Nós participamos da edição do Gerdau Investor Day 2025 realizada em São Paulo (SP), ocorrida hoje, dia 01 de Out.,. Nesta edição, o encontro reuniu o corpo diretivo com investidores e analistas em um formato clássico, composto por apresentações técnicas, sessão de Q&A e interação direta com o management. O time executivo presente incluiu o Sr. Gustavo Werneck (CEO), o Sr. Rafael Japur (CFO), o Sr. Mauricio Metz (COO Brasil), e o Sr. Chia Wang (CCO América do Norte, além dos demais integrantes da alta gestão, reforçando a ênfase em integrar perspectivas comerciais, operacionais e financeiras.
Principais destaques:
(i) A companhia revisou o guidance de CAPEX para 26E para R$4,7b (-22% a/a), com 62% destinado a sustaining e R$1,8b para competitividade, refletindo conclusão de projetos relevantes e readequação de cronogramas. Os três eixos centrais priorizados são: (1) expansão de Midlothian (TX), com corte de -R$300m e desembolso remanescente de ~R$500m, adicionando +150Kt na fase 1 com start-up no 2S26; (2) o novo centro de reciclagem em Pindamonhangaba (SP); e (3) o projeto de mineração sustentável em Miguel Burnier (MG), com CAPEX total de R$3,6b (+13% vs. orçamento anterior), start-up no 4T25 e ramp-up no 1S26; (ii) Sustaining CAPEX médio foi divulgado em R$3b/ano nos próximos 5 anos, cobrindo mini-mills e Ouro Branco (MG). Avanços no modelo de gestão de ativos críticos permitiram postergar a parada do AF1 para 28E (vs. 27E) e estender a vida útil da Coqueria 2 até 2038 (+4A), aproximando-a da longevidade do AF2 — um ganho relevante em termos de eficiência do capital empregado; (iii) A companhia reforçou a estratégia de autogeração de energia com aquisição de 2 PCHs por R$440m, reduzindo a conta de energia em ~60% (4p.p. → 1,6–1,8p.p. do COGS) e assegurando retornos da ordem de IPCA+16%; (iv) A alavancagem permanece em 0,85x Dívida Líq./EBITDA, bem abaixo do covenant interno (1,0x) e do threshold de investment grade (2,0x). Desde 2018, ~75% do FCF foi retornado via dividendos e recompras, com redução de 7% no share count. Considerando dividendos e buybacks, o retorno ao acionista deve alcançar ~6% em 25E e 7–8% em 26E; (v) No Brasil, a companhia destacou distorções competitivas e reforçou os pilares estratégicos: (1) a mina de Miguel Burnier (MG), integrada por mineroduto a Ouro Branco, com capacidade de 5,5Mtpa, custo de US$30/t e potencial de +R$400m em EBITDA em 26E (atingindo até R$1,1b em 27E+); (2) aços planos com o laminador BQ2 em Ouro Branco (CAPEX de R$1,5b, +250Ktpa e +R$400m/ano de EBITDA incremental); e (3) a otimização de mini-mills regionais, incluindo fechamento de Mogi, shredder em Pinda e expansão de Cosigua. Esses três vetores consolidam a estratégia de verticalização, captura de margem e resiliência operacional no Brasil; (vi) Na América do Norte, tarifas de 50% aos importados e medidas regionais de defesa reduziram importações para 2,8Mt em 25E, elevando taxa de utilização das usinas da Gerdau para 85–87%. A empresa expandiu presença em solar (share de ~30%, +90Ktpa em downstream em ramp-up), data centers (Petersburg/VA) e mantém exposição em automotivo, enquanto segue blindada contra micro-mills, restritos ao vergalhão. O projeto de Midlothian (TX), com CAPEX de R$1,2b, deve adicionar +150Ktpa e +R$275m/ano de EBITDA a partir do 2S26.
GGBR4 Investor Day 25: No detalhe!
Guidance de CAPEX revisado para baixo em 26E.
Para 2025, a companhia deve desembolsar um CAPEX dentro do esperado em R$6b. Contudo, Sr. Japur comentou que a Gerdau está se aproximando da conclusão de projetos relevantes, o que abre espaço para uma redução natural no ritmo de desembolsos. Assim, olhando à frente, o guidance de CAPEX foi revisado para baixo, chegando a R$4,7b 26E (-22% a/a; mesmo % de queda vs. orçamento anterior), sendo 62% desse montante destinado à manutenção dos ativos (sustaining) e R$1,8b voltados a projetos de competitividade (crescimento).
