraria melhorou significativamente e o banco já sinaliza que pode ficar positivo no segundo semestre de 2023. Outro destaque positivo continuou sendo a unidade de Seguros com um ROE de 18% e crescimento de lucro de R$1,77b, aumento de 10% a/a. O Bradesco não fez mudanças no seu guidance para o ano.
No momento, reiteramos nossa recomendação de MANTER com preço alvo de R$ 15,10. Apesar da gradual melhora em sua rentabilidade e múltiplos de 7,46x P/L23, 5,37x P/L24 e 0,92x P/VP23 atrativos, preferimos bancos como Itaú e Banco do Brasil que foram melhor nesse ciclo de crédito, conseguindo entregar um melhor retorno com ROE próximo de 20% e também negociando a valuation atrativo.
Carteira de Crédito: Optando por menor risco
A carteira de crédito apresentou um total de R$ 642,3b (-2,2% t/t e +3,8% a/a), sendo que a evolução anual se deu pelos produtos com garantias que mantiveram seu crescimento. Já no t/t, a redução ocorreu pelo reposicionamento da política de crédito, optando por categorias de menor risco devido ao momento do ciclo de crédito.
O maior detrator da carteira foi o segmento de grandes empresas que saiu de R$ 137,8b no 4T22 para R$ 122,7b no 1T23, provavelmente com políticas mais cautelosas após os eventos de recuperações judiciais começado pelo caso Americanas. Interessante destacar, o Santander adotou estratégia contraria nesse tri, crescendo sua carteira empresas em 7% t/t e 19% a/a, enquanto o Bradesco contraiu essa carteira em -11% t/t e -11% a/a.
Receita com Juros (NII): Receita Mercado melhorando aos poucos
A receita com juros (NII) seguiu pressionada em R$16,7b, cedendo -2,4% a/a e estável t/t (-0,1%).
- NII Clientes: A evolução de 7,3% no a/a se deu pelo crescimento da carteira de crédito, mix de produtos mais rentáveis, além de um aumento na margem de passivos. Já a queda de 2,9% t/t ocorreu pela menor quantidade de dias no trimestre, além da maior seletividade na concessão que visa melhorar o perfil de risco da carteira, impactando no mix de produtos e consequentemente no spread.
- NII Mercado: Apesar de mais um resultado negativo, a receita com o mercado apresentou uma melhora significativa em relação ao trimestre passado, saindo de -R$ 803m para -R$312m. O movimento se deu pela melhora no resultado de ALM (Asset Liability Management) que deve seguir uma trajetória de melhora ao longo do ano com uma taxa média subindo. A tendência de melhora animou o banco a arriscar declarar que essa linha possa ter resultados positivos no segundo semestre do ano.
PDD: Pressionada pelos massificados
A provisão (PDD) segue em patamar elevado de R$ 9,5b (+96,8% a/a e -36,0% t/t), sendo ainda impactada pelo ciclo de crédito, principalmente, com os segmentos massificados (pessoa física e micro e pequenas empresas), que são mais sensíveis ao cenário econômico desafiador. Importante destacar que no 4T22 teve o impacto de Americanas, o que reflete a forte queda t/t.
Outro ponto que chama a atenção é a inadimplência acima de 90 dias de 5,1% que apresentou um aumento de 0,8pp t/t e 1,9pp a/a, pressionada pelo segmento massificado. Ademais, a contração de carteira ocorrida no t/t também auxilia para o aumento da inadimplência no trimestre.
O banco aumentou bem a baixa para prejuízo, totalizando R$ 7,36b esse tri, bem acima dos R$ 4,9b no 4T22. Esse trimestre, o Bradesco não vendeu carteira. Com isso, o Bradesco continua a consumir rapidamente seu índice de cobertura (> 90 dias), encolhendo substancialmente no trimestre em -22pp t/t e -53pp a/a para 182%.
Seguros: Acima do guidance!
A frente de seguros apresentou uma boa performance no 1T23. O resultado operacional de R$ 3,7b cresceu 11,7% a/a, mas com queda de 14,7% t/t devido a sazonalidade. O bom desempenho se deu pelo crescimento do faturamento, melhora no índice de comercialização e boa performance da margem financeira, o que levou a linha para cima do guidance disponibilizado no trimestre passado. Ainda, o grupo segurador seguiu intensificando as frentes de inovação e tecnologia, resultando em um faturamento superior a R$ 762m no 1T23 nos canais online.
Do lado negativo, o segmento saúde continua sofrendo com altas sinistralidades (94,6%) e a unidade Auto/RCF sofreu com a chuvas no trimestre (saindo de 31,4% no 4T22 para 42,2% no 1T23). O índice de sinistralidade subiu 2,9pp t/t e 2,4pp a/a para 82,1%.
Receitas de Serviços: Fraco e sem sinais de recuperação
As receitas de serviços continuam pressionadas com o mercado de capitais fechado, impactando as operações de Investment Banking e baixo estímulos por parte dos investidores para aplicações em fundos de investimentos de maior risco, o que auxiliaria a frente de Asset Management, já que geralmente possuem maiores taxas. Dessa forma, a linha apresentou uma queda de 5,5% t/t e um ligeiro aumento de 1,6% a/a, impulsionado pela frente de rendas de cartões e consórcio.
Despesas: Dentro do esperado
As despesas tiveram uma redução de 4,6% t/t e um aumento de 5,7% a/a, ficando na faixa inferior do guidance apresentado no trimestre passado.
- Despesas de pessoal: Apresentaram uma estabilidade no t/t (+1,1%), sendo que o aumento de 9,6% a/a se deu pelo acordo coletivo dos bancários ocorrido em setembro de 2022.
- Outras despesas administrativas: A queda de -8,8% t/t se deu pelo controle dos custos administrativos, além de menores gastos em propaganda. Porém, o crescimento de 2,6% a/a ocorreu pelos maiores investimentos em tecnologia e canais digitais.
Imposto
A alíquota de imposto do trimestre foi baixa, ficando em apenas 10%, beneficiada pelo pagamento de juros sobre capital próprio (JCP), no qual o banco usou o máximo permito.
Capital
O índice de capital principal ficou em 11,1% (+0,1pp t/t) e capital nível 1 em 12,6% (+0,2pp t/t), além de um índice de Basiléia de 15,1% (+0,3pp t/t), ficando acima do mínimo regulatório e em situação confortável. Os índices foram suportados pela geração interna de capital e pela redução dos ativos ponderados pelo risco (RWA).