A Cielo reporta os resultados do 3T23 no dia 31/out, após o fechamento de mercado. Surpresa negativa em 2023, o volume transacionado (TPV) deve continuar fraco nesse trimestre. As vendas do varejo no Brasil (índice ICVA) estão rodando próximo a zero, e ficam negativo quando deflacionados. Para Cielo, o impacto deve ser ainda mais doloroso porque a incumbente está perdendo market share apresentando queda de (TPV). Com volumes fracos, acomodação dos preços sem reprecificação e despesas mais altas puxadas principalmente pela despesa de pessoal, esperamos uma queda no lucro líquido recorrente de 6,1% t/t e um aumento de 8,3% a/a, com o lucro chegando em R$ 456,5m (lucro contábil) no 3T23.
A queda t/t pode ser parcialmente explicada por um 2T23 forte, impulsionada por um aumento de preços em março e mudança regulatória no cartão pré-pago que melhorou a margem liquida das adquirentes. Mas de qualquer forma, revisamos nossos números para baixo. Portanto, como havíamos mencionado no 2T23, saímos de um cenário mais otimista no começo do ano para um de menor visibilidade do ponto de vista de competição e volume.
Para 2024, o cenário não é claro. A falta de visibilidade tanto no curto como no longo prazo continua predominar no setor por conta da forte competição, baixa demanda (volumes fracos), regulação (PIX como produto substituto) e novas tecnologias. O meio da pirâmide de clientes (PME), a única grande avenida de rentabilidade na indústria, está sendo disputada entre todas as adquirentes podendo sofrer eventualmente uma erosão de preços e margens. A própria Cielo está reforçando seu time de vendas, adicionando 400 vendedores no começo do ano e mais 1000 nos próximos trimestres. Por enquanto, esperamos que a Cielo apresente pequeno crescimento de lucro em 2024 de 5,5% a/a (R$ 1,95b lucro contábil), consequência das iniciativas já estabelecidas que priorizam a rentabilidade.
Desse modo, apesar do valuation atrativo, negociando a 5,26x P/L 23E e 4,98x P/L 24E, não vemos motivos para um re-rating (expansão de múltiplo) da ação no curto prazo. Assim, reiteramos nossa recomendação de MANTER, com ajuste no preço alvo de R$ 5,15 para R$ 3,90 depois de revisarmos os números para baixo e aumentar o custo de capital devido ao aumento de juros nos EUA e do risco Brasil.
Competição: Entrada da força comercial deve ajudar (ou derrubar margens?)
A Cielo deve seguir com a perda de market share, por consequência da ênfase em contas com maior rentabilidade e limpeza de base do share subsidiado, ou seja, perda de algumas grandes empresas com alto volume e pouca rentabilidade para focar em PME (Pequenas e Médias Empresas).
Apesar da perda de share, acreditamos que esse movimento deve desacelerar ao longo do tempo, reflexo das novas iniciativas de aumento da força comercial (hunters). A primeira onda de 400 hunters já foi concluída no início do ano e outra no mesmo montante de 400 vendedores está em treinamento. Adicionalmente, mais duas ondas de 300 hunters cada devem acontecer nos próximos trimestres (4T23 e 1T24), condicionadas pelo bom desempenho das anteriores.
Volume: forte queda a/a
Acreditamos que o TPV fique estável t/t e apresente queda de 9,6% a/a. Seguimos mais pessimistas com o TPV, reflexo da perda de market share e o movimento mais contido de consumo das famílias, consequência do cenário macroeconômico mais desafiador, como mostra o ICVA (Índice Cielo de Varejo Ampliado), em que a queda nas vendas é vista em termos nominais e deflacionados desde jan/23.
Em tom com a visão mais pessimista do mercado, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviço (Abecs) reduziu, em agosto, a previsão de crescimento de TPV em 2023 para 9-11% ante 14-18%. Com o crescimento abaixo do mercado, acreditamos que a Cielo deva ter contração de TPV em 2023 versus 2022, em 6,3%.
Receita: mantém com leve crescimento
Acreditamos que a receita líquida pós pré-pagamento tenha crescimento de 2,3% t/t e 5,2% a/a, chegando em R$ 3,35b. Não esperamos uma dinâmica muito diferente do 2T23, com queda no TPV e estabilização do volume alocado em produtos de prazo, tanto no ARV (Antecipação de Recebíveis de Venda) quanto no RR (Receba Rápido). Além disso, não esperamos novas reprecificações, que foi um ponto positivo no 2T23, reduzindo provavelmente o yield ao longo do tempo,por conta do efeito de renovação da base com preços geralmente mais baixos.
Despesas: pessoal deve ser detrator
Esperamos que as despesas cresçam para R$ 1,97b (+36,4% t/t e +5,6% a/a). O forte crescimento t/t é consequência de uma despesa menor no 2T23, que foi beneficiado pela reversão do Imposto sobre Serviços (ISS) que beneficiou a linha de outras receitas/despesas em R$ 384,8m. No lucro recorrente, nós retiramos esse efeito.
Além disso, outros detratores devem ser as despesas de pessoal, por conta das novas levas de contratações dos hunters e do dissídio que ocorreu em agosto. Além disso, devemos ver uma despesa de marketing mais alta, refletindo os novos investimentos em publicidade e propaganda.