A C&A realizou o seu Investor Day 2024 nessa terça-feira (9/abr). Ao longo deste relatório trazemos os principais pontos explorados ao longo do evento. Aproveitamos a oportunidade para atualizarmos as estimativas para a companhia nos próximos anos, de modo a refletir a nova estratégia da C&A para o ciclo de crescimento do próximo triênio (2024-2026).
Após um ano de bons resultados e crescimento acima do mercado, entendemos que as iniciativas a serem implementadas pela C&A devem continuar impulsionando a operação nos próximos anos, colocando a companhia em uma nova trajetória de crescimento de faturamento e rentabilidade.
Mesmo subindo 126% desde o nosso Início de Cobertura, ainda vemos C&A negociando com um desconto considerável em relação aos pares – o que não faz sentido dado as entregas sequenciais que a companhia vem reportando. Em nossas estimativas, a companhia negocia a um múltiplo EV/EBITDA aj. 2024 de 3,6x (Est. Genial) – 39% abaixo da média do setor estimado para o ano.
Assim, mantemos a perspectiva positiva para a companhia nos próximos anos. Reiteramos nossa recomendação de COMPRA, com target price 12M de R$ 15,00 (vs. R$10,00 anteriormente).
Destaques do evento
Próxima jornada de crescimento. Ao longo do evento, a C&A apresentou sua estratégia que deve nortear as ações dos próximos anos, buscando um novo ciclo de crescimento sustentável que continue gerando valor para a companhia. O novo plano estratégico (“Energia C&A”) está alinhado com o objetivo da companhia de ser mais relevante e assertiva – buscando um maior nível de spending dos clientes, continuidade do crescimento do Push & Pull (modelo de distribuição inteligente) e aumento da penetração do C&A Pay nas vendas. Além disso, o plano inclui a retomada de um ritmo mais intenso de aberturas (a partir de 2025), aliado a um programa de reforma de lojas.
Foco em aumentar a venda por m². Entendemos que a ambição central do novo ciclo de crescimento está inicialmente em aumentar a produtividade da área de vendas – antes de pensar em uma aceleração da expansão física. Nesse sentido, a companhia deve trabalhar alguns pilares ao longo deste e dos próximos anos com o objetivo de aumentar a venda por m², entre eles:
- Relacionamento com clientes. A C&A deve direcionar esforços a aumentar a proximidade e comunicação com clientes, buscando aumentar o número de consumidores, a recorrência e o ticket médio. Entendemos que a companhia deve se usar de dados (“Customer Analytics”) para criar uma experiência mais personalizada e engajar seus clientes, fortalecendo o vínculo com a base e aumentando o fluxo em lojas;
- Produtos e categorias. Nos últimos anos a companhia vem implementando uma metodologia de testes (“Test & Learn”), junto ao aprimoramento de modelos de desenvolvimento e fornecimento mais ágeis, permitindo uma maior assertividade das coleções – principalmente na categoria Feminina. Entendemos que a companhia deve continuar trabalhando no reposicionamento dessa e outras categorias, adequando-as de maneira rápida à demanda dos clientes, melhorando cada vez mais a assertividade e o giro dos produtos. Adicionalmente, a C&A deve focar em tornar a oferta cada vez mais personalizada a nível loja, alterando a proposta de produto para se adequar às demandas da região – buscando reduzir a ruptura e aumentar a conversão de vendas;
- Dispersão: Ações personalizadas por loja. Por meio do trabalho de informações e dados disponíveis, a companhia construiu um modelo de cálculo de potencial de mercado para venda/m² – conseguindo distinguir lojas com alta performance daquelas que tem oportunidade de melhorar. Os executivos deixaram claro que irão trabalhar as oportunidades de maneira granularizada, identificando os problemas com cada loja e implementando ações personalizadas direcionadas ao aumento da venda por m² (ex: revisão de sortimento, layout de lojas, nível de serviço, etc.). A companhia identificou 98 lojas de alta performance, entendendo que existem 232 lojas com oportunidades de aumento de produtividade.
Vale ressaltar que, nos testes já implementados, todas as lojas apresentaram um crescimento > 20% da venda/m². Outro fato destacado pelos executivos foi a assertividade do trabalho, com uma taxa de sucesso de 70% na primeira onda de lojas em que a companhia passou a trabalhar essa estratégia.
- Otimização da jornada do cliente. Com objetivo de aumentar a produtividade da área de vendas, a companhia também deve direcionar esforços a melhorar a experiência de compra dos clientes, tanto nas lojas, quanto no on-line. Com base nas falas dos executivos, entendemos que investimentos nesse sentido devem se intensificar a partir de 2025, com maior foco no trabalho de dispersão neste ano.
