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    Publicado em 29 de Setembro às 19:13:54

    Relatório de Crédito | Ago/25: Crédito Desacelera, Mas Inadimplência Segue em Alerta

    Em agosto de 2025, os dados divulgados pelo Banco Central do Brasil (Bacen) apontaram para uma desaceleração do crescimento anual do crédito, acompanhada da contínua deterioração na qualidade dos ativos. O saldo total de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) avançou +0,5% m/m e +10,1% a/a, abaixo da taxa registrada em julho (+10,7% a/a). Por segmento, observou-se dinâmicas similares de desaceleração: o crédito às famílias avançou +11,0% a/a (vs. +11,5% em julho), enquanto o crédito para empresas também perdeu fôlego, com expansão de 8,7% a/a (vs. +9,5% em julho).

    As concessões de crédito somaram R$ 691,2 bilhões em agosto, apresentando queda de -1,8% m/m e expansão de +1,8% a/a, seguindo em trajetória de desaceleração (vs. +4,8% a/a em julho e +7,5% a/a em junho).

    A inadimplência seguiu em trajetória de deterioração, encerrando o mês em 3,9% (+0,16 pp m/m; +0,73 pp a/a) – ficando próximo aos níveis da crise de 2016-2017. Em termos de evolução, a alta de inadimplência chega a quase 0,8 pp em apenas 6 meses, ainda atrás da alta de quase 1,2 pp em 2021, quando os bancos foram agressivos principalmente na concessão de cartão de crédito.

    No crédito livre, o índice de inadimplência avançou para 5,4% (+0,15 pp m/m; +0,94 pp a/a), puxado pela carteira de pessoas físicas, que atingiu 6,8% (+0,2 pp m/m; +1,2 pp a/a) — maior nível desde 2013. O movimento reforça nossa tese de piora na qualidade dos ativos com o ciclo de alta de juros iniciado em set/24, e deve seguir como vetor de deterioração nos próximos meses.

    O crédito rural permanece como principal destaque negativo. A inadimplência na linha subiu pelo quinto mês consecutivo, chegando a 5,1% em agosto (+0,8 pp m/m; +3,0 pp a/a), renovando o maior nível da série histórica (desde 2011). Apesar de uma leve queda na inadimplência curta (15 a 90 dias), que recuou para 2,8% (-0,5 pp m/m; -0,1 pp a/a), a dinâmica deve seguir pressionando os índices acima de 90 dias nos próximos meses, mantendo a qualidade da carteira rural como um ponto de atenção. O cenário é especialmente desafiador para o Banco do Brasil, cuja carteira tem cerca de um terço de exposição ao setor (~ R$ 405 bilhões).

    Nossa tese de que a inadimplência aumentaria cerca de nove meses após o início do ciclo de alta da Selic — que começou em setembro de 2024 — acabou se concretizando de forma antecipada. Esse movimento foi acelerado pela piora no ciclo agrícola, em especial nas lavouras de soja e milho no Centro-Oeste, onde a combinação de queda nos preços das commodities e endividamento excessivo de determinados clientes do agronegócio elevou as dificuldades financeiras dos produtores. O impacto foi suficiente para antecipar a deterioração da carteira rural e puxar para cima os índices de inadimplência do sistema.

    O spread bancário médio avançou para 20,7% (+0,27 pp m/m; +2,2 pp a/a), refletindo o aumento da taxa de empréstimo somado a queda no custo de captação mensal.

    Já o endividamento das famílias recuou sequencialmente para 48,6% (-0,2 pp m/m; +0,7 pp a/a), enquanto o comprometimento de renda diminuiu para 27,9% (-0,1 pp m/m; +1,0 pp a/a), ambos ainda em patamares historicamente elevados.

    Em agosto, as instituições privadas nacionais ampliaram sua participação para 44,5% do crédito total (+0,2 pp m/m; +1,3 pp a/a). Já as instituições públicas (ex-BNDES) registraram leve perda de participação, com market share de 34,2% (-0,1 pp m/m; -0,6 pp a/a).