Do ponto de vista estratégico, o management enfatizou que a companhia vem gradativamente reduzindo a quantidade de projetos de grande porte em execução e readequando cronogramas. O portfólio passa a priorizar três eixos centrais: (i) a expansão da usina de Midlothian (TX) dentro da divisão da América do Norte, que teve um corte de CAPEX de -R$300m vs. orçado anteriormente, com um desembolso ainda a ser executado de ~R$500m (60% nos próximos 2 anos), gerando +150Kt da fase 1 (vs. 250Kt anteriormente, as 2 fases), com start-up no 2S26 e postergando a parada de manutenção para 2S25; (ii) o novo centro de reciclagem em Pindamonhangaba (SP); e (iii) a conclusão do projeto de mineração sustentável em Miguel Burnier (MG), cujo start-up será no 4T25 e ramp-up ao longo do 1S26. Este último passou por ajustes de escopo e taxa de câmbio, provocando elevação do desembolso total para R$3,6b (+13% vs. orçado anteriormente), e faltando investir 30% desse montante, que por sua vez será concentrado ainda este ano e com um resquício de R$500m previsto para 26E.
Dentro desse desenho, quase metade do CAPEX de competitividade de 2026 (R$800m) estará concentrada nesses três projetos prioritários. Mesmo com a conclusão formal do projeto de mineração prevista para o fim de 2025, parte dos desembolsos residuais será carregada para 2026 devido a etapas finais de ramp-up.
Sustaining será de R$3b/ano nos próximos 5 anos.
A companhia apresentou também pela primeira vez um guidance médio de CAPEX de manutenção (sustaining) para os próximos 5 anos, est em R$3b/ano (-2,5% vs. Genial Est.), abrangendo (i) mini-mills e a (ii) usina integrada de Ouro Branco (MG). Neste caso, destacamos avanços no modelo de gestão de ativos críticos, com a criação de equipes multidisciplinares dedicadas à manutenção de Altos-fornos e coquerias. Como resultado, a companhia conseguiu postergar a grande parada do Alto-forno 1 para 28E (vs. 27E anteriormente) e estender a vida útil da coqueria 2 para 2038 (+4 anos vs. anteriormente), aproximando-a da longevidade do Alto-forno 2 — um ganho relevante em termos de eficiência do capital empregado.
Outro ponto de destaque comentado durante a apresentação foi a estratégia de autogeração de energia elétrica no Brasil, com a companhia tendo comprado 2 conjuntos de PCHs por R$440m no início deste ano. Como energia responde por ~4% do COGS, o investimento em ativos próprios de geração reduz significativamente os encargos setoriais e de fio, além de substituir contratos take-or-pay por OPEX. Na prática, a companhia conseguirá reduzir sua conta de luz em ~60%, trazendo a fatia do custo de 4p.p. para patamares próximos de 1,6–1,8p.p. Sr. Japur ressaltou que esses projetos oferecem retornos da ordem de IPCA + 16%.
ON Brasil: Tarifas dos EUA podem trazer efeitos indiretos negativos.
Sr. Metz destacou que embora o DNA da companhia ainda esteja ligado ao vergalhão para concreto armado, esse item representa hoje apenas ~30% do mix, enquanto aços longos industriais (inclusive automotivo) já respondem por ~40% e os aços planos vêm ganhando participação crescente. Além disso, a verticalização da operação é marcada pela presença de 23 unidades de downstream e pela divisão comercial da Gerdau na distribuição de aço, que assegura capilaridade em todas as regiões do Brasil.
Com relação ao impacto das tarifas aplicadas pela administração Trump sob aço bruto importado (+50% dentro da seção 232), as operações brasileiras da companhia praticamente não exportam placas ao mercado norte-americano, diferente de diversos pares (divisão da ArcellorMittal do Brasil, por exemplo). Por isso, o efeito direto para a Gerdau é mínimo. Entretanto, diversos clientes da companhia — notadamente transformadores, fabricantes de máquinas, equipamentos e autopeças — têm parte relevante da receita sujeitas as tarifas (~20% das autopeças são exportadas, e desse volume, ~20% vão para os EUA, ou seja, ~4% do top-line do setor). Por isso, é importante ressaltar que isso pode, indiretamente, reduzir volumes de aço consumido no Brasil.
