O que mostrou a prévia operacional?
No documento divulgado pela companhia, recebemos dados referentes ao crescimento do GMV da plataforma, isto é, o total transacionado no marketplace e também tivemos informações sobre o número de vendedores, compradores e produtos publicados.
Vamos relembrar o core-business da Enjoei: é um marketplace criado fundamentalmente para que pessoas possam dar destino aos produtos que não utilizam mais, encontrando novos compradores. Atualmente, a companhia também conta com outras iniciativas e a presença de lojas oficiais de marcas dentro do marketplace.
Ou seja, é interessante sim que possamos observar um crescimento (a/a ou t/t) de GMV e também de compradores e vendedores. Isso seria um indicativo de que a plataforma está engajando mais os seus usuários, aumentando o número de transações e que também possui uma estratégia eficaz em atrair novos clientes (sejam da parte vendedora, como da parte compradora). É isso que tem acontecido?
Vamos aos números…
O GMV cresceu comparado ao ano passado, porém apresentou queda em relação ao 2T21. No 3T20, o GMV totalizava R$136 milhões. Passou para R$205 milhões no 2T21, mas recuou para R$199 milhões no 3T21 (queda de 3% no trimestre)
A mesma coisa aconteceu com número de novos vendedores. Ao mesmo tempo que houve um aumento (de 150 mil para 180 mil ano contra ano), quando comparamos o resultado com o 2T21 esse número permaneceu praticamente estável (de 181 mil novos vendedores no 2T21 para 180 mil novos vendedores em 3T21)
Novos compradores apresentou queda tanto anualmente, quanto trimestralmente. O número foi de 182 mil no 3T20 para 166 mil no 3T21. Comparado ao 2T21, esse número caiu 23% (de 215 mil para 166 mil novos compradores).
Qual é o problema e o que esperar da empresa?
Desde o início da nossa cobertura, comentamos sobre o risco dos produtos falsificados e de origem duvidosa dentro do marketplace. As ações vêm sofrendo desde o IPO e a companhia tem recebido bastante críticas.
Na nossa conversa com RI, a companhia informou que se posiciona e está, ativamente, combatendo e retirando da sua plataforma os produtos falsificados. Isso é um ponto positivo.
O problema é que nós não temos dados. A companhia nunca divulgou dados que poderiam nos fazer inferir a porcentagem do GMV advinda de produtos falsificados e de origem duvidosa, o que nos deixa com pouco jogo de cintura para projetar verdadeiros valores de GMV para o longo prazo.
Esperávamos a diminuição do GMV em algum momento. Isso seria puxado não só pela prática da companhia em retirar os produtos do ar, como também por um efeito negativo na percepção dos clientes da Enjoei (que muitas vezes poderiam se sentir lesados ao comprar um produto falsificado e, portanto, não voltariam mais a comprar na plataforma).
Uma piora na percepção dos clientes atuais poderá fazer com que a empresa, no futuro, perca safras antigas de clientes e prejudique suas receitas futuras. Além disso, uma imagem negativa da companhia frente aos consumidores poderia fazer com que o seu CAC se tornasse maior ao longo do tempo.
Como o cenário para a empresa ainda é muito incerto, não consideramos atraente ao investidor se expor a empresa nesse momento. A ponderação risco x retorno não é adequada, portanto mantemos nossa recomendação neutra/manter para os papéis.
Os dados oficiais do 3T21
Esperamos que com a divulgação dos resultados do 3T21 a empresa possa nos munir de mais informações, trazendo uma visão mais clara (com dados) a respeito dos produtos na sua plataforma. Essas informações tornariam nossas análises mais assertivas, contemplando realmente todo o risco envolvido na operação da empresa.
Vale lembrar que a incerteza trás volatilidade e é justamente isso que temos visto nas ações de Enjoei. Muita dessa incerteza, no nosso ver, pode diminuir com uma abertura maior de dados por parte da empresa.
Como dizia o Major Rocha, no filme Tropa de Elite: “Quem quer rir, tem que fazer rir.”