O Carrefour irá reportar seu resultado do 4º trimestre de 2024 no dia 18/fev. Apesar do Atacadão recuperar um pouco do Same Store Sales na visão sequencial, em termos de rentabilidade, a nossa expectativa é de um conjunto fraco, com tendências negativas para a rentabilidade no Atacadão, Sam’s Club e no Banco Carrefour.
Esperamos vendas totais de R$ 32,8 bilhões, avançando +5,6% a/a – impulsionadas por uma performance positiva em vendas do Atacadão (SSS +6,0% a/a), que representa pouco mais de 71% da receita bruta do grupo, e pela expansão da área de vendas do Sam’s Club (cerca de 7% da receita total), enquanto o Varejo segue sendo um detrator em função da redução do parque de lojas (-27,1% a/a LTM).
Acreditamos em uma pressão sobre as margens nesse trimestre. A margem bruta consolidada deve continuar contraindo (-68bps a/a Est. Genial), dados os ajustes de precificação realizados no Varejo, com uma pressão adicional vindo de maiores atividades promocionais no Sam’s.
No lucro operacional, entendemos que as maiores despesas com a maturação de serviços em lojas Atacadão e a expansão do Sam’s devem acabar pressionando o resultado consolidado – apesar da melhora no Varejo. Esperamos uma retração de -2,0% a/a do EBITDA aj. consolidado, com uma margem de 6,2% (-50bps a/a).
Combinando o aumento da taxa de juros com alto montante de dívida bruta e o maior montante de recebíveis descontados, entendemos que as despesas financeiras ainda devem pesar sobre a última linha. Esperamos uma retração de -7,7% a/a do lucro líquido ajustado, atingindo R$ 480 milhões.
A alta dos juros seguirá como o maior desafio para o Carrefour. Para 2025, projetamos uma leve melhora no resultado operacional, mas o impacto financeiro ainda será significativo. Apesar da companhia apresentar o menor spread de dívida entre os pares (Figura 1), sua elevada alavancagem deve consumir 46% do lucro operacional — acima dos 45% registrados em 2024.
Figura 1: Overview financeiro de empresas do setor de varejo alimentar, elaborado pela Genial.

Negociando a 11,5x P/E 2025 Est. Genial, não enxergamos gatilhos positivos relevantes no curto prazo, uma vez que o carve-out do Carrefour Property nos parece ter ficado para um horizonte de médio prazo e a companhia começa a realizar, gradualmente, contratos de Sales and Leaseback (SLB) de seus ativos imobilizados.
💭 A exemplo disso, em out/24, a companhia assinou a venda de 15 imóveis para o FII GARE11 (Guardian Real Estate). Esperamos que, dado a piora do cenário macroeconômico, a monetização de ativos imobiliários do Carrefour siga por esse caminho de contratos SLB ao longo de 2025.
Frente a uma alta alavancagem financeira, de 4,1x (Est Genial | visão pré IFRS 16 – inc. recebíveis descontados) e considerando a possibilidade iminente de um possível overhang com a saída da família Diniz (Peninsula Participações), estamos rebaixando a recomendação de Carrefour para MANTER (anteriormente em COMPRAR).
Vale um adendo que, na visão da empresa, utilizando a visão IFRS 16 e inc. recebíveis, a alavancagem do Carrefour seria de 2,7x.
Dadas as mudanças detalhadas na seção ‘Atualização de estimativas’, reduzimos nossa expectativa de lucro para 2025 e 2026 em -17% vs. estimativas anteriores. Com base em nossas novas projeções, cortamos o nosso preço-alvo 12M para R$ 7,50 (anteriormente em R$ 10,50) – upside de 18% em relação ao último fechamento (03/fev).
O que esperar do Carrefour no 4º trimestre de 2025?
Atacadão
Para a vertical de Cash & Carry, projetamos vendas brutas de R$ 23,5b (+10,5% a/a), suportadas principalmente por uma performance positiva em lojas maduras (SSS +6,0% a/a Est. Genial) – apesar de ainda abaixo da inflação alimentar do período (+8,0% LTM).
No 4T24 observamos uma aceleração de ~3p.p. da inflação alimentar vs. o trimestre anterior. Falamos sobre isso em nosso último relatório “Monitor do Varejo Alimentar: 3ª ed. | O pico do aumento de preços já passou?”.
Em meio a um cenário macro desafiador e um alto nível de concorrência, não esperamos aumentos sequenciais de Same Store Sales na mesma magnitude para nenhuma das empresas de Atacarejo sob nossa cobertura.
Ainda assim, acreditamos que o Atacadão deve continuar performando acima de seus pares na visão ‘Mesmas Lojas’ (Assaí +4,5% e +4,3% Mix Mateus). Entendemos que esse desempenho pode ser explicado principalmente pela oferta do parcelamento em 3x, aliada a adição de serviços em lojas maduras.
Vale ressaltar que apesar dessa tendência, entendemos que o gap entre o Atacadão e o seu principal concorrente (Assaí) deve continuar reduzindo em relação aos últimos períodos (+1,7p.p. Est. Genial vs. +3p.p. no 3T24).
Em termos de rentabilidade, acreditamos em uma leve pressão sobre a margem bruta em relação ao ano anterior (-20bps a/a Est. Genial). Frente aos gastos relacionados ao aumento de serviços em lojas e maiores despesas SG&A em comparação com o 4T23, não esperamos uma diluição de despesas no trimestre, gerando um carrego negativo para a margem operacional.
Vale lembrar que no 4T23 a companhia estava operando com uma estrutura mais enxuta para enfrentar um cenário adverso (deflação alimentar + inflação de custos). Projetamos um EBITDA aj. de R$ 1,5b (+7,1% a/a), com uma margem de 7,0% (-22bps a/a).
Tabela 1: Estimativa Genial para o Atacadão no 4T24 (IFRS 16; R$ milhões).