Outro ponto crítico destacado pelo management foi o desequilíbrio entre oferta vs. demanda no mercado doméstico. O Brasil atravessa ritmo recorde de importações de aço, anualizadas em 6,3Mt 25E, sendo ~65% oriundos da China. Além do volume elevado, o mix das importações mudou: aços planos cresceram para ~26% (+15p.p. em 5A); longos alcançaram ~17% (+8p.p. em 5A); e o total relativo ao consumo aparente atingiu ~23% (+13p.p. em 5A). Logicamente, essa alteração pressionou a rentabilidade e criou um ambiente competitivo mais desafiador. O regime de cota-tarifa implementado pelo Ministério do Comércio (MDIC) há mais de 1 ano, tendo passado por uma revisão com adição de mais NCMs em Jun., continua apresentando ineficácia prática, dada a amplitude da banda e a persistência de subsídios e dumping, defendendo a discussão de instrumentos mais eficazes, como medidas antidumping formais.
ON Brasil: Miguel Burnier como principal pilar estratégico.
Diante de um cenário mais adverso para a ON Brasil, a companhia estruturou um plano estratégico interno baseado em 3 pilares. O 1° pilar é a verticalização da operação de Ouro Branco (MG) via mineração própria em Miguel Burnier-MG, cujo projeto contempla 5,5Mtpa de minério de ferro, com reservas certificadas para 40A e CAPEX de R$3,6b (conforme detalhado ao longo do relatório). A extração do itabirito de baixo teor de Fe — mas também de baixa SiO₂ em ~3-4% — passa por um processo de dupla flotação na concentração, chegando em um pellet feed de 65% de Fe (high grade), com empilhamento a seco. A logística integrada com mineroduto (~30Km de extensão) permitirá ganhos potenciais de agilidade e redução de custo logístico na integração direta com o suprimento da usina em Ouro Branco. O ramp-up da mina está previsto para o 1S26. Já o cash cost é de US$30/t (pellet feed entregue na usina), com consumo interno projetado em 3Mtpa, sobrando ~2,5Mtpa para venda de minério de ferro a terceiros.
Para 2026, a expectativa é de ganho de EBITDA anual de +R$400m, sobretudo pela redução da necessidade da companhia continuar comprando de terceiros. Já a captura total deve atingir R$1,1b em 27E+ – sendo 60% via redução custo e 40% via vendas a terceiros. No entanto, vale ressaltar que a companhia está usando para o preço da referência 62% Fe uma premissa de longo prazo (2028+) de ~US$100/t (vs. US$75/t Genial Est.). Sabendo que o mercado precifica uma curva em backwardation devido a diversas entradas de capacidade em 2027+ (Simandou e Pilbara) e uma demanda em declínio na China, com justamente o preço spot hoje oscilando entre US$100-105/t, é possível que a companhia tenha sido muito otimista jogando como premissa um preço muito similar no longo prazo ao que estamos vendo atualmente.
Ao questionarmos isso, Sr. Japur defende que uma parte relevante de adição de capacidade será para cobrir a saída de oferta via deplation, além da queda gradual de teor de Fe nas minas que estão entrando em exaustão. Dessa forma, mais massa terá que ser usada na tendência de blendagem para se chegar ao medium grade (62% Fe) vs. o que é aplicável na realidade de hoje, o que iria acomodar melhor o volume entrante das novas capacidades (Simandou + Pilbara). Além da redução de custos, o minério de maior teor traz benefícios indiretos, como menor consumo de sinter e coque e maior estabilidade dos altos-fornos.
ON Brasil: Outros 2 pilares de criação de valor.
O 2° pilar é o crescimento em aços planos para a operação do Brasil, sustentado pelo novo laminador BQ2, fruto de um CAPEX já executado de R$1,5b em Ouro Branco (MG). A capacidade adicional é de 250ktpa, levando a uma capacidade total de +1,1Mtpa no 4T25E (+30% vs. atualmente) e potencial gerador de +R$400m/ano de EBITDA incremental. O equipamento atingiu recorde de 4.5kt/dia recentemente e já opera em plena carga. O benefício do projeto advém principalmente da substituição de placas por HRC (80% do ganho ocorre via receita líquida, não redução de custo), agregando valor, permitindo novas aplicações industriais e aumentando o rendimento (eliminação de cortes laterais). O portfólio ampliado tem foco em atender clientes do segmento de óleo e gás e setores industriais de maior valor agregado, enquanto a distribuição é reforçada pela rede própria (comercializadora Gerdau) e pela recente aquisição de um distribuidor em Araucária, especializado em aços planos e estruturais.