    Crédito: Ritmo de Crescimento Desacelera

    O saldo total de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) avançou +0,5% m/m em agosto, alcançando R$ 6,76 trilhões, mas o crescimento anual desacelerou para +10,1% a/a (vs. +10,7% em julho).

    O desempenho no mês foi sustentado pelas operações com pessoas físicas (PF), que somaram R$ 4,21 trilhões (+0,7% m/m), enquanto o saldo de crédito às pessoas jurídicas (PJ) mostrou estabilidade (+0,2% m/m), em R$ 2,55 trilhões. Na comparação anual, o crédito às famílias cresceu +11,0% a/a (vs. +11,5% em julho), ao passo que o crédito às empresas também desacelerou, para +8,7% a/a (vs. +9,5% em julho).

    O estoque de crédito com recursos livres totalizou R$ 3,9 trilhões, com leve avanço de +0,3% m/m e alta de +8,8% a/a. O desempenho no mês foi puxado por Pessoas Físicas (+0,6% m/m), enquanto Pessoas Jurídicas se manteve praticamente estável (-0,1% m/m).

    O crédito livre para PF somou R$ 2,32 trilhões, com avanço de +0,6% m/m e +11,9% a/a. O crescimento no mês foi impulsionado pelas modalidades de cartão de crédito rotativo (+3,4% m/m) e financiamento de veículos (+0,9% m/m). Destacamos também o forte avanço do crédito consignado privado (+8,6% m/m), produto relançado neste ano, que já atingiu uma carteira de R$ 54,1 bilhões (+33,1% a/a).

     Já o crédito livre para PJ totalizou R$ 1,56 trilhão, permanecendo praticamente estável no mês (-0,1% m/m e +4,5% a/a). O resultado refletiu quedas em capital de giro (-1,2% m/m) e contas de cheque especial garantidas (-1,7% m/m), parcialmente compensadas pelo avanço no adiantamento sobre contratos de câmbio (+3,2% m/m).

    Inadimplência: Forte Deterioração; Agro é Destaque Negativo

    A inadimplência total do Sistema Financeiro Nacional (SFN), considerando os atrasos superiores a 90 dias, atingiu 3,9% em agosto, com alta de +0,16 pp m/m e +0,73 pp a/a, dando sequência à trajetória de deterioração da qualidade da carteira de crédito, como havíamos apontado por conta da alta da taxa básica de juros. Tipicamente, a inadimplência começa a piorar 9 meses após o início do aperto monetário (Set 2024). No entanto, a piora da inadimplência do segmento rural, antecipou a piora do ciclo alguns meses.

    No crédito livre, o índice de inadimplência avançou para 5,4% (+0,15 pp m/m e +0,94 pp a/a), refletindo a piora tanto nas operações com pessoas físicas quanto com pessoas jurídicas. Na carteira de PF, o indicador subiu para 6,8% (+0,2 pp m/m e +1,2 pp a/a) — maior nível desde 2013.  Já nas operações com PJ, a inadimplência atingiu 3,3%, com alta de +0,1 pp m/m e +0,2 pp a/a.

    No crédito direcionado, a inadimplência aumentou +0,19 pp m/m e +0,50 pp a/a, alcançando 2,0%. O destaque negativo continua sendo o crédito rural para pessoas físicas, cuja inadimplência acelerou para 5,1% (+0,8 pp m/m e +3,0 pp a/a), renovando o maior nível da série histórica (desde 2011).

    O cenário é especialmente negativo para o Banco do Brasil, cuja carteira de crédito possui cerca de 1/3 de exposição ao setor rural — fragilidade já evidenciada nos resultados do 2T25.

    Por outro lado, observamos uma queda da inadimplência curta (15 a 90 dias) no segmento rural, que retraiu -0,5 pp m/m e -0,1 pp a/a, para 2,8%.

    Inadimplência por Modalidade

    Em agosto, a inadimplência seguiu elevada nas principais modalidades de crédito livre, com deterioração concentrada em produtos de maior risco.