Varejo
Crescimento de vendas ainda impactado pela reestruturação do parque de vendas. Frente ao encerramento de +130 lojas da vertical de Varejo nos últimos 12 meses (entre fechamentos e conversões para Atacadão e Sam’s), acreditamos em uma retração de -12,0% a/a do faturamento bruto (exc. gasolina). Estimamos vendas totais de R$ 6,2b.
Same Store Sales deve se manter positivo. Com a maturação das iniciativas que vem sendo trabalhadas nas lojas do Varejo e o consequente aumento da competitividade da vertical, o SSS deve continuar positivo, com uma leve desaceleração sequencial dada a base comparativa mais forte deste trimestre. Projetamos um crescimento na visão ‘Mesmas Lojas’ de +5,8% a/a (vs. +7,1% no 3T24).
Conforme visto nos últimos trimestres, os ajustes de preços adotados para fortalecer a competitividade da vertical ainda impactam a comparação anual da margem bruta (-25bps a/a Est. Genial). Entendemos que a pressão deve ser menor do que a observada ao longo do ano, uma vez que no 4T23 a companhia já havia iniciado o processo de ajustes de precificação e sortimento. Na visão sequencial, esperamos um leve avanço explicado pelo mix mais favorável do 4º trimestre.
Melhora gradual da margem operacional. Seguindo a tendência dos últimos trimestres, a combinação entre (i) o fechamento de lojas deficitárias e (ii) trabalho para aumentar a eficiência nas operações, deve continuar guiando uma melhora na margem operacional da vertical – tanto na visão anual, quanto sequencial. Projetamos um EBITDA aj. de R$ 221m (+10,9% a/a), com uma margem de 3,5% (+64bps a/a; +76bps t/t).
Tabela 2: Estimativa Genial para o Varejo no 4T24 (IFRS 16; R$ milhões).

Sam’s
No Sam’s Club, esperamos vendas totais de R$ 2,3b (+16,2% a/a), impulsionadas principalmente pela expansão da área de vendas nos últimos 12M (+7 lojas). Esperamos um SSS de +2,1% a/a.
Rentabilidade pressionada. Com parte relevante do portfólio em maturação, entendemos que a rentabilidade da vertical deve sofrer um impacto relevante vindo da combinação entre (i) maiores esforços promocionais, (ii) gastos adicionais com expansão e (iii) investimentos em serviços nas lojas. Acreditamos em uma pressão tanto sobre a margem bruta (-50bps a/a), quanto sobre a margem EBITDA aj. (-309bps a/a).
Tabela 3: Estimativa Genial para o Sam’s Club no 4T24 (IFRS 16; R$ milhões).

Banco Carrefour | CSF
Retração do lucro operacional. O 4T24 foi o primeiro trimestre completo com 100% da carteira dentro da nova política de juros rotativos. Nesse cenário, por mais que estejamos observando uma contínua melhora do NPL e uma carga de risco sobre controle, a limitação sobre o crescimento das receitas de intermediação financeira implica em uma redução da margem da operação – trazendo um impacto sobre o resultado operacional do Banco.
Vale ressaltar que essa pressão deve ser parcialmente compensada por iniciativas de diversificação de receita que vem sendo trabalhadas. Projetamos um EBITDA aj. de R$ 216m (-14,3% a/a).
Tabela 4: Estimativa Genial para o Banco Carrefour no 4T24 (IFRS 16; R$ milhões).

