A Gol divulgou seus resultados relativos ao 4T22. De forma geral, fomos surpreendidos positivamente por um sólido resultado operacional, principalmente no que diz respeito ao Yield e margens. Graças a uma ótima gestão entre taxa de ocupação e aumento de tarifa, a Gol conseguiu entregar resultados melhores do que os projetados por nós no 4T22. A estrutura de custos reportada excluindo gastos com combustível evidenciou a importância do equilíbrio da gestão da ocupação das aeronaves e aumento de preços. Ainda destacamos o processo de transformação de frota, que vem colaborando significativamente para a redução do consumo de combustível e para a redução dos custos com manutenção.
Os números divulgados hoje (08/03) não foram auditados. Segundo a companhia, somente no dia 28/03 os números auditados serão divulgados. Caso tenhamos mudanças relevantes em sua divulgação, retificaremos as opiniões e premissas dispostas nesse relatório.
Principais Destaques
O Yield superou nossas expectativas, terminando o ano em 48,16 centavos (vs. Nossas estimativas de 47,76). Isso aliado a sazonalidade do período fez com que a receita reportada fosse novamente recorde, atingindo os R$ 4,73 bilhões.
Conforme mencionamos, o resultado operacional da companhia nos surpreendeu positivamente. Os principais pontos que destoaram de nossas estimativas foram as diminuições com gastos com manutenção, que, segundo a companhia, ocorreram devido a menores gastos com peças, além de já estarem provisionadas as devoluções de aeronaves do período. Com isso, o CASK e CASK ex-fuel terminaram o 4T22 em 36 e 19,75, respectivamente (vs. Nossas expectativas de 38,4 e 22,0).
Ademais, o bom resultado operacional do trimestre fez com que, mesmo com os pagamentos de leasing e investimentos, a companhia conseguisse gerar aproximadamente R$ 20 milhões de caixa, isso aliado à nova renegociação corrobora com a nossa visão de que o 4º trimestre seria um divisor de águas no que diz respeito ao fôlego da companhia em relação às suas obrigações com seus arrendadores e o seu montante em caixa e equivalentes.
Apesar do cancelamento de bonds realizados pela Abra, a alavancagem (Dív. líq./EBITDA) da Gol apresentou leve aumento frente ao 3T22, passando de 9,1x para 9,5x, principalmente por conta da emissão dos novos bonds feitos à holding. No entanto, a