Aumento de preço pode ser um plus no 2T
Pressionada pela alta da Selic, principalmente nos produtos de prazo d+2 com preço quase que pré-fixados, o lucro da Cielo de R$ 185m poderia ser melhor. Mesmo assim, a melhora operacional foi suficiente para garantir uma alta do lucro recorrente de 36% sobre um fraco comparativo de 1T21, mas não foi suficiente para superar os números mais robustos do 3T21 e no 4T21 com queda de 13% e 39%, respectivamente. Lembre-se que o Brasil passava pela pior fase da pandemia entre o 1T21 e o 2T21, onde uma melhora anual no 1T22 era naturalmente esperada.
De certa forma, o mercado já esperava um 1T22 mais morno com o lucro basicamente em linha com o consenso dos analistas e com nossas estimativas. A boa notícia é que a Cielo já sinaliza que está fazendo aumento de preços nos produtos de prazo d+2, destacando que o yield de receita (receita sob volume de cartões) aumentou de 0,67% no 1T22 para 0,76% na última semana de abril. No geral, a evolução operacional anual foi puxada por um forte desempenho da unidade Cateno, expansão do negócio de antecipação de recebíveis, controle de custos e recuperação dos volumes de cartões em decorrência do arrefecimento da pandemia.
Apesar da reprecificação dos produtos d+2 tender a diminuir os impactos da alta da Selic nos próximos trimestres, recentemente alterarmos nossa recomendação de COMPRAR para MANTER. A forte alta das ações levou CIEL3 a bater nosso Preço Alvo de R$ 3,3. A nossa visão mais cautelosa é justificada pelo: fim dos principais gatilhos de curto prazo já terem sido destravados após a venda da Merchant e-Solutions; valuation mais justo após a alta da ação; riscos regulatórios (PIX, marketplace de recebíveis, etc.) e constante competição. O cenário desfavorável deve continuar a assolar estruturalmente o setor. Além disso, apesar de acharmos que faça sentido, há uma baixa probabilidade de fechamento de capital pelos controladores nesse momento eleitoral, dado que um deles é estatal.
Receitas: beneficiadas pela recuperação de volumes
As receitas consolidadas da Cielo cresceram somente 1,5% a/a, retraindo 12,1% t/t. O baixo crescimento é explicado pela saída da M4U do resultado, que adicionou R$ 325m no 1T21. Excluída receita da M4U do 1T21, a receita teria crescido 15,2% a/a.
A boa dinâmica de receitas a/a foi impulsionada pela retomada de volumes processados. O arrefecimento da pandemia e retomada da atividade econômica impulsionou os volumes com o aumento do consumo. Os volumes financeiros de Cielo Brasil cresceram 23,9% a/a, caindo 4,8% t/t. A queda t/t do volume de Cielo e outras subsidiárias pode ser explicada pela sazonalidade, dado que em decorrência do período de festas o consumo é mais forte no 4T.
Os volumes continuaram crescendo acima das receitas, reflexo da continuidade da pressão de preços fruto da competição no setor. O yield de receitas de 0,67% caiu 0,06 pp a/a, subindo 0,01 pp t/t. O yield de receita corresponde ao percentual do volume total de pagamentos processado que se converteu em receita líquida. A alta do yield t/t é resultado da reprecificação que a Cielo vem fazendo desde jan/22, principalmente na modalidade de pagamento em 2 dias (D+2). Esperamos que os impactos da reprecificação sejam mais fortes a partir do 2T.
Apesar do avanço de receitas e volume, a base ativa de clientes da Cielo continuou caindo t/t e a/a. A retração é resultado da suspensão na política de subsídios para terminais de captura, que estava fazendo com que a Cielo tivesse contas deficitárias em sua base. Portanto, mesmo impactando negativamente volumes, a redução da base tende a melhorar o take rate.
O take rate apresentou um resultado mais favorável, crescendo 0,06 pp t/t e 0,05 pp a/a. O take rate corresponde ao percentual do volume processado pela Cielo que se converteu em receita total, incluindo produtos de prazo.
Continuamos a observar um crescimento do mix de volumes processados de crédito em relação aos volumes de débito. Na Cielo Brasil, o volume de crédito cresceu 33,4% a/a (vs. 12,2% no débito). Acreditamos que o menor crescimento do débito possa estar sendo explicado pela maior adoção do PIX.
Por fim, os produtos de prazo tiveram uma queda na penetração sobre o volume do crédito de 0,4 pp a/a para 22,3% no 1T22. A penetração do D+2 subiu 1,8 pp a/a para 13% comparado a uma queda de 2,2 pp a/a no ARV para 9,3%. No entanto, comparado com o 4T21, a penetração de produtos de prazo aumentou de 19,7% para 22,3% nesse tri. O produto de D+2 corresponde a antecipação do valor do pagamento efetuado em cartão de crédito de 30 dias para 2 dias. Já o ARV corresponde a antecipação de compras parceladas.
Custos e despesas: sob controle
Os gastos totais da Cielo tiveram retração de 3,4% a/a e 12,2% t/t. O bom desempenho foi resultado da queda nominal dos gastos normalizados da Cielo Brasil, das despesas sob controle na Cateno e maior eficiência operacional com a alienação de subsidiárias com margens piores.
Descontados os efeitos não recorrentes do 1T21 nas despesas operacionais, a Cielo Brasil teve uma queda nos gastos de 4,6% t/t e 0,5% a/a. Os efeitos não recorrentes foram o (i) ganho de capital com a venda da Orizon, (ii) provisão para reestruturação, (iii) reversão de provisões do projeto New Elo e (iv) cessão da plataforma Elo. A Cielo vem implementando uma agenda de ganho de eficiência que esperamos que devam fazer com que margens expandam no ano.
Despesa financeira: pressionada pela Selic
Como resultado do funding de produtos de capitação e elevação da Selic, as despesas financeiras subiram 225% a/a. O resultado financeiro foi de R$ 83m negativos, em comparação a R$ 61m negativos no 4T e R$ 35m positivos no 1T21.
Apesar de esperarmos que as despesas financeiras continuem pressionadas ao longo do ano, principalmente com o ciclo de elevação da Selic, a reprecificação do D+2 devem passar a compensar parte da piora.
Cateno: boa melhora
O resultado da Cateno foi positivo, com avanço de lucro de 165,2% a/a e retração de 7,1% t/t. O bom desempenho está relacionado a retomada de volumes, que cresceram 21,8% a/a e caíram 9,8% t/t. A queda t/t está relacionada com a sazonalidade, assim como para a Cielo Brasil. As despesas também contribuíram relevantemente para o resultado, com queda de 55,2% a/a. A queda das despesas foi reflexo dos menores reembolsos relacionados ao arranjo de pagamentos da Ourocard.
Outras subsidiárias: jogando contra
O resultado das demais subsidiárias seguiu fraco. O prejuízo aumentou 21,8% a/a e 31,7% t/t. O resultado inclui a Merchant-e, que deixará de ser contabilizada no 2T, com a conclusão da venda em abr/22. A M4U foi contabilizada no resultado até nov/21. Avaliamos venda da Merchant-e como positiva para o resultado, dada baixa contribuição o resultado consolidado de Cielo nos últimos anos e valor atrativo da venda de US$ 137m na data de fechamento. Ainda pode haver o pagamento adicional de US$ 150m a depender do cumprimento de metas.