Classificamos o resultado da companhia como positivo por algumas razões principais: fortes números da unidade norteamericana, impulsionada sobretudo pela construção não-residencial, bons números da unidade brasileira e surpresas na operação sulamericana. A operação de aços especiais também não foi diferente, apresentando números sólidos. De forma geral, todas os segmentos se mantiveram resilientes gerando, até agora, o melhor resultado das empresas que cobrimos em Siderurgia e Mineração do trimestre. A empresa também destacou que se trata do seu melhor segundo trimestre da história, um novo recorde.
Detalhamento Operacional
Receita
A empresa totalizou uma receita de R$ 23,0b (+13,0% t/t e +20,1% a/a), como impacto da boa performance dos seus segmentos, sobretudo após os reajustes de preços realizados ao longo do 2T22.
Outro destaque se deu no volume produzido, que totalizou 3,4 Mt (+0,7% t/t e -0,6% a/a), o que deu origem a um volume vendido de 3,2 Mt (+6,2% t/t e +0,9% a/a). Ou seja, a empresa se beneficiou tanto do lado de preços, quanto de volume.
Um dos destaques foi a ON AN, que atingiu R$ 8,6b (+4,3% t/t e +29,7% a/a). Mesmo com um menor volume produzido de aço de 1,1 Mt (-5,7% t/t e -9,8% a/a), o volume de vendas aumentou no tri, alcançando 1,1 Mt (+2,4% t/t e -1,9% a/a). Isso é em grande medida explicado pela alta demanda do setor de construção não-residencial (com a visão para 2022 ainda permanecendo positiva). Além disso, os reajustes de preços realizados se mostraram eficazes, uma vez que havia uma demanda forte o suficiente para absorvê-los.
Já o lado da ON Brasil atingiu R$ 9,6b (+19,5% t/t e +7,2% a/a), apesar do cenário de juros mais elevados. O resultado foi afetado por um aumento de vendas para 1,5 Mt (+10,5% t/t e +3,6% a/a) e dos níveis satisfatórios de demanda em construção e manufatura, com ênfase especial em maquinário, equipamentos, agronegócio e energia, o que permitiram o reajuste de preços e ganhos desse lado.
Apesar da representividade menor, a ON AS também teve uma boa performance, sendo uma surpresa positiva para o 2T22, atingindo R$ 1,9b (+8,0% t/t e +44,8% a/a). Mesmo com uma redução do volume vendido no tri para 292 Kt (-12,0% t/t e +9,1% a/a), o reajuste de preços mais que compensaram essa baixa. A grande razão para a boa performance do segmento está na construção civil dos países atuantes, sobretudo na Argentina, mesmo com a alta volatilidade da sua economia.
Por fim, a ON Aços Especiais também surfou a mesma onda das demais: aumento de preços e volumes vendidos, atingindo R$ 3,7b (+13,6% t/t e +38,0% a/a). Vale ressaltar que a venda de veículos leves permanece sendo afetada pela escassez de semicondutores. A boa performance de veículos pesados no Brasil e de óleo e gás nos EUA vêm compensando os números, permitindo um resultado sólido cuja perspectiva, em caso de normalização dos chips, é de um crescimento ainda mais robusto.
Custos
O custo total somou R$ -17,1b (+12,6% t/t e +24,4% a/a), com as ONs ainda apresentando maiores pressões sobretudo do lado dos insumos: apesar das quedas no final do trimestre, elas ainda continuam em patamares elevados.
Os impactos do carvão e coque ainda foram sentidos com as grandes flutuações, sem contar os impactos naturais da inflação se refletindo em maiores gastos com energia e pessoal. A volatilidade de preços da sucata nos EUA também foi um fator determinante dentro do aumento de custos da ON AN e que muitas vezes também são usados como referências para ajustes no Brasil.
EBITDA e Margem
Com um crescimento da receita acima dos custos, a empresa obteve um EBITDA de R$ 6,7b (+14,6% t/t e +13,3% a/a), expandindo a margem no tri que atingiu 29,1% (+0,4 pp t/t e -1,7 pp a/a), refletindo os reajustes de preços e aumento dos volumes do lado da receita que se sobressaíram frente aos custos.
Lucro Líquido
A empresa reportou um lucro de R$ 4,3b (+46,2% t/t e +9,3% a/a), reflexo de um operacional mais forte e de um resultado financeiro mais em controle, atingindo uma margem líquida de 18,7% (+4,2 pp t/t e +1,1 pp a/a).
Endividamento
A empresa também apresentou redução de sua dívida total que atingiu R$ 12,4b, inclusive com mudança de rating pelas agências de crédito. Por exemplo, a Fitch elevou em junho os ratings da Gerdau para BBB.
Remuneração aos Investidores
Dividendos
A empresa aprovou ontem a distribuição de R$ 1,2b em dividendos (R$ 0,71/ação), um dividend yield de 2,90% na cotação atual. Eles serão pagos em 25 de agosto de 2022, ficando ex-dividendos no dia 16 deste mês.
Programa de recompra de ações
Em 5 de maio de 2022, a empresa aprovou a recompra de ações de até 55.000.000 ações preferenciais, aproximadamente 5% do free-float, com duração máxima de 18 meses. Até 18 de junho de 2022, a empresa havia adquirido 17.769.500 ações preferenciais, com um preço médio de R$ 23,88, correspondendo a cerca de 32,3% do total estipulado.
Perspectiva futura
Acreditamos que o caminho a ser trilhado pela Gerdau dependerá muito da situação global, sobretudo da conjuntura econômica tanto dos EUA quanto do Brasil, até por suas operações incluírem tais países.
Porém, o cenário de incerteza sobretudo na China com relação ao sistema imobilário, bem como à demanda por aço afetando todas as referências de importação (que competem com produtos brasileiros e acabam regulando os preços de aço daqui), acabam trazendo uma maior percepção de risco para os investidores, que preferem se manter em uma posição de cautela até que de fato haja uma maior clareza sobre o futuro a ser trilhado por tais países.
Em nossa visão, a Gerdau é a empresa que apresentou os melhores resultados operacionais até agora das empresas que cobrimos em M&M. Além disso, com base nas nossas percepções acerca das outras companhias, dificilmente alguma outra a superará neste trimestre.