Cadê o ventinho?
Seguimos com recomendação de MANTER. Tivemos uma leitura neutra do resultado da empresa, em meio a um cenário de baixista de preços da energia e volumes decepcionantes das fontes complementares, levando a um resultado recorrente fraco. A geração das fontes complementares foi de 843 MW médios (vs 956 no 3T22) e 4,408 MW médios nas fontes hidráulicas. Como destaques positivos, citamos a evolução de projetos em desenvolvimento, boa performance do seu ativo de gás (TAG) trazendo bons resultados para linha de equivalência patrimonial e, por último, a aquisição de conjuntos fotovoltaicos localizados em três estados brasileiros pelo valor de R$3,2 bilhões – uma medida interessante em meio a um cenário desafiador para tocar novos projetos a preços desinteressantes. Escrevemos uma nota sobre a aquisição onde, infelizmente, faltaram dados o suficiente para estimarmos a geração de valor da aquisição para a empresa (para maiores informações, clique aqui – “Engie (EGIE3) | Oportunidade se cria! – Aquisição de Ativos Solares”).
A companhia apresentou números neutros e razoavelmente em linha com o consenso. Se por um lado seu “core business” performou mal, a operação do mercado de gás foi muito interessante e conseguiu manter o patamar de rentabilidade. Nesse trimestre, nenhum dividendo foi anunciado. Aguardamos novidades no trimestre seguinte tendo em vista a política da empresa em fazer dois anúncios de proventos por ano. Enxergamos as ações da ENGIE já precificadas pelo que a companhia tem a apresentar, acreditando que existam outras ações do setor de geração que possuem maior potencial de valorização e, por isso, reiteramos nossa recomendação de MANTER para os papeis da ENGIE.
Detalhamento do Resultado
A empresa reportou uma receita operacional de R$2,5 bilhões nesse trimestre, queda de 8,5% vs 3T22. Principal motivo para queda na receita operacional foi o impacto negativo da venda da Termoelétrica Pampa Sul, que impactou a receita líquida da empresa em R$162 milhões. Além disso, citamos os menores volumes gerados das fontes complementares (eólica e solar) a preços menos interessantes. O preço médio da venda de energia foi de R$223,9/MWh (-0,2% a/a) em meio a um cenário baixista de preços e também devido ao efeito médio dos contratos de Pampa Sul, superiores aos atuais.
Por consequência, o EBITDA da companhia fechou o trimestre em R$1.768 bilhões, 16% acima do 3T22. Como já adiantamos ao longo do documento, o resultado operacional do “core” do negócio (geração de energia elétrica) veio em termos decepcionantes devido a baixa geração dos segmentos eólico e solar em meio a um cenário de preços pouco inspirador. Entretanto, o resultado da TAG ajudou a empresa a manter a lucratividade ano x ano. Excluindo o impacto de um impairment de um dos seus projetos e as receitas de construção no segmento de transmissão, o EBITDA teria sido de R$1,5 bilhões.
O resultado financeiro do trimestre foi negativo em R$326 milhões (vs -R$283 milhões no 3T22) em função da queda dos custos da dívida devido à menores índices inflacionários no período e da liquidação de instrumentos de dívida ao longo do ano de 2022. Com isso, o lucro líquido da companhia foi de R$867 milhões, em linha com as estimativas – conforme mencionado, ajudado pela performance da TAG no trimestre.
Por fim, o endividamento da companhia finalizou o trimestre em 2,1x Dívida Líquida/EBITDA 12M, com uma dívida líquida de R$15.3 bilhões. Se considerarmos o impacto da aquisição recente, a dívida líquida saltaria para R$18,5 bilhões, representando uma alavancagem de 2,5x Dívida Líquida/EBITDA 12M. Ou seja, nesse patamar de endividamento, achamos que a empresa ainda tem espaço financeiro para seguir realizando outras aquisições no setor em afetar a sua capacidade de pagamento de dividendos. Os investimentos no trimestre foram de R$741 milhões, principalmente em novos projetos em desenvolvimento.