O resultado do 2T24 do Bradesco revela uma recuperação em relação ao trimestre anterior (1T24), com perspectivas otimistas para os próximos períodos. Esse desempenho positivo foi impulsionado pela melhoria no ciclo de crédito, pelo aumento na receita de juros com clientes e pela continuidade da execução do plano estratégico. O lucro reportado foi de R$ 4,7 bilhões (+12,0% t/t e +4,4% a/a), superando nossas expectativas em 7,1% e o consenso do mercado em 8,6%. O ROE atingiu 11,8%, mostrando uma melhora de +1,3 pp t/t e +0,3 pp a/a, ainda abaixo do custo de capital do banco de em torno de 15,1%. Contudo, com a evolução de resultado deste trimestre, há uma possibilidade crescente de que o ROE alcance o custo de capital antes do previsto, antecipando a projeção do CEO que indicava essa meta para algum trimestre de 2026. Os destaques nesse trimestre foram a inflexão do Margem Financeira com Clientes, a continua queda do custo de crédito e a mensagem da administração de uma tendencia contínua de melhoras em vários indicadores.
No trimestre, o Bradesco avançou com a mudança no mix da carteira de crédito, focando na expansão de linhas e produtos com margens mais elevadas, ao mesmo tempo em que manteve a qualidade da carteira. Como resultado, a Margem Financeira com Clientes voltou a crescer t/t, após seis trimestres de contração, marcando um ponto de inflexão nas receitas.
Além disso, as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD), líquidas de recuperação de crédito, apresentaram uma retração significativa de -6,7% t/t e -29,3% a/a, refletindo a melhora na qualidade das safras de crédito e a eficiência aprimorada nas cobranças, que aumentaram as recuperações de crédito.
A recuperação nas Receitas de Serviços também foi um ponto positivo no trimestre, expandindo +5,1% t/t e +6,4% a/a. Por fim, a unidade de Seguros continuou a sustentar o resultado consolidado, com um lucro de R$ 2,2 bilhões e um ROE de 22,1%.
Nos primeiros 6 meses de 2024, o Bradesco alcançou um lucro de R$ 8,9 bilhões, correspondendo a uma projeção anualizada de R$ 17,8 bilhões. Com a crescente melhora dos resultados e possivelmente um segundo semestre mais robusto, a administração do banco demonstrou confiança na conference call, indicando que o lucro para o ano deve superar a média do guidance para 2024, que é de R$ 18 bilhões, com o intervalo das estimativas dos analistas variando entre R$ 17,5 bilhões e R$ 18,5 bilhões. Nossas estimativas para o lucro implícito são de R$ 18,1 bilhões (link para leitura do relatório).
Guidance 2024: Mantido, mas expansão em receitas continuam a ser o principal desafio
Embora reconheçamos que o resultado ainda não alcance o pleno potencial do banco, o desempenho do 2T24 nos sugere uma recuperação gradual e constante, apontando para uma melhoria nos resultados nos próximos trimestres. Reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com um preço-alvo de R$ 17,00 (34% de up-side). Acreditamos que as ações apresentam múltiplos atrativos, sendo negociadas a 7,2x P/L 24E e 5,5x P/L 25E, além de um P/VP 24E de apenas 0,8x.
Lucro, Custo de Crédito e ROE: Melhora de ROE puxado por diminuição das despesas com PDD e inflexão no NII de Clientes
Bradesco (BBDC4) | Resultado 2T24: Inflexão em receitas e forte redução na PDD foi driver do lucro
Carteira de Crédito: Acelerando “step by step”
A carteira de crédito acelerou no 2T24 após um ponto de inflexão no crescimento observado no 1T24, registrando um aumento de +5,0% a/a e +3,4% t/t, alcançando R$ 658b (visão Banco Central, BACEN). Embora esse crescimento ainda seja modesto, entendemos que indica uma retomada gradual na concessão e expansão do crédito. O banco tem elevado os níveis de originação de crédito, promovendo o aumento nas taxas de aprovação de crédito (+25,7pp a/a), número de clientes com crédito pré-aprovado (+20% a/a) e no volume de oferta de crédito (+27% a/a). O guidance de 2024 prevê um crescimento entre 7% e 11%.
O segmento de Pessoa Jurídica (PJ) apresentou um crescimento moderado de +5,1% a/a e +5,2% t/t. Esse desempenho foi fortemente impulsionado pelo segmento de PMEs, que registrou um aumento de 7,0% a/a e 6,1% t/t, em linha com a estratégia de crescer em linhas de crédito mais arriscadas com maiores spreads. O segmento corporate seguiu crescendo, mas com desempenho mais moderado (+2,8% a/a e +4% t/t).
Já o segmento Pessoa Física (PF) também apresentou um crescimento fraco de +5% a/a e 2,1% t/t.
Olhando a carteira expandida, que inclui outras operações de crédito que geram receita para o banco, mas que não são reconhecidas pelo BACEN, vemos uma expansão de +5,0% a/a e +2,5% t/t.
