Na nossa avaliação, o 3T23 traz indícios de que o Bradesco enfrentará desafios relevantes na retomada do crescimento da margem financeira com clientes e da carteira de crédito de forma rentável. A recuperação de rentabilidade (ROE) para níveis mais próximos a 20% pode demandar mais tempo do que inicialmente esperado, possivelmente até 2026. A margem de juros com clientes teve uma contração de -4,9% t/t e -9,6% a/a, enquanto a carteira de crédito permaneceu em R$ 626 bilhões, registrando pouca evolução em relação ao trimestre anterior e contraindo -2,8% a/a.
O Bradesco apresentou um lucro líquido de R$ 4,62b no 3T23, queda de -11,5% a/a mas 2,3% maior t/t. O resultado ficou levemente abaixo das nossas expectativas e em linha com o consenso de mercado. A rentabilidade (ROE) manteve-se em patamares abaixo do histórico do banco e em comparação com seus pares, apresentando um ROE de apenas 11,55% – o menor entre os bancos incumbentes neste trimestre.
Apesar da rentabilidade ainda estar consideravelmente abaixo de seus rivais, o Bradesco demonstrou sinais de melhoria no resultado do 3T23, especialmente na redução da inadimplência e na menor necessidade de provisionamento para créditos em atraso. Embora esses indícios sejam promissores e representem uma etapa crucial na recuperação do crescimento de lucro e rentabilidade, sua capacidade de gerar receita de crédito foi impactada de forma significativa nesse processo de limpeza de balanço.
Nesse 3T23, o lucro teve uma melhora sequencial de 2,3% t/t, impulsionado pelos resultados positivos das receitas de serviços e margem com mercado, despesas administrativas sob controle, e uma redução significativa na Provisão para Devedores Duvidosos (PDD), especialmente no segmento massificado, reflexo da melhoria da qualidade das novas safras de crédito. As operações de seguros continuaram robustas, enquanto as despesas operacionais permanecem controladas.
Para o ano de 2024, antecipamos uma recuperação gradual na receita, impulsionada por diversos fatores: a margem com o mercado retornando a níveis mais normalizados, impulsionada pela redução da Selic; o crescimento da margem com clientes, impulsionado por volumes de crédito mais elevados e uma melhoria no mix com spreads mais amplos, devido à retomada do apetite de risco; o crescimento das receitas com tarifas, superando a inflação; e a unidade de seguros mantendo bons resultados. Em relação as despesas, prevemos que as provisões de crédito permaneçam relativamente estáveis, sem crescimento ou com uma leve redução em comparação com 2023, além de uma contenção nos gastos da linha de ‘outras despesas administrativas’. Nossa projeção é um lucro líquido de R$ 24,3 bilhões para 2024 (+27,3% 24/23), resultando em um ROE de 14,2%, indicando uma melhora, embora ainda bem abaixo da marca dos 20% de ROE.
Por ora, reiteramos nossa recomendação de MANTER, com um preço alvo de R$ 17,30 (2024 como base). Apesar de um valuation atrativo a 8,52x P/L 23E caindo para 6,69x P/L 24E e 0,99x P/VP 23E, não enxergamos gatilhos de curto prazo que beneficiem uma re-precificação consistente na ação.
Bradesco (BBDC4) | 3T23: Margem (NII) e crédito em queda
Carteira de Crédito: Parou de crescer para limpar o balanço
A carteira de crédito (visão BACEN) estacionou em R$ 626,5b, estável t/t e com uma contração de 2,8% a/a. A variação reflete o reposicionamento da política de crédito com maior foco em modalidades de menor risco, as quais ganharam maior participação no mix de produção.
Receita com Juros (NII): Contração
As receitas líquidas de juros (NII) vieram mais fracas no trimestre, totalizando R$ 15,9b, redução de -4,2% t/t e -2,6% a/a. O impacto negativo veio da margem com clientes que apresentou uma retração na taxa média dos spreads. Por outro lado, a margem com mercado já atingiu o breakeven, chegando a R$ 23m no 3T23.
