O Fato. Via fato relevante a Engie anunciou um acidente com fatalidades na última sexta-feira (16/07) em um dos seus projetos em desenvolvimento. O projeto em questão é uma linha de transmissão localizada no estado do Pará. Ainda de acordo com o documento divulgado, o acidente levou sete trabalhadores a óbito e outros quatro trabalhadores encontram-se hospitalizados. Os trabalhadores são profissionais da empreiteira SKIC, contratada para implantação do projeto. Nossos sentimentos aqueles que se foram e desejamos melhoras aos hospitalizados.
O projeto: LT Novo Estado. A projeto se chama Novo Estado e foi adquirido do grupo indiano Sterlite em dezembro/2020 por R$410 milhões. Ele tem mais de 1.800 kms de linhas de transmissão, uma subestação e conexão em outras três. Além disso, deve conectar os estados do Pará até o Tocantis. Chama a atenção o tamanho do projeto, não apenas pela quilometragem do cabeamento (Brasil tem aproximadamente 4,174 KMs do seus pontos mais extremos do norte ao sul do país, para fins de comparação com a quilometragem do projeto), mas também pelos valores do projeto em relação ao que temos visto nos leilões de transmissão recentes: total de investimentos esperado de R$3 bilhões e uma Receita Anual Permitida (RAP) de R$313 milhões em 2020. Vale lembrar que os investimentos esperados de todo o último leilão de transmissão feito pela ANEEL neste mês foi de c. R$1,3 bilhão e uma RAP de R$183 milhões.
Evento negativo, mas com impacto limitado em nossa leitura preliminar. Conversamos com a empresa para entender melhor a situação. A leitura preliminar é que, por ser tratar de um acidente em apenas um ponto específico do projeto, não existe – por enquanto – a necessidade da suspensão total do desenvolvimento do projeto. Além disso, a RAP total do projeto alcança apenas 3% do total da receita esperada por toda Engie em 2022. Se simularmos uma postergação de entrada operacional em um ano no projeto, o impacto negativo em nosso preço-alvo é de apenas R$0,25/ação (0,5% do nosso preço-justo para a ação) – ou seja, é irrisório do ponto de vista estritamente financeiro. Vale mencionar que não estamos considerando eventuais multas ou problemas adicionais a empresa relacionado a esse tópico e precisamos aguardar o desenrolar dos fatos. Entretanto, vale mencionar que o risco de se investir em uma linha de transmissão está relacionada exatamente à questões no seu período de desenvolvimento. Ou seja, atrasos ou até mesmo a total suspensão do projeto por questões relacionadas ao seu desenvolvimento são 100% arcados pelo investidor – e esse é o segundo empreendimento no segmento de transmissão que tem dado dores de cabeça à empresa em seu desenvolvimento.
ESG/Linhas de Transmissão. Atualmente, a empresa está desenvolvendo dois projetos de Transmissão: Gralha Azul e Novo Estado. Chama a atenção que ambos os projetos tiveram percalços em seu desenvolvimento: Gralha Azul enfrentou questões ambientais relacionados ao tracejamento de suas linhas e Novo Estado com essa questão do acidente. Uma questão interessante a ser respondido pelo top management da empresa em encontro com analistas será o apetite da mesma em relação à novos projetos de transmissão à medida que os atuais projetos têm se mostrado mais desafiadores do que o comum. Vamos aguardar.
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