    No cartão de crédito total com recursos livres — que inclui o parcelado sem juros — o índice atingiu 9,1%, com alta de +0,3 pp m/m e +1,5 pp a/a. Dentro do segmento, o rotativo apresentou deterioração adicional, alcançando 60,5% (+0,2 pp m/m e +5,1 pp a/a), enquanto o parcelado subiu para 13,2% (+0,1 pp m/m e +1,7 pp a/a).

    No crédito pessoal não consignado, a inadimplência avançou para 8,3% (+0,4 pp m/m e +2,4 pp a/a). Já no financiamento de veículos, o índice atingiu 5,4% (+0,1 pp m/m e +0,8 pp a/a).

    No cheque especial, houve leve alívio no comparativo mensal, com queda de -0,3 pp m/m, para 14,8%, mas ainda com alta de +3,0 pp a/a.

    Cobertura

    índice de cobertura — que mede a relação entre o saldo de provisões e os créditos vencidos há mais de 90 dias — recuou -2,9 pp m/m em julho, atingindo 192,9%. Apesar da queda na margem, o indicador ainda acumula alta de +9,1 pp a/a.

    Endividamento/Comprometimento de Renda: Recuo no Mês, Mas Ainda em Níveis Elevados

    Em julho (último dado disponível), o endividamento das famílias brasileiras recuou para 48,6% da renda, com queda de -0,2 pp m/m. Apesar do alívio marginal, o indicador permanece em patamares historicamente elevados, acumulando avanço de +0,7 pp a/a.

    comprometimento de renda também apresentou leve queda, recuando -0,1 pp m/m, para 27,9%, embora ainda registre uma alta de +1,0 pp a/a.

    Spread: Alta no Mês

    A taxa média de juros das concessões de crédito do SFN alcançou 31,8% a.a. em agosto, com alta de +0,23 pp m/m e +4,2 pp a/a. O avanço no mês foi puxado principalmente pelas operações com pessoas físicas (PF), cuja taxa média subiu para 36,4% a.a. (+0,3 pp m/m e +4,3 pp a/a).

    A taxa de captação recuou marginalmente para 11,1%, queda de -0,04 pp m/m, mas ainda acumula alta de +2,0 pp a/a.

    Como resultado, o spread bancário médio avançou para 20,7% (+0,27 pp m/m e +2,2 pp a/a). No segmento de pessoas físicas, o spread atingiu 25,8% (+0,3 pp m/m e +2,3 pp a/a), enquanto nas operações com empresas ficou em 9,5% (+0,1 pp m/m e +1,6 pp a/a).

    Market Share de Crédito: Leve Ganho de Share das Instituições Privadas em Agosto

    Em agosto, as instituições privadas nacionais ampliaram sua participação para 44,5% do mercado de crédito, com ganho de +0,2 pp m/m e +1,3 pp a/a.

    Já as instituições públicas (ex-BNDES) registraram leve perda de participação, com market share em 34,2% (-0,1 pp m/m e -0,6 pp a/a).

    Concessão de Crédito: Concessões Livres Registram Queda m/m

    As concessões de crédito totalizaram R$ 691 bilhões em agosto, com retração de –1,8% m/m, mas ainda em leve alta de +1,8% a/a. O resultado reforça a desaceleração frente ao observado em julho (+4,8% a/a).

    As concessões com recursos livres somaram R$ 613 bilhões, recuando –3,0% m/m, mas crescendo +3,2% a/a. O desempenho no mês foi pressionado pelas operações com pessoas físicas (PF), que caíram –1,7% m/m, e principalmente pelas concessões a pessoas jurídicas (PJ), que recuaram –5,0% m/m.

    As concessões com recursos direcionados totalizaram R$ 78,2 bilhões, com crescimento de +9,3% m/m, mas queda de –8,0% a/a. O desempenho positivo sequencial no mês foi impulsionado pelas operações com pessoas físicas, que avançaram +8,7% m/m, puxadas pelo crédito rural e recursos do BNDES. O segmento de empresas também mostrou avanço, com alta de +10,3% m/m, beneficiadas pelo crédito rural. Sequencialmente, o crédito rural melhora substancialmente por conta da sazonalidade do plantio, mas no comparativo anual, o crédito rural cai -22,3% no segmento PF e -18,6% na PJ.

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