A inflação continuou a ser o grande “vilão” para o consumidor brasileiro no último trimestre de 2021. Apesar de o IPCA ter atingindo um eventual pico entre meados de outubro e novembro do ano passado, o índice continuou pressionando o poder de compra da população nos últimos meses.
A combinação inflação e desemprego acaba se tornando um fator limitante até mesmo para o varejo alimentar. Diante de uma base comparativa muito forte, o crescimento das receitas e dos lucros de “grandes mercearias” acabam perdendo inclinação no último trimestre de 2021.
Vale a pena recordar que, em 2020, apesar da alta inflação acometida ao item de “alimentação e bebidas”, as varejistas alimentares se beneficiaram da vigência do “coronavouncher”. Em um setor de margens apertadas, os atacarejos (Assaí feat. Atacadão) conseguiram repassar preços e crescer receitas, mês após mês.
Mas, já dizia Sorriso Maroto, “Águas passadas, portas trancadas”. Vem com a gente e vamos abrir as portas de nossas estimativas para o Assaí, Pão de Açúcar no 4º trimestre de 2021.
Comentário inicial
Como já adiantamos, a inflação continuou a bater à medida que os preços dos alimentos subiram a taxas excessivas. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação , os preços dos alimentos atingiram seus níveis mais altos desde 2011.
No Brasil, a inflação de “Alimentos e Bebidas” subiu cerca de 7,7% entre janeiro e dezembro de 2021. Com as ondas de outras variantes do coronavírus se arrastando ao longo do ano, o subitem “alimentação em domicílio” continuou a ser um dos mais pressionados.
Para bater de vez o martelo nessa variável, que será uma importante premissa em nossas estimativas, reunimos os índices de inflação e vendas no varejo dos últimos 3 meses de 2020 e 2021.
Frente a um cenário de recessão, a concorrência de preços é um fator crucial no negócio de mercearia. Assim como aconteceu no 3º trimestre de 2021, marcas próprias e modelo de negócio atacarejo acabaram se tornando “cases” vencedores. Para este trimestre, esperamos uma continuidade desse movimento.
Em uma base de comparação muito difícil, esperemos uma queda de margens das companhias do setor. Apesar de uma desaceleração, esperamos que as vendas no atacarejo continuem crescendo, enquanto os hipermercados continuam sofrendo em meio ao cenário macro desfavorável ao seu modelo de negócios.
O que esperar para o Assaí (ASAI3)?
A rede de atacado Assaí reportará seus resultados em 21 de fevereiro, após o fim do pregão.
No último trimestre do ano passado, a rede de atacarejo Assaí abriu cerca de 28 lojas – um montante superior à abertura para todo o ano de 2020.
Esperamos que a receita líquida do Assaí cresça a 8,5%, ano a ano, atingindo R$ 11,6 bilhões no 4º trimestre, beneficiada pelas aberturas de lojas durante o período.
A margem bruta do atacarejo deve vir estável em relação ao 4º trimestre de 2020, em 17,2% (alta de 15 pontos-base). Por outro lado, o EBITDA ajustado deve sentir uma pressão, cedendo -0,4 ponto percentual na comparação anual.
As maiores despesas financeiras e maior taxa de financiamento de suas dívidas pressionará o lucro líquido do Assaí. Esperamos uma diminuição de 0,4 ponto percentual na margem líquida da companhia.
O que esperar para o Carrefour Brasil (CRFB3)?
O Grupo Carrefour irá divulgar seus resultados para o 4º trimestre no dia 15 de fevereiro, após o encerramento do pregão.
Analisando a receita líquida por segmento, estimamos uma queda nas vendas líquidas para os hipermercados, pressionado pela natureza altamente elástica de produtos não-essenciais e em meio a um cenário de recessão econômica.
O Atacadão, braço de atacarejo do Carrefour, manterá uma trajetória positiva de crescimento de receitas, na comparação anual. Parte desse crescimento é devido à abertura de lojas desse segmento. No entanto, esperamos que este número relativo seja muito menor do que o consolidado do 4º trimestre de 2020 (e até mesmo menor do que o 3º trimestre de 2021).
Consolidando os números, estimamos um crescimento anual de 5,6% nas receitas líquidas do Grupo, atingindo R$ 21,9 bilhões. A margem de lucro bruto é esperado em 18,6%, estável em relação ao mesmo período de 2020.
Impactado por maiores despesas com o programa de fidelidade “Meu Carrefour”, esperamos uma queda de 0,9 ponto percentual no EBITDA ajustado para o Grupo.
Olhando para o “bottom line” – linha referente ao lucro líquido -, estimamos uma forte compressão na base anual, impactado pela maior despesa financeira no 4º trimestre (afetado pelos custos com o processo de aquisição do BIG) e pelas maiores taxas de juros do mercado. A margem de lucro líquido ajustado deve cair cerca de 1,5 ponto percentual, para R$ 650 milhões.
O que esperar para o Grupo Pão de Açúcar (PCAR3)?
O Grupo Pão de Açúcar será a ultima entre as varejistas alimentar a reportar seus números para o 4º trimestre, após o encerramento do pregão em 23 de fevereiro.
Estimamos uma queda anual de dígito baixo (-2,6%) nas vendas líquidas para o Grupo, atingindo R$ 14,4 bilhões. A cifra do “top line” foi fortemente afetada pela operação do grupo no Brasil, fortemente exposta ao modelo de hipermercados. Por outro lado, o Grupo Éxito deverá ter um bom crescimento de receitas no período, beneficiado, principalmente, pelo seu braço na Colômbia.
A margem bruta consolidada deve retrair 6,4 pontos percentuais em termos anuais, mas em linha com os resultados dos últimos dois trimestres.
Para o EBITDA ajustado também esperamos uma forte retração anual, algo próximo a 7,1 pontos percentuais.
O lucro líquido ajustado do Pão de Açúcar virá com o impacto de um item não recorrente: a venda de 71 lojas da bandeira Extra ao Assaí. Estimamos uma entrada de 20% do valor pago pela negociação total, que foi na casa dos R$ 5,2 bilhões.
A cifra deverá beneficiar o Grupo, elevando seu lucro líquido para R$ 772 milhões. No entanto, a margem líquida deve retrair em 3,5 pontos percentuais na base anual. Vale lembrar que no último trimestre de 2020, o Pão de Açúcar reconheceu o crédito fiscal de R$ 1,2 bilhão referente a exclusão do ICMS da base de PIS e Cofins.