O lucro de Fleury veio 18,6% acima de nossas estimativas e 21,3% acima das expectativas do mercado. Apesar da receita ter vindo em linha com nossas expectativas, um controle melhor dos custos, mesmo com uma estrutura de pessoal mais normalizada, e uma diminuição nas despesas impulsionaram o lucro líquido de R$ 110,4m (+55,9% t/t ; -6,9% a/a) e o EBITDA de R$ 326,6m (+24,6% t/t ; +14,4% a/a). Vale ressaltar a forte base de comparação com o 1T21, que apresentou margem EBITDA de 32,0% vs 30,0% no 1T22. No geral, gostamos o resultado apresentado, com forte crescimento de novos elos e da plataforma digital, que fortalece a tese da criação de um ecossistema de saúde e a manutenção dos bons números de exames, mesmo com diminuição da participação dos exames de Covid-19 na receita. Reiteramos nossa recomendação de compra e a escolha como Top Pick, com uma pequena diminuição do preço-alvo para R$ 21,50, dada deterioração das condições macroeconômicas.
Receita recorde: menos Covid, mais novos elos e exames
A receita bruta somou R$ 1,2b no trimestre, crescimento de 21,7% a/a. Como esperado, a participação dos testes de Covid-19 na receita se manteve estável, 6,2% no 1T22 vs 5,7% no 4T21. O leve aumento se dá devido à piora da situação de pandemia no início do ano com a variante Ômicron, mas a dinâmica arrefeceu nos últimos meses do trimestre e esta linha de receita deve retomar sua trajetória de queda na participação nos próximos resultados.
No primeiro trimestre do ano observamos uma melhora das inciativas de novos elos e da plataforma digital. O número de teleconsultas totalizou 272k, crescimento de 45,2% em comparação ao 1T21. Ainda, foram realizadas 10 novas parcerias que continuarão a impulsionar a iniciativa. Os novos elos somaram R$ 67,8m de receita bruta, contra R$ 3,7m no mesmo período do ano anterior. O forte crescimento é impulsionado pelas aquisições, e a expansão de serviços já existentes. Essas frentes representaram 6,7% da receita bruta do grupo (R$ 79,3m).
No core business de medicina diagnóstica, a receita bruta das unidades de atendimento atingiu R$ 921,8m, aumento de 17,9% a/a. O destaque foi para as marcas Fleury e a+ SP, crescendo +18,6% e 17%, respectivamente. O volume de exames cresce significativamente quando comparado com o 4T21 (+25,17%), que é um trimestre marcado por sazonalidade, mas também a/a (+25,6%). A retomada do crescimento dos exames demonstra o crescimento orgânico da companhia, que agora deve operar acima dos níveis pré-pandemia.
Custos e despesas: retorno a estrutura de pessoal normalizada
No caso de Fleury, no primeiro trimestre os custos de serviços vieram em linha com o trimestre passado, apesar de um aumento anual de 26,2%, período cuja estrutura de pessoal ainda não estava alinhada com a retomada da demanda após a pandemia. Esse aumento reflete a volta a normalidade nos custos de pessoal para a companhia e deve continuar a ser pressionada ao longo de 2022. A margem bruta não foi tão impactada, chegando a 29,8% no 1T22 vs nossas estimativas de 29,5%.
A despesas operacionais no trimestre nos surpreenderam, sendo que somente as despesas gerais e administrativas acumularam -32,2% de queda. Existe certa sazonalidade entre o último e o primeiro trimestre do ano, no entanto, o forte decrescimento dessas despesas impulsionou o resultado no 1T22.
Resultado financeiro: CDI pressiona, mas sem novidades
O resultado financeiro negativo de R$ 65,6m veio em linha com nossas expectativas. Como a taxa de juros vem aumentando, muitas empresas devem sofrer com a piora do resultado financeiro. Fleury não foi diferente, piorando 113,5% a/a nessa linha. Consideramos a alavancagem de 1,4x Dívida Líquida/EBITDA como saudável em um ambiente de juros altos.
Nova aquisição: Hospital Saha
Junto com seu resultado trimestral o Fleury anunciou a aquisição do Hospital Saha por R$ 120m, especializado em infusão de medicamentos e procedimentos de menor complexidade. Essa operação está alinhada com a estratégia de criação de um ecossistema de saúde e com nossas expectativas de um crescimento inorgânico que complementa o core business de exames do Fleury. Com esta aquisição, a Fleury passa a contar com três marcas no segmento de oncologia: Saha, CIP e a própria marca Fleury.
Top Pick mesmo com diminuição do preço-alvo
Com um bom resultado para o primeiro trimestre, apresentando lucro líquido de R$ 110m e EBITDA de R$ 327m, reiteramos o Fleury como nossa Top Pick para o setor de saúde. Esperamos um ano difícil para o setor no geral e Fleury pode sair por cima, dado (i) a retomada de bons níveis de exames excluindo o efeito Covid, (ii) a estratégia de crescimento inorgânico em novos elos que deve continuar, tendo em vista o baixo nível de alavancagem financeira 1,4x Dívida Líquida/EBITDA no 1T22 e (iii) valuation atrativo 11,3x P/L 23 (vs 20x média histórica).
Mantemos a recomendação de Compra, mas diminuímos o preço-alvo de R$ 23,80 para R$ 21,50 devido à piora do cenário macroeconômico que afeta o custo de capital da empresa, no entanto a tese se mantém.