Receita com Juros (NII): Puxada pela margem com clientes
Apesar da queda de -5,9% a/a, a Receita Líquida de Juros (NII) mostrou um ponto de inflexão importante após sucessivos trimestres em queda, com leve expansão de +2,8% t/t, totalizando R$ 15,58b.
O NII Clientes inflexionou depois de cair sequencialmente nos últimos 6 trimestres, chegando a R$ 15,2b (+5,0% t/t e -8,4% a/a). Apesar do resultado ainda aquém, pudemos observar uma leva expansão da taxa média (spread) no trimestre (+0,1pp t/t), como efeito das mudanças no mix da carteira.
Margem Financeira (NII): Inflexão nesse trimestre
O NII Mercado apresentou uma forte queda de -48,4% t/t, apesar de ter revertido o resultado negativo de R$ -96 milhões registrado no 2T23, totalizando R$ 325m. Essa queda trimestral está relacionada a ganhos menores de arbitragem, além da elevação dos juros futuros no período que impactou a marcação de mercado.
Provisão para Devedores Duvidosos (PDD): Forte queda t/t e a/a
A provisão para devedores duvidosos (líquida de recuperações de crédito) apresentou uma robusta melhora no trimestre, totalizando R$ 7,3b com quedas acentuadas de -6,7% t/t e -29,3% a/a. Essa melhora é reflexo da melhor qualidade das novas safras nas operações do massificado PF e PJ e das melhorias na jornada de concessão de crédito para os clientes, que tem gerado aumento na recuperação de crédito.
Em relação a inadimplência considerando atrasos +90, vemos uma retração de -0,5 pp t/t e -1,4pp a/a, chegando a 4,3%. O destaque positivo foram os segmentos de Pessoa Física (PF), que apresentaram retração de -0,3pp t/t e -1,5pp a/a, e PMEs, que retraíram -1pp t/t e -1,6pp a/a.
Por fim, o índice de cobertura apresentou um leve aumento na visão gerencial no trimestre (+6pp t/t e +6pp a/a), chegando a 170%. Utilizando a nossa metodologia de cálculo (E-H), O índice de cobertura ficou em 150,1% (+9,7pp t/t e +3,4pp a/a).
Seguros: Resultado Positivo
A unidade de seguradora apresentou um lucro de R$ 2,2b (+12,7% t/t e -7,4% a/a), e foi um dos destaques positivos do trimestre com um bom desempenho operacional e ROE de 22,1% (-2,3pp t/t e -2,4pp a/a), índice de sinistralidade de 78,6% (+0,2pp t/t e -1,6pp a/a).
O resultado das operações de seguros, previdência e capitalização (linha que compõe os demonstrativos de resultado consolidado) ficou em R$ 4,6b (+16,1% t/t e -4,1% a/a). A forte expansão foi guiada pela expansão dos prêmios ganhos (+3,5% t/t e +4,3% a/a).
O desastre no Rio Grande do Sul não foi significativo o suficiente para comprometer o desempenho operacional da companhia. As despesas com sinistros totalizaram R$ 11,5b, uma variação de -0,9% t/t e +4,4% a/a. Os efeitos relacionados ao RS ficaram concentrados neste trimestre, totalizando R$ 164m em impacto bruto e R$ 100m de efeito líquido.
Analisando as unidades separadamente, o segmento de Saúde apresentou resultados sólidos, com uma forte expansão do lucro de +37,9% a/a e +4,6% t/t, totalizando R$ 335m. A unidade de Vida e Previdência também teve um desempenho positivo, com o lucro crescendo +20,8% t/t, embora ainda apresentando uma queda de -7,7% a/a, registrando R$ 1,38b no trimestre.
Receita com Prestação de Serviços (Fee): Expansão t/t e a/a
As receitas de prestação de serviços tiveram um bom desempenho, apresentante forte expansão de +5,1% t/t e +6,41% a/a, totalizaram R$ 9,3b. A melhoria foi puxada pelas linhas de Operações de Crédito (+13,53% t/t e +29,1% a/a) e Administração de Fundos (+6,4% t/t e +11,2% a/a).
Despesas: Outras receitas e despesas apresentam forte expansão
As despesas administrativas totais ficaram controladas no trimestre, apresentando crescimento de +4,4% t/t e +4,8% a/a, totalizando R$ 14,2b. Por outro lado, as “outras receitas/despesas operacionais”, apresentaram um aumento significativo de +39,8% t/t e +55,1% a/a, impactado negativamente pela elevação das contingências cíveis e fiscais.
Imposto: Beneficiado pelo JCP
A alíquota de imposto ficou em 19%, beneficiada, em parte, pelo pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP) e pelos resultados antes de impostos ainda aquém do normalizado.
Capital: Leve queda t/t e a/a
O índice de Basiléia ficou em 15,2%, com queda de -0,2pp t/t e -0,8pp a/a. Já o capital nível I fechou em 12,6% (-0,1pp t/t e -0,3pp a/a), impactado pela retomada do crescimento da carteira de crédito e marcação a mercado da carteira de títulos.