Pontos de destaque:
(i) A logística de estocagem e escoamento deve ser o maior desafio para o agronegócio brasileiro; (ii) Com problemas climáticos nos EUA, o mundo passou a depender mais do Brasil para oferta de soja e milho; (iii) O momento mais crítico do El Niño deve ter ficado para trás; (iv) A gestão está otimista com a recuperação do preço do milho; (v) Apesar dos desafios, o percentual de replantio das fazendas tem sido baixo; (vi) Projetos de expansão de conectividade rural e de irrigação devem melhorar a eficiência da companhia; (vii) Proporção entre terras próprias e arrendadas deve seguir sendo de ~50% cada; (viii) Companhia deve focar em redução de custos e ~10% do portfólio de fazendas deve ser renovado por ano; (ix) Continuamos com viés baixista para as commodities agrícolas; (x) Reiteramos recomendação de MANTER com Target Price 12M de R$ 28,00.
A BrasilAgro realizou seu Investor Day 2023 na última sexta-feira, dia 01 de dezembro. Durante o evento, a gestão abordou perspectivas para o setor e para a companhia, no curto, médio e longo prazo, assim como projetos no pipeline que podem contribuir para a maximização da eficiência das fazendas.
Seguimos com um viés baixista para as commodities agrícolas, e vendo a estratégia de hedge operacional da companhia com um risco relativamente elevado. Deste modo, reiteramos nossa recomendação de MANTER com Target Price 12M de R$ 28,00.
Visão de commodities agrícolas e o maior desafio para o agronegócio brasileiro
Em 2023, o Brasil apresentou recorde de exportações de algumas commodities agrícolas, em especial, de milho e soja. Com as safras de milho e soja nos EUA enfrentando problemas climáticos, o mundo passou a depender cada vez mais do Brasil para a oferta dessas commodities.
Olhando adiante, em relação ao preço das commodities agrícolas, a gestão espera efeitos regionais, com Chicago respeitando o estoque e demanda global, mas um efeito de prêmio presente em regiões do Brasil, a depender do local e habilidade de se colher as safras mais cedo, e estocar com êxito. De modo geral, temos um viés baixista para as principais commodities agrícolas, sobretudo para soja e milho.
A gestão discorreu sobre problemas que prejudicaram o plantio de soja no Brasil neste ano, frisando que essas irregularidades acabaram adiando a janela de plantio da 2ª safra, prejudicando, assim, sua produtividade. Se mostraram ainda otimistas com a recuperação do preço de milho, e mencionaram que esperam um forte crescimento na produção brasileira de milho nos próximos 10 anos, bem acima do crescimento esperado na produção de soja. Projetam também que, com a expansão do uso do etanol, a demanda por milho siga uma tendência de crescimento.
Além disso, vale dizer que a gestão enxerga o Brasil como um grande produtor de trigo nos próximos anos, e que o país deve se tornar, gradualmente, mais um produtor de alimentos, no geral, do que um produtor focado apenas na produção de soja e milho.
O management destacou ainda que a produção agrícola no Brasil tem crescido mais rápido do que a capacidade logística do país. Assim, a logística de escoamento e estocagem do agronegócio brasileiro deverá ser um dos maiores desafios para o setor no curto, médio e longo prazos.
Perspectivas do segmento operacional: baixo nível de replantio e otimismo com a 2ª safra
Em Mato Grosso, houve a necessidade de se realizar alguns replantios, devido a um clima errático, mas que a região em que houve os maiores problemas de plantio foi a Bahia, decorrentes dos efeitos do El Niño. Espera-se uma normalização nos próximos meses, com os momentos mais críticos do El Niño tendo ficado para trás.
No entanto, no geral, o percentual de replantio na área total de fazendas da BrasilAgro tem sido baixo, ~3k ha, o que vemos com bons olhos. Ainda do lado positivo, a gestão destacou a perspectiva favorável para a produtividade da 2ª safra de milho e algodão, e para a produção cana-de-açúcar.
