No que possivelmente seja seu último relatório de resultados antes do desfecho do processo da Oferta Pública de Aquisição (OPA), a Cielo anunciou o maior lucro desde o 1T19, atingindo R$ 503 milhões (+14,1% a/a e +4,6% t/t). Embora esse resultado tenha superado as expectativas do mercado em cerca de 10%, ficou 4% abaixo de nossas projeções de R$ 524 milhões. Aparentemente, a primeira impressão é de um forte resultado; no entanto, é importante observar que uma parte significativa desse lucro se deve a benefícios fiscais decorrentes do pagamento extraordinário de JCP. Não fossem os benefícios de JCP, o lucro teria sido substancialmente menor, totalizando apenas R$ 363 milhões, cerca de R$ 140 milhões a menos.
Na nossa avaliação, o resultado não foi bom devido ao baixo crescimento do volume financeiro (TPV), à queda no lucro da Cateno por conta de despesas crescentes, às provisões para perdas operacionais, à menor penetração de produtos a prazo e à contínua perda de clientes.
Do lado positivo, o lucro foi beneficiado por uma melhora relevante no resultado financeiro e melhora sequencial de yield.
Com a OPA formalizada (leia nosso relatório), reiteramos nossa recomendação de MANTER. O preço da OPA ficou em R$ 5,6 corrigidos pelo CDI até o dia da oferta. Com o preço da ação em R$ 5,59 hoje, entendemos que é mais vantajoso e menos volátil alocar em instrumentos de renda fixa CDI+.
Cielo (CIEL3) | 1T24: Lucro recorde beneficiado pelo menor imposto e melhora no resultado financeiro
Volumes e Clientes: Seguem fracos
O volume financeiro transacionado (TPV) atingiu R$ 200b, apresentando estabilidade na comparação anual (-0,5% a/a) e queda de -9,8% t/t, relativamente esperada devido a sazonalidade favorável do 4T. Apesar do desempenho fraco no trimestre, vemos um mix mais atrativo, com maior participação de cartão de crédito de 63,6% do TPV (vs 60,9% 4T23 e 60,8% 1T23).
O número de clientes segue em queda, chegando a 822 mil usuários, representando uma contração de -5,5% t/t e -19,0% a/a.
Volume Capturado (R$b): Fraca evolução anual
Receita: Fraca, mas yield melhor t/t
A Cielo apresentou uma receita líquida de R$ 2,56b no 1T24, ficando estável em relação ao 1T23 (-0,3% a/a) e contração de -7,5% t/t. A leve queda anual foi impactada pelo menor yield na Cielo Brasil, mas que foi compensada por um maior volume na Cateno. Já na comparação anual, a queda se deu por um menor volume na Cielo Brasil e Cateno, já esperado devido a sazonalidade favorável para o 4T.
Cielo Brasil: A receita líquida da unidade atingiu R$ 1,5b (-3,4% a/a e -6,9% a/a), impactada na comparação anual por um menor yield (0,76% 1T24 vs 0,78% 1T23). Já a comparação trimestral foi impactada por um menor TPV (-9,8% t/t), já que o yield apresentou melhora de +0,02pp t/t.
Yield: A expansão do yield em relação ao 4T23 (+0,02pp t/t) se deu pelos melhores preços e sazonalidade, mas que foi parcialmente compensado por menor penetração no Receba Rápido e efeitos de mix.
Cateno: A unidade apresentou receita líquida de R$ 1,04b, aumento de +4,8% a/a e queda de -8,3% t/t, impactada em ambos os casos pelo volume financeiro que chegou a R$ 102,4b (+4,1% a/a e -8,4% t/t).
Yield Receita: Melhora por conta de preço e sazonalidade
Ao considerar as receitas dos produtos com prazo, a Cielo alcançou um take rate de 1,05%, melhora de +0,04pp t/t, mas com piora de -0,04pp a/a.
Take Rate: Aumento t/t mostra recuperação
Produtos de Prazo: Forte queda
Os produtos a prazo registraram um volume de R$ 24,6m (-23,5% a/a e -26,8% t/t). A penetração total, que inclui Receba Rápido (d+2) e antecipação de recebíveis (ARV), caiu para apenas 19,3%, queda substancial de -7,1pp a/a e -5,6pp t/t.
Do lado do volume alocado, houve uma forte redução no ARV (-27,7% t/t e -6,0% a/a), ficando em R$ 9,7b, e no Receba Rápido (-18,6% t/t e -18,7% a/a), chegando a R$ 6,9b. No total, o volume alocado ficou em R$ 16,3b (-25,7% t/t e -13,5% a/a).
Alocação de Capital em Produtos de Prazo (R$b): Queda reflete fraca penetração
Gastos totais: Perdas operacionais aumentam os custos
Os gastos totais ficaram em R$ 2,03b (+2,1% t/t e +12,4% a/a), impactado pelo aumento das despesas operacionais de +11,3% t/t e + 55,6% a/a, que refletem, o aumento das despesas com as iniciativas do #PraCimaCielo e provisões para perdas operacionais.
- Cielo Brasil: Os gastos totais normalizados (segregados de custos variáveis e eventos extraordinários) alcançaram R$ 903m, apresentando um aumento de 21,6% a/a e 8,3% t/t. O aumento está relacionado com as iniciativas do programa #PraCimaCielo, expansão do time comercial, e provisões para perdas operacionais (outras despesas).
- Cateno: Os gastos totais normalizados (segregados de custos variáveis e eventos extraordinários) ficaram em R$ 675,9m (-0,7% t/t e +14,3% a/a). O aumento está relacionado a maior volumetria na Cateno e aumento de custos com emissões de cartões.
Gastos Normalizados: Forte expansão a/a e t/t
Resultado Financeiro: Melhora
O resultado financeiro (excluindo pré-pagamentos) atingiu -R$ 546 milhões no 1T24, representando uma melhora de 10,9% t/t e 21,8% a/a. A linha foi beneficiada pela otimização da estrutura de dívida que suporta a operação de produtos de prazo e pela queda da taxa Selic, levando a uma menor despesa financeira.
Imposto: Ajudando o lucro
Neste trimestre, o imposto contribuiu positivamente para o lucro líquido da Cielo, com um montante positivo de R$ 12m. O crédito fiscal foi beneficiada em grande parte pela distribuição de JCP no montante de R$ 410m que gerou um benefício fiscal de R$ 139,4m, considerando uma alíquota de imposto de 34%.