Pontos de destaque:
(i) Cenário de sobreoferta global de frango, que vinha prejudicando a BRF, está se normalizando, e, assim, já viabilizando melhores preços de in natura; (ii) Brasil entregou um resultado sólido, impulsionado pelo portfólio de comemorativos; (iii) Segmento Internacional surpreendeu positivamente, com a melhora de rentabilidade puxada pelo Halal; (iv) Houve geração de caixa no trimestre; (v) Queda na cotação dos grãos beneficiou o 4T23 e deve seguir sendo um importante vento favorável para os próximos trimestres; (vi) Reiteramos recomendação de MANTER com um Target Price 12M de R$ 14,00.
A BRF (BRFS3) reportou um trimestre sólido, com resultados pouco abaixo das nossas expectativas em termos de Receita (-0,7% vs. Genial Est.), mas acima em termos de margem EBITDA (+2,1p.p. vs. Genial Est.).
Observamos uma recuperação sequencial de margens no 4T23, viabilizada por maiores preços de in natura, uma vez que o cenário de sobreoferta global do frango está se normalizando, e por menores custos com grãos. Como projetávamos, o Brasil foi entregou um resultado sólido. Já o segmento Internacional nos surpreendeu positivamente ao entregar uma margem EBITDA de double digits, com sua rentabilidade puxada pelo Halal.
Em nossa visão, a queda nos grãos seguirá como um vento favorável para a BRF nos próximos exercícios. Continuamos acompanhando de perto o processo de desalavancagem da companhia e esperamos ver novas melhorias no capital de giro com a implementação do programa de eficiência BRF+ 2.0, ainda que as principais eficiências já tenham sido capturadas em 2023.
Porém, aspectos como (i) a incerteza quanto à sustentação das melhorias operacionais no segmento Internacional, onde algumas regiões ainda enfrentam baixos preços de venda; (ii) o histórico da companhia em queimar caixa após captações e (iii) a intensa concorrência da Seara e de players regionais e (iv) o baixo upside frente ao preço de tela, nos levam a manter uma postura conservadora em relação aos papéis da BRF.
Reiteramos nossa recomendação de MANTER com Target Price 12M de R$ 14,00.
Análise dos Resultados
Foi entregue uma receita líquida de R$ 14,4b (-2,3% a/a e -0,7% vs. Genial Est.), e um EBITDA de R$ 1,9b (+76,3% a/a e +18,6% vs. Genial Est.). Assim, a empresa alcançou uma margem EBITDA de 13,2% (+5,9p.p. a/a e +2,1p.p. vs. Genial Est.). Por fim, a companhia reportou um lucro líquido de R$ 754m, com uma margem líquida de 5,2% (+11,7p.p. a/a e +3,4p.p. vs. Genial Est.).
BRF: Variação Anual e Trimestral
Brasil segue em relevante trajetória de melhora, e segmento Internacional surpreende. No Brasil, foi entregue um resultado sólido tanto em termos de receita quanto de margens. Vimos (i) um crescimento sequencial de volume de vendas (+5,6% t/t e -2,2% a/a), impulsionado pelo portfólio de comemorativos, aliado a (ii) um pequeno avanço sequencial no preço médio de venda (+6,6% t/t e -2,7% a/a), com destaque para o aumento do preço de venda do in natura, fatores que impulsionaram a receita dessa business unit, a qual alcançou R$ 7,4b (+12,7% t/t e -4,8% a/a). Além disso, a queda nos grãos, em conjunto com o programa de eficiência BRF+, contribuiu para (iii) uma relevante expansão da margem EBITDA da operação, a qual atingiu 15,6% (+3,7p.p. t/t e +5,7p.p. a/a).
No segmento Internacional, vimos uma recuperação sequencial bastante importante em termos de rentabilidade, puxada pelo Halal. Assim, vimos (i) um top-line apresentando um pequeno avanço sequencial, o qual alcançou R$ 6,2b (+3,1% t/t e -0,5% a/a), devido a (ii) recuperação nos preços de venda de frango, em virtude de uma melhora em alguns mercados, puxado pelo Halal. O segmento entregou ainda (iii) uma expressiva expansão de margem EBITDA, a qual atingiu 11,1% (+6,9p.p. t/t e +8,4p.p. a/a) e nos surpreendeu positivamente, que foi viabilizada pela queda nos grãos e sucessivas melhorias oriundas da implementação do BRF+.
Um dos principais destaques positivos: enfim, geração de caixa. Após vários trimestres de queima de caixa, e um 3T23 em que a companhia se aproximou de um breakeven, entregando um fluxo de caixa negativo em -R$ 23m, vimos, no 4T23, uma geração de caixa de R$ 613m, possível em virtude de (i) uma melhoria no desempenho operacional da companhia e (ii) um alívio no resultado financeiro devido ao follow-on de R$ 5,4b realizado previamente.
Nota-se ainda que a companhia encerrou o 4T23 com uma alavancagem em queda, assim, a BRF encerrou 2023 com uma alavancagem de 2,0x Dívida Líquida/EBITDA UDM (vs. 2,7x no 3T23 e 3,5x no 4T22), o que vemos com bons olhos.
Nossa visão e recomendação
Para os próximos exercícios, enxergamos aspectos promissores, como (i) a expectativa de queda nos preços das commodities que compõem o COGS da companhia (soja e milho); (ii) a normalização na dinâmica de oferta e demanda da proteína de frango, que deve contribuir para melhores preços de venda e (iii) o progresso na implementação de do programa de eficiência BRF+ 2.0, que deve contribuir para melhorias operacionais (ainda que a maior magnitude das capturas de eficiência tenha ocorrido com o BRF+ 1.0).
No entanto, fatores como (i) uma falta de clareza acerca da manutenção das melhorias operacionais no segmento Internacional, com algumas regiões ainda sofrendo com preços de venda baixos; (ii) uma incerteza sobre se a companhia conseguirá manter sua alavancagem controlada; (iii) o histórico da empresa de usar muito caixa após captações e (iv) a forte concorrência da Seara e de players regionais no mercado nacional, nos mantém conservadores em relação às ações da BRF.
Portanto, mantemos uma abordagem cautelosa em relação aos papéis da companhia e reiteramos nossa recomendação de MANTER com Target Price 12M de R$ 14,00.