A Cielo reportou um resultado em linha com as expectativas do mercado, mas a grande surpresa veio com o anúncio de uma oferta pública para fechar o capital da empresa pelos dois controladores, Bradesco e Banco do Brasil, que devem roubar a cena do resultado neste trimestre. Sem grandes brilhos, o lucro de R$ 481 milhões no 4T23, cresceu +5,3% t/t mas caiu -1,9% a/a, em linha com as expectativas.
Oferta Pública de Ações (OPA): Surpresa!
Inesperadamente, o Bradesco e o Banco do Brasil solicitaram uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) para o fechamento de capital da Cielo. O preço ofertado é de R$ 5,35 por ação, mas será ajustado por proventos, incluindo o Juros sobre Capital Próprio (JCP) de R$ 410 milhões que serão pagos em abril de 2024.
Caso a oferta seja concretizada, o BB ficaria com 49,99% do capital da Cielo e o Bradesco com o restante (50,01%). Atualmente, o Banco do Brasil conta com uma participação de 28,65% na Cielo e o Bradesco com 30,06%. O free float (ações em circulação) da Cielo fica em 40,57%.
O baixo potencial em relação ao preço da oferta deve criar discussões sobre o valuation de fechamento de capital, assim como foi quando o Itaú fechou o capital da Redecard (Rede) em 2012. Considerando o preço de fechamento de ontem (5/fev/2024) de R$ 5,03 por acao, o preço da oferta de R$ 5,35 daria um upside de apenas 6,36%. Se descontarmos o JCP a ser recebido, o upside cairia para meros 3,4%.
Por um lado, o fato de os compradores serem os controladores levanta a possibilidade de conflitos de interesse no fechamento de capital. No entanto, do ponto de vista dos negócios, acreditamos que para o BB, Bradesco e Cielo, o fechamento de capital faz sentido. O cenário de adquirência passou por mudanças significativas e a perspectiva de um negócio consistentemente rentável é baixa. O Itaú com a Rede e o Santander com a Getnet conseguiram integrar vendas cruzadas de produtos bancários e adquirência de forma mais eficaz do que o Bradesco, Banco do Brasil e Cielo.
Outra razão para o fechamento de capital é o imbróglio envolvendo a Cateno (receita de intercâmbio de cartão de crédito do Banco do Brasil, vendida para a Cielo em 2014). Ambos os bancos ainda consideram a adquirência como parte essencial do ecossistema de cartões.
4T23: Sem grandes surpresas
O trimestre foi beneficiado pelo maior volume financeiro transacionado (TPV) na adquirência que expandiu +12% t/t e com o robusto resultado da Cateno. A Cateno foi positivamente beneficiada por maiores volumes e mix mais favorável de produtos, levando a um novo recorde de lucro com um total de R$ 314,9m, além de uma menor despesa financeira no consolidado devido a queda da taxa Selic.
Do lado negativo, temos alguns pontos: (i) o yield da adquirência apresentou uma forte queda t/t devido à alguns fatores como a renovação de base; (ii) perdas de clientes; (iii) aumento considerável nas despesas devido ao processo de reestruturação; e (iv) queda t/t na penetração de produtos de prazo. Ademais, acreditamos que o cenário à frente ainda é nebuloso em termos de competição e guerra de preços.
Sem um grande upside em relação a oferta, reiteramos nossa recomendação de MANTER, ajustando nosso preço-alvo para perto do preço da oferta de R$ 5,20. Embora as ações sejam negociadas a múltiplos atrativos, com um P/L de 7,28x 2024E, não identificamos razões para uma supervalorização além do preço da oferta. Assim como na incorporação da Redecard pelo Itaú, existe uma boa probabilidade do preço da oferta não seja elevado.
Volumes e Clientes: Melhora após volumes fracos durante o ano
O volume financeiro transacionado (TPV) apresentou uma melhora trimestral (em parte já esperado pelo fato do 4T ser sazonalmente mais forte), totalizando R$ 221,85b (+12,4% t/t e -4,1% a/a). O pior desempenho na comparação anual foi do cartão de débito que contraiu -8,4% a/a, enquanto o crédito caiu -1,1% a/a.
O número de clientes continuou a diminuir, atingindo 870 mil usuários, representando uma queda de 5% em relação ao trimestre anterior e 18% em relação ao ano anterior.