O 3° pilar é a otimização das mini-mills regionais, com foco em maximizar utilização de ativos, reduzir custos e ampliar competitividade local. O Sr. Metz citou exemplos como o fechamento da unidade de Mogi das Cruzes (SP), com migração da produção para Charqueadas (RS); o investimento para fornecer tarugos a Calcaia; a instalação de um Shredder de grande porte em Pindamonhangaba (SP) para captar sucata competitiva no Vale do Paraíba (SP); e a expansão da Cosigua (RJ) para perfis maiores, reduzindo a dependência de Ouro Branco (MG) no atendimento ao Sudeste. Entendemos que essas iniciativas devam reforçar a flexibilidade do modelo mini-mill, que, ao captar sucata regional, garante custo competitivo e proximidade com clientes.
ON América do Norte: Tarifa e dinâmica de importação.
Sr. Wang estruturou a apresentação em torno do impacto regulatório e competitivo das tarifas de 50% impostas ao aço bruto importado que adentram nos EUA. O efeito imediato foi a queda das importações para níveis semelhantes aos observados em 2018-2020 – 2,8Mt/ano 25E vs. 3,1Mt/ano 22-24A – com reflexos diretos na dissipação da demanda doméstica com produção local. Essa proteção comercial não se restringe apenas aos EUA: o Canadá também aplicou tarifas retaliatórias de +25% em resposta às medidas norte-americanas, enquanto o México propôs alíquotas que variam de 10-50%, reforçando a tendência de “autodefesa” regional. O resultado líquido dessa conjuntura foi o fortalecimento dos players locais, permitindo que as usinas norte-americanas da Gerdau operassem em 85–87% de taxa de utilização, o que já representa uma aceleração considerável vs. ~70% cenário pré tarifas em aço.
Ademais, avaliamos que o movimento de retração das importações elevou os spreads domésticos nos EUA vs. mercado internacional, especialmente em perfis estruturais (+10%) e barras comerciais (+7%). Essa vantagem competitiva tem impulsionado preços e margens, sobretudo nos segmentos de maior valor agregado, como vigas e produtos estruturais. Para o Sr. Wang, a lógica de defesa comercial ganhou contornos de “segurança nacional” nos EUA, o que deve prolongar esse regime tarifário (diferentemente do que vemos no Brasil). A renegociação do USMCA no final do 1T26E será um ponto crítico, já que pode redefinir fluxos entre EUA, Canadá e México.
Nas operações da companhia, o efeito foi duplo. Por um lado, as unidades localizadas nos EUA passaram a se concentrar quase exclusivamente no mercado doméstico, capturando margens elevadas. Por outro, no Canadá, houve necessidade de ajustes estratégicos. Importante comentar que a companhia possui 25% dos ativos da ON América do Norte localizados no Canadá, e que usualmente transfere 250Kt de placas (10% da produção trimestral) para posterior laminação nos EUA. Por isso, plantas como Cambridge (ON) e Whitby (ON) se reposicionaram com foco maior em perfis comerciais e vergalhão, enquanto Manitoba (MB) manteve sua relevância em perfis especiais – 50% seguem destinados aos EUA. Dessa forma, houve mitigação dos impactos via adaptação de mix e divisão parcial de tarifas com clientes, resultando em performance mais estável, ainda que com rentabilidade inferior vs. observada nos EUA.
ON América do Norte: Energia solar, data centers e automotivo.
Na análise setorial, o Sr. Wang ainda ressaltou que, apesar de a demanda total permanecer relativamente estável, a redução de importações nos EUA fortaleceu os produtores domésticos, beneficiando diretamente a Gerdau. Entre os segmentos, o management força do mercado de energia solar, alavancado pelo Inflation Reduction Act. Atualmente, o mercado de estacas para usinas solares nos EUA movimenta ~1Mtpa, no qual a companhia detém participação de ~30%, capturada principalmente via usinas no Texas e Flórida. Esse nicho, que há 7 anos representava zero no portfólio, hoje responde por ~6% da produção total da divisão América do Norte, muito em função da verticalização da estratégia comercial, que inclui desde a venda direta de laminados até a entrega de produtos processados em unidades de downstream próprias, modelo que aumenta captura de valor e fidelização de clientes.