A margem com clientes teve uma queda de -4,9% t/t com a taxa média caindo -0,6 pp t/t (9,1% ante 9,7% no 2T23), reflexo do mix de produtos mais conservadores com spreads mais baixos, menores volumes e impacto das carteiras que entram em atraso e deixam de contabilizar receitas de juros.
A margem de mercado continua a se recuperar gradualmente, mas ainda bem aquém de um resultado forte. A margem com mercado ficou no breakeven nesse trimestre (+R$ 23m), registrando uma melhora de R$ 119m t/t e de R$ 1,3b a/a.
Provisão para Devedores Duvidosos (PDD): Primeira queda do ciclo
As despesas de provisão para devedores duvidosos (PDD) atingiram R$ 9,2b (-10,9% t/t e +26,4% a/a) – marcando a primeira queda t/t de PDD (excluindo a PDD de Americanas 4T22) desse ciclo de crédito que começou em meados de 2021. A forte redução na comparação trimestral foi influenciada pela melhoria no perfil da carteira do segmento massificado. As despesas do trimestre permanecem concentradas nas safras mais antigas, enquanto as safras de crédito mais recentes reportam resultados positivos.
O índice de inadimplência acima de 90 dias (NPL 90+) aumentou de 5,9% no 2T23 para 6,1% no 3T23, considerando o efeito de Americanas (com aproximadamente R$ 2b entrando em atraso esse trimestre, mas 100% provisionado no 4T22). Excluindo o impacto da varejista, o NPL 90+ teria diminuído de 5,7% no 2T23 para 5,6% no 3T23, apresentando assim uma melhora de 0,1pp t/t – a primeira melhora desse ciclo de crédito.
O índice de inadimplência de curto prazo (15-90 dias) apresentou melhora em todos os segmentos, refletindo o melhor desempenho das novas safras e possivelmente melhorando o desempenho do NPL 90+ mais à frente.
Por fim, o índice de cobertura ficou estável t/t em 155%. O banco ressaltou que 60% da carteira em atraso acima de 90 dias já está totalmente provisionada.
Seguros: Resultados sólidos continuam ajudando o consolidado
A unidade seguradora apresentou um lucro líquido de R$ 2,3b (-0,8% t/t e +57,5% a/a), com uma rentabilidade (ROE) expressiva de 23,9% (-0,6pp t/t e +6,9pp a/a) no 3T23, representando 50,9% do lucro total do conglomerado.
O resultado operacional de seguros atingiu R$ 4,6b, retração de 4,5% t/t, mas um crescimento robusto de 33,3% a/a. O bom desempenho em todos os segmentos no trimestre é atribuído à expansão do faturamento, à melhoria do índice de comercialização e ao resultado financeiro.
Receitas de prestação de serviços: Melhora sequencial
As receitas de prestação de serviços atingiram R$ 9,1b (+4,1% t/t e +2,9% a/a). Destaque positivo no trimestre para a linha de assessoria financeira que atingiu R$ 526m (+113,8% t/t), administração de fundos (+8,5% t/t) e consórcios (+12,0% t/t). Lembramos que o Bradesco participou da emissão da debênture de Aegea no trimestre, que gerou uma comissão substancial de R$ 1b para os 7 bancos envolvidos na emissão. Do lado negativo, as receitas com conta-corrente retraiu -3,8% t/t e cobrança e arrecadações que caiu -2,9% t/t.
Despesas: Bom controle
As despesas administrativas seguem bem controlada, totalizando R$ 13,7b, aumento irrelevante de apenas +0,4% t/t e +0,8% a/a. O trimestre foi impactado principalmente pelo aumento nas despesas pessoais, reflexo do efeito do dissídio que ocorreu em set/23.
Imposto: Baixa alíquota
A alíquota de imposto ficou em apenas 10% no trimestre, beneficiada pelo pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP) e pelo resultado tributável mais fraco.
Capital: Melhora nos índices
O índice de capital principal ficou em 11,8% (+0,4pp t/t), enquanto o índice de capital nível 1 chegou a 13,4% (+0,6pp t/t), beneficiado principalmente pela geração de lucro líquido e redução dos ativos ponderados pelo risco (RWA) considerando os efeitos regulatórios da resolução 229. Já o índice de Basiléia fechou o trimestre em 16,0%.