Receita: Yield cai t/t
A Cielo apresentou uma receita líquida de R$ 2,8 bilhões, o que representa um aumento de +5,8% t/t e +0,6% a/a. O leve aumento anual ocorreu pela melhora no yield da Cielo Brasil e ao aumento na volumetria da Cateno, sendo parcialmente compensado por uma redução na volumetria da Cielo Brasil. Já na comparação trimestral, vemos um yield mais fraco na Cielo Brasil em -0,06 pp, mas beneficiado pelo maior volume.
Cielo Brasil: A receita da unidade atingiu R$ 1,64 bilhão, representando um aumento de +4,3% t/t e queda de -2,4% a/a. A comparação anual reflete a queda no TPV (-4,1% a/a), mas compensado por um maior yield (+0,01pp a/a). Já a comparação trimestral, reflete o aumento do TPV (+12,4% t/t), compensado por um menor yield (-0,06pp t/t).
Yield: A expansão do indicador na comparação anual é reflexo de um melhor mix, com maior participação de cartão de crédito (60,9% no 4T23 vs 59,1% no 4T22), além da resolução BCB 246/22 sobre o intercâmbio que entrou em vigor a partir de abril/23 e ações de rentabilização adotadas ao longo de 2023. Já na visão trimestral, a queda do yield ocorreu por (i) sazonalidade do 4T; (ii) renovação da base de clientes do segmento de varejo e empreendedores; e (iii) maior participação de grandes contas no mix. A empresa não menciona nenhum efeito de preço para queda no trimestre, como foi o caso do 3T23.
Ao considerar as receitas dos produtos com prazo, a Cielo alcançou um take rate de 1,02%, queda de 0,14 pp t/t, mas com um aumento de 0,06 pp a/a.
Cateno: A receita da Cateno atingiu R$ 1,13 bilhão, registrando um aumento de +7,9% t/t e +5,2% a/a. O crescimento foi impulsionado pelo crescimento do volume e pela composição mais favorável do mix de produtos, com aumento de +8,6% no TPV de cartões de crédito.
Produtos de Prazo: Receba rápido cai
Os produtos de prazo registraram um volume de R$ 33,7 bilhões, com um aumento de +7,9% t/t e +11,4% a/a. A penetração total, que inclui Receba Rápido e ARV, atingiu 24,9%, refletindo uma diminuição de -1,1 pp t/t, mas um crescimento de +2,8 pp a/a, com um total alocado de R$ 21,9 bilhões, apresentando um aumento de +8,5% t/t e +17,7% a/a.
No entanto, o destaque negativo do trimestre veio do Receba Rápido, que registrou uma queda de -0,6% t/t e -16,2% a/a.
Gastos totais: Aumento por conta das contratações e #PraCimaCielo
Os gastos totais ficaram em R$ 1,99b (+7,6% t/t e -4,0% a/a), impactado pelos custos totais (COGS, +4,4% t/t, -3,7% a/a) e despesas operacionais (+14,8% t/t, +32,4% a/a).
- Cielo Brasil: Os gastos totais normalizados (segregados de custos variáveis e eventos extraordinários) alcançaram R$ 834,1 milhões, apresentando um aumento de +8,9% t/t e +9,0 a/a. O aumento é reflexo das iniciativas de melhoria operacional dentro do #PraCimaCielo, das expansões da equipe comercial e da pressão inflacionária sobre estrutura de gastos.
- Cateno: Os gastos totais normalizados (segregados de custos variáveis e eventos extraordinários) ficaram em R$ 680,8 milhões (+6,0% t/t e +5,8% a/a), impactado negativamente pelo custo dos serviços prestados (+5,4% t/t e +5,8% a/a), além de maiores gastos com despesas operacionais (+13,8% t/t e +5,4% a/a), puxados pela despesas com pessoal.
Resultado financeiro: Melhora
O resultado financeiro (excluindo pré-pagamentos) atingiu -R$ 613 milhões no 4T23, representando uma melhora de 17,7% t/t e 2,5% a/a. A linha foi beneficiada pela queda da taxa Selic, levando a uma menor despesa financeira.
Imposto: Ajuda do JCP
A alíquota de imposto ficou em 26,5% no trimestre, beneficiada pelo pagamento de Juros sobre Capital Próprio (JCP).