Conclusão
Em linhas gerais, achamos o evento marginalmente positivo para o case da Eletrobras. À priori, não achamos que o valor da transação tenha sido necessariamente elevado, até por se tratar de contratos curtos (maioria com término em 2030). Entretanto, vai em linha com outras transações similares e no processo de descarbonização do portfólio de grandes empresas de energia. Além disso, é importante mencionar que os contratos de tais termoelétricas que estão sendo vendidas têm como contraparte a Amazonas Energia, distribuidora de energia do estado do Amazonas que atravessa severas dificuldades financeiras e que está inadimplente com tais termoelétricas. Ou seja: essa venda vai além dos recursos levantados por envolver um processo de redução de risco/queima de caixa envolvendo a contraparte dos contratos de tais termoelétricas.
O que vai ser feito com tais recursos? Considerando o endividamento alcançado no 1T24 (R$42 bilhões, uma relação Dívida Líquida/EBITDA 2,4x) e o recursos a serem recebidos, imaginamos que a empresa encerre 2024 com um endividamento de R$35 bilhões e uma relação dívida líquida/EBITDA de apenas 2,2x 24E. Sendo assim, achamos que a empresa deve alcançar um patamar de endividamento que considerarmos sub-alavancado tendo em vista a natureza dos negócios da empresa (geração/transmissão). Resta saber o que a empresa deve fazer com esses recursos: realizar a aquisição de algum ativo relevante ou distribuir dividendos – estimamos um rendimento de 5,6% de acorco com os preços atuais da empresa caso a empresa opte por distribuir 100% dos recursos arrecadados nesse desinvestimento.
Os fatos
Eletrobras anunciou a conclusão da venda de um grupo de termoelétricas pertencentes as subsidiárias de Eletronorte e Furnas para o Grupo Âmbar (da holding J&F). A capacidade instalada total dos ativos vendidos é de 2.059 MW e envolve oito termoelétricas que atendem a região norte do país. O valor da transação é de R$4,7 bilhões (sendo R$1,2 bilhões em earn-out, ou seja, valor que depende de resultados futuros a serem entregues). De acordo com o fato relevante publicado, tais ativos possuem uma receita e um EBITDA de R$2,2 e R$1,1 bilhões, respectivamente. De todos os ativos vendidos, UTE Santa Cruz tem contrato até Dez/26 (500 MW, representando 24% do total da capacidade instalada) enquanto os demais ativos possuem contratos até Nov/30 – ou seja, prazos respectivamente curtos para tais ativos. Com tais informações, o múltiplo de transação é de 4,3x EV/EBITDA 24E. Não é um múltiplo elevado, mas condizente com a características do ativo: poluidor, concessões curtas e com problemas de recebimento de sua contraparte.
Livramento? Os contratos de tais termoelétricas, tem como principal contraparte a distribuidora do estado, Amazonas Energia. Tal ativo tem operações problemáticas (altos custos, perdas elevadas, etc) e era inadimplente com a Eletrobras. Sendo assim, essa venda remove um problema para Eletrobras no que diz respeito a sua geração de caixa.
Opcionalidade. O contrato assinado traz dois acordos com a parte compradora (Grupo âmbar):
Caso a Distrbuidora seja vendida, os créditos que a Amazonas-D tem com a Eletrobras seria transferido para o comprador. Entretanto, a empresa teria a uma opção de compra do ativo em questão. Não ficou claro na nota se essa opção de compra seria da totalidade da distribuidora ou de apenas uma parte da operação.