Consolidado
As nossas projeções para o trimestre não consideram despesas não recorrentes relacionadas ao fechamento de lojas das bandeiras Nacional e Bompreço – que deve trazer uma despesa não-recorrente relevante neste trimestre.
Ao final do ano, o Carrefour anunciou sua pretensão de se desfazer de todas as 64 lojas dessas bandeiras. Nesse contexto, entendemos que existe a possibilidade de a companhia contabilizar despesas relacionadas a desmobilização e baixa de ativos já neste trimestre, assim como foi feito em 2023 para refletir a previsão de fechamento das lojas de Varejo ao longo do ano seguinte.
Projetamos um lucro líquido ajustado de R$ 480m – retraindo -7,7% a/a em função do alto montante de despesas financeiras e maiores impostos.
Tabela 5: Estimativa Genial para o Grupo Carrefour Brasil no 4T24 (IFRS 16; R$ milhões).

Visão 2025
Diante do cenário macroeconômico mais desafiador, esperamos uma postura mais conservadora. Acreditamos que o ano de 2025 será marcado pela maturação de lojas e iniciativas estratégicas, controle de despesas e investimentos mais seletivos, enquanto a companhia enfrenta a pressão do aumento do custo de capital e das despesas financeiras.
Cenário inflacionário. Nos últimos meses de 2024 observamos um ganho de inclinação na curva de preços da categoria alimentar. Acreditamos que a tendência para o ano seja uma manutenção do cenário inflacionário (entenda sobre aqui), porém sem acelerações relevantes em relação ao nível apresentado no final do ano passado (8,8% a/a).
Vendas. Entendemos que a dinâmica inflacionária deve favorecer o faturamento das empresas de Cash-and-Carry, beneficiando o Carrefour em 2025. No entanto, a aceleração dos preços na categoria alimentar pode pressionar os volumes de vendas e intensificar o movimento de trade-down nas cestas dos consumidores, diluindo parte do efeito positivo dos preços. Equilibrando as variáveis, projetamos um SSS de +6,4% a/a para o Atacadão em 2025.
Rentabilidade. Entendemos que existem ventos favoráveis a gradual retomada de rentabilidade do grupo nesse ano, sendo eles: (i) maturação das lojas convertidas (tanto conversões Big, quanto conversões de Varejo para Atacadão e Sam’s), (ii) maturação dos serviços em lojas (cerca de 6 meses a nível loja), e (iii) evolução da rentabilidade do Varejo, retomando a patamares históricos dados os ajustes realizados no último ano. Projetamos uma expansão do EBITDA aj. consolidado em +12% a/a, com um avanço de margem na ordem de +30bps a/a.
Controle de Capex. Frente a deterioração do cenário macroeconômico e o aumento do custo de capital, acreditamos que o Carrefour deve adotar uma postura mais conservadora em investimentos. Em nossa visão, a companhia deve desacelerar o ritmo de expansão vs. 2024, focando principalmente em conversões de lojas do Varejo para Atacadão.
Adicionalmente, entendemos que a companhia deve direcionar menos investimentos à adição de serviços em lojas (já tendo implementado essa iniciativa em +150 lojas ao final do 3T24). Nesse contexto, esperamos um capex inferior para o ano de 2025 (-11% a/a Est. Genial).
Despesas financeiras. Acreditamos que o ciclo de alta da Selic deve ser um desafio para o Carrefour neste ano – consumindo parte dos ganhos operacionais. Além do alto montante de dívida bruta, entendemos que o custo com a antecipação de recebíveis do cartão de crédito pesará mais nas despesas financeiras do ano.
Vale lembrar que em 2024 o Carrefour passou a permitir o parcelamento de compras em até 3x sem juros, aumentando o volume de recebíveis e, consequentemente, das despesas de juros com a antecipação (+98% a/a no 2T24 e +110% a/a no 3T24). Nossas projeções contemplam nível de despesas financeiras mais alto para 2025 (+15% a/a Est. Genial).
Tabela 6: Estimativa Genial para o Grupo Carrefour Brasil em 2025 (IFRS 16; R$ milhões).

Atualização de estimativas
Estamos atualizando nossas projeções para refletir a deterioração do cenário macro e a expectativa de um ciclo de alta da taxa de juros – implicando em uma revisão negativa do lucro esperado para os próximos anos.
Apesar de esperarmos tendências positivas para a rentabilidade do Carrefour, entendemos que a combinação entre o cenário competitivo acirrado e um ambiente macroeconômico desafiador devem fazer com que o avanço de rentabilidade seja mais gradual do que inicialmente projetado.
Estamos considerando despesas financeiras mais pesadas, em função do aumento dos juros. Conforme discutido acima, entendemos que com um maior montante de recebíveis a serem descontados e um alto montante de dívida bruta, a alta da Selic deve ser um desafio relevante para a companhia este ano.
Frente as mudanças realizadas, estamos reduzindo nossa expectativa de lucro para 2025 e 2026 em -17%. Com base em nossas novas estimativas, estamos reduzindo o preço-alvo 12M para R$ 7,50 (anteriormente em R$ 10,50) – um upside de 18% em relação ao fechamento do último pregão.
Tabela 7: Atualização de estimativas para o Grupo Carrefour Brasil (IFRS 16; R$ milhões).