Nesse sentido, a companhia deve implementar um programa de reforma de lojas a partir de um novo modelo de loja conceito que estão construindo a partir de aprendizados dos últimos anos. Ao mesmo tempo, a C&A deve investir em melhorias na jornada digital, reconstruindo o app (jornada fluída de compra, com uso de IA para priorização de exibição de produtos) e integrando-o com C&A Pay para beneficiar o fluxo.
Retomada da expansão física. Após o trabalho de aumento da produtividade da área de vendas atual, a C&A deve retomar um ritmo de aberturas mais intenso (vs. últimos anos). A companhia tem +120 pontos mapeados para potenciais aberturas, com um plano de expansão que deve ser focado prioritariamente em cidades novas, com população entre 100k e 500k habitantes. Entendemos que uma aceleração do ritmo de expansão seria uma “2ª fase” da nova estratégia da companhia, de modo que deve ocorrer a partir de 2025 – e, portanto, já deve começar com lojas do novo modelo conceito criado.
Atualizamos as nossas projeções para refletir um projeto mais robusto de expansão a partir do ano que vem. Estamos considerando um ritmo de +18 aberturas em 2025 (vs. 16 anteriormente) e +20 aberturas em 2026 (vs. 16 anteriormente).
Evolução do C&A Pay. Ao longo do evento os executivos destacaram a função do C&A Pay como projeto de fidelização de clientes, além de aumento de vendas. Por meio do cartão private label (exclusivo para uso nas lojas), a companhia consegue tanto impulsionar as vendas de mercadorias – a adoção do C&A Pay traz um uplift de vendas e recorrência sobre demais clientes, inclusive clientes já “fiéis”-, quanto aumentar a comunicação com os clientes, via atendimentos e acompanhamentos mensais naturais do business de crédito.
Com a evolução do produto de crédito, a C&A atingiu uma participação do cartão próprio nas vendas de 28% (vs. 16% anteriormente) e ressaltou seu objetivo de atingir uma participação de 35% até 2026. Adicionalmente, a companhia reforçou sua ambição de atingir o break-even da operação neste ano, ressaltando que estão no caminho certo para conseguir.
Crescimento com disciplina financeira. Finalmente, a companhia reforçou sua pretensão de manter o nível de disciplina financeira e assertividade de alocação de capital nesse novo ciclo de crescimento. Junto às iniciativas para aumento da produtividade, a C&A deve continuar implementando um processo rigoroso de controle de despesas, além de manter disciplina na concessão de crédito e buscar continuamente a otimização do capital de giro e do nível de Capex – seguindo em uma trajetória de aumento de rentabilidade e de redução adicional da alavancagem.
Revisando as estimativas
Com a C&A consolidando 2023 com todas as linhas do resultado acima de nossas estimativas e após insights do Investor Day, revisitamos as nossas projeções para os próximos anos.
Primeiramente, atualizamos as projeções de abertura para os próximos anos (Figura 1). Com um potencial de abertura de 120 lojas mapeadas, acreditamos que a C&A deva acelerar a abertura de unidades após 2025. Em nosso modelo distribuímos 78 aberturas até 2028 (68% do potencial fornecido), com 6 aberturas em 2024 (vs. 4 aberturas em 2023).
Figura 1: Projeção de aberturas para os próximos anos (Est. Genial).
Para 2024, acreditamos que a companhia deva consolidar um avanço em margem bruta e EBITDA baseado em duas principais alavancas: (i) ainda capturando efeitos da implementação do modelo Push&Pull, só que dessa vez mais direcionado para produtos de cabides (produtos B), anteriormente focado em dobrados/produtos de mesa (produtos A); e (ii) break-even do C&A Pay, com crescimento mais modesto da carteira de crédito private label e inadimplência sob controle. Por outro lado, para “pescar no próprio aquário”, maiores despesas com CRM devem suavizar maiores ganhos de margem EBITDA neste ano.
Para 2025, o nosso entendimento é que, conforme a companhia retoma o ritmo de aberturas de lojas, maiores despesas fixas devem pesar sobre a rentabilidade em um primeiro momento, dado o ramp-up inicial de novas lojas – ainda que girem em um outro patamar de produtividade (maiores vendas por m²).
Entendemos que ao longo dos próximos anos, a C&A deve reduzir o gap de produtividade em relação à Renner – mas não o fechá-lo por completo (Figura 2). A companhia foi muito vocal em capturar ganhos por dispersão e acreditamos que isso deve contribuir, gradualmente, para alavancagem operacional nos próximos anos.
Figura 2: Vendas por metro quadrado da C&A, Renner e Guararapes.
Tabela 1: Estimativas Genial para C&A.