Outro vetor de crescimento citado foi a demanda por estruturas para data centers, especialmente na planta de Petersburg (VA) se beneficia de localização estratégica e portfólio de seções adequadas para esse mercado. Segundo O Sr. Wang, a diferenciação também se dá pela menor intensidade de carbono das vigas da companhia, o que deve ganhar relevância diante das exigências crescentes de sustentabilidade. No setor automotivo, o executivo foi mais cauteloso: embora o movimento de onshoring traga perspectiva positiva, ainda é um processo de longo prazo. O indicador mais promissor tem sido o aumento das cotações e consultas de OEMs para novos projetos em aços especiais, sinal de que há uma tendência futura de recomposição de demanda. Ainda assim, problemas de affordability (preços elevados dos veículos) têm limitado a produção no curto prazo (-1,9% no 1S25 vs. 1S24), parcialmente compensada pelo ganho de market share dos fabricantes domésticos. Já na construção civil, o segmento não-residencial da qual a companhia é mais exposta segue fraco, embora haja expectativa de melhora com a trajetória descendente dos juros. Já a infraestrutura, apesar das altas expectativas geradas por programas federais, ainda não apresentou impactos significativos, embora o management acredite que represente uma “poupança de investimentos” a ser ativada nos próximos anos, diante do quadro evidente de deterioração estrutural da infraestrutura nos EUA.
ON América do Norte: micro mills não devem competir no mesmo mix de produtos.
Em termos de oferta, o Sr. Wang observou que os novos projetos anunciados se concentram em vergalhão e laminados planos, apoiados em tecnologias de micro mills (operada por pares, como a Nucor), composta por um lingotamento contínuo que permite reduzir a necessidade de três unidades para apenas duas, retirando a etapa de resfriamento para posterior laminação, o que torna o processo menos complexo, levando a redução de custos. No entanto, nos segmentos de barras comerciais e perfis estruturais — onde a Gerdau concentra seu portfólio nos EUA— não deve haver novos investimentos greenfield relevantes de micro mills, dado as dificuldades para se chegar a diferentes tipos de especificações e bitolas, sendo uma forma viável e escalável apenas para vergalhão. Isso reforça a competitividade da companhia nessas linhas.
Entre os destaques recentes, o management apresentou o projeto de downstream em estacas solares, com capacidade produtiva de +90Ktpa, operando com tecnologia de corte a laser — inovação que aumenta eficiência e reduz desperdício vs. modelo tradicional de prensas. Três linhas já estão em ramp-up e devem estar 100% operacionais até o fim deste ano, gerando vantagens de custo e captura de margem. Outro projeto estratégico é a modernização da planta de Midlothian (TX), a maior mini-mill da companhia na região. A 1° fase do CAPEX, de R$1,2b, permitirá aumentar o peso das corridas na aciaria e expandir a capacidade de lingotamento contínuo, introduzindo tecnologia combo caster para ampliar produção em +150Ktpa, gerando incremento de +R$275m/ano de EBITDA, com startup previsto para o 2S26.
Nossa visão e recomendação
Alavancagem saudável, distribuição de remuneração ao acionista.
A alavancagem permanece em patamar muito confortável, em 0,85x Dívida líq./EBITDA, abaixo do covenant interno de 1,0x e bem abaixo do threshold de 2,0x para investment grade. Na prática, isso significa espaço adicional de R$6–8b sem comprometer o rating, ainda que a companhia não tenha intenção de elevar o nível endividamento. Com alavancagem baixa, a companhia vem distribuindo sistematicamente mais que os 30% de payout estatutário. Desde 2018, cerca de 75% do FCF foi retornado via dividendos e recompras. Desde o início dos programas de buyback, o share count da Gerdau S.A. já foi reduzido em 7%. O programa atual, válido até Set, já está 85% concluído (com 2,8% do free float recomprado e 71% dessas ações foram canceladas em tesouraria).