Além disso, a companhia possui projetos em andamento que devem tornar suas fazendas mais eficientes, como o de melhora da conectividade rural nas fazendas, e de irrigação. Vê-se alto potencial para este último na Fazenda Chaparral e em demais áreas da Bahia. A gestão enfatizou que a irrigação de fazendas pode aumentar consideravelmente sua produtividade, contribuindo para um rápido payback, e que pode ainda impulsionar uma valorização dessas fazendas e uma ampliação de liquidez das terras.
Ademais, frisou-se a importância da utilização de bioinsumos para suportar o segmento operacional da companhia. O management mencionou ainda que a produção estimada da companhia é recorde, suportada por áreas maiores de plantio e pela boa localização das fazendas, e que a perspectiva acerca da demanda de consumidores de commodities agrícolas, segue favorável, em particular a oriunda da China e dos EUA.
Além disso, foi realçado que a companhia vem investido em feijão, destacando-se a aquisição bem-sucedida da Agrifirma, e que se têm aumentado o cultivo de gergelim e crescido timidamente o cultivo de algodão (cultura mais demandante em capital). Vale destacar que o racional da BrasilAgro investir em culturas especiais, como o gergelim, é o de utilizar o máximo da terra e diferenciar a companhia.
A gestão mencionou que existem áreas remanescentes pendentes a serem incorporadas, como em Arrojadinho e Chaparral. Nota-se ainda que, quando se incorpora uma nova área, não há como se plantar a 2ª safra nela, então as áreas incorporadas no último ano, a companhia não está plantando a safrinha. Ao somar as incorporações já realizadas com as pendentes a serem feitas, e com a maturação dessas novas áreas, a BrasilAgro passará a ter ~10k ha de 2ª safra.
Perspectivas do segmento imobiliário: a companhia segue vendedora
Em relação ao segmento imobiliário, o management vê uma liquidez corrente importante no mercado, e deverá seguir vendendo fazendas, principalmente as que já se encontram em um avançado estágio de maturação e que apreciaram de modo relevante. Porém, vale dizer que a companhia tem observado uma acomodação dos preços de fazenda, com a euforia tendo passado. Caso o cenário atual prevaleça, o portfólio deve ser gradualmente renovado nos próximos anos.
A gestão enxerga também que atualmente seja um momento de ser seletivo em operações de arrendamento, uma vez que se espera uma queda nos preços de arrendamento. Nos últimos anos, a alta cotação do milho vinha sendo o motor de altos preços de arrendamento. A companhia deve buscar operações que mitiguem o risco operacional, e seguir visando manter a proporção de 50% em áreas arrendadas e 50% em terras próprias.
Expectativas para o futuro: foco em redução de custos e pequena renovação do portfólio por ano
Ao longo dos próximos anos, a BrasilAgro deve focar cada vez mais em redução de custos, se tornando mais eficiente por meio da racionalização do emprego da tecnologia nas fazendas. Segundo o management, no agronegócio, a redução de custos mais relevante virá por meio da digitalização, ou seja, da ampliação da cobertura de internet nas fazendas no médio-longo prazo. Atualmente, apenas ~15% das terras agrícolas contam com cobertura de internet, percentual pequeno e com amplo potencial de crescimento.
A companhia deverá ainda renovar ~10% de seu portfólio de fazendas por ano no médio-longo prazo, e entregar ~R$ 250m a R$ 300m de EBITDA operacional ao ano. A gestão enxerga que essa deverá ser uma estratégia vencedora no longo prazo.
Nossa visão e recomendação
Em nossa visão, o business de combinar produção de commodities agrícolas com o mercado imobiliário do agronegócio é interessante para o longo prazo. Acreditamos ainda que os projetos que a BrasilAgro possui em seu pipeline podem ser importantes redutores de custos e maximizadores da produtividade de suas fazendas.
No entanto, seguimos vendo um risco significativo na estratégia de hedge operacional da companhia, devido a nosso viés baixista para as commodities agrícolas. Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de MANTER com Target Price 12M de R$ 28,00.