Embora tenhamos recebido pushbacks de investidores de que a remuneração aos acionistas está baixa (R$0,12/ação no 2T25, yield anualizado de ~3%), ainda assim, muitos desconsideram o programa de recompras e focam apenas nos dividendos, dado uma ótica mais imediatista. Entretanto, se assumirmos que a companhia chegará aos 100% do programa até o final do ano — o que nos parece bem factível—, acreditamos que o combo total (dividendos + recompra de ações) levará um retorno ao acionista de ~6% em 25E, o que é satisfatório se ponderarmos o atual estágio do ciclo do aço no Brasil, além de ter sido um ano de desembolso de CAPEX significativo com o projeto de Miguel Burnier (MG).
Nessa linha, Sr. Japur continuou reforçando que, a recompra continua sendo uma alavanca eficiente de criação de valor, dado o nível de desconto das ações. Ele destacou que, enquanto o valor implícito por soma das partes sugere R$22/ação (upside de +30% vs. fechamento de hoje), considerando um múltiplo implícito mais justo de EV/EBITDA LTM na casa de 5,4x (vs. ~4x negociando a valores de hoje). Esse descolamento fundamenta a visão de que seguir recomprando ações é a melhor alocação de capital no momento, e que novos programas poderão ser implementados após a conclusão do atual. Por isso, acreditamos que o Dividend Yield 26E continuará baixo (mesmo com a redução do CAPEX), chegando a 4%, mas com o combo adjunto do programa de recompras indo para 7-8% (a depender claramente do preço das ações).
Brasil com dificuldades em vergalhão; EUA com projetos brownfield.
Na ON Brasil, uma temática que muitos investidores possuem preocupação é com relação a postura comercial mais agressiva em vergalhão nos últimos 9M. O management argumentou que os descontos aplicados no início do ano tiveram caráter estratégico de assegurar taxa de utilização mínima das plantas e reagir ao avanço de importações e abertura de capacidades, visando recuperação de market share. Os preços do vergalhão de mercado estão em queda vertiginosa (-19% em YTD). Além de uma estratégia de defesa em meio a um ambiente com muita oferta, a Gerdau reiterou seu papel como price maker em um produto que sempre esteve intrinsicamente ligado a imagem da companhia (top of mind). Por isso, Sr. Werneck defendeu que o market share é inegociável, mesmo que o sacrifício seja a rentabilidade atualmente. Conforme nossas publicações semanais, avaliamos que a demanda no setor de construção não será capaz de absorver rapidamente o excesso de oferta criado pelo aumento da capacidade. Portanto, as usinas (Gerdau e seus pares) provavelmente continuarão tendo dificuldades para repassar aumentos de preço até que os fundamentos melhorem, com os ajustes anunciados em Out enfrentando forte resistência. Estamos calculando que o excesso de oferta seja de ~615Kt.
Já na ON América do Norte, o discurso do Sr. Wang foi enfático: disciplina competitiva deve ser compreendida como estrutural, com apenas 3–4 players relevantes em aços longos. Ademais, acreditamos que o elevado CAPEX e prazos esticados de execução devem inviabilizar os projetos greenfields nos EUA, tornando expansões muito marginais (+25–50Ktpa) a única via realista sem alterar a conjuntura de oferta. Em paralelo, projetos brownfield em algumas plantas que a própria companhia pode investir como possível expansão de capacidade produtiva para 1,7–1,8Mt (vs. 1,4–1,5Mt anteriormente) via ComboCaster, que deve gerar TIR entre 15–20% com payback de 4–6 anos. Isso nos mostra como a prioridade deve ser a de otimizar ativos existentes em vez de investir em greenfields de alto risco.
Guidance reduzido, confiança elevada.
Agregando (i) a revisão do guidance de CAPEX 26E para R$4,7b (-22% a/a), refletindo não apenas o encerramento de projetos relevantes, mas sobretudo a ampliação da vida útil de ativos estratégicos – como Altos-fornos (BFs) e coquerias –, permitindo à companhia postergar reformas significativas para 2028+; e (ii) a eliminação total dos impactos negativos periféricos associados à integração do projeto de mineração de Miguel Burnier na usina de Ouro Branco (MG) – que resultaram em perda de 120–150Kt de ferro gusa/aço em Mai-Jun –, mas que devem ser revertidos já a partir do 3T25E, contribuindo para uma margem incremental e maior diluição de custos fixos na operação, não só mantivemos nossa recomendação de COMPRA para a companhia, mas também reajustamos nosso Target Price 12M para R$20,50 (vs. R$20,00 anteriormente), implicando em um upside de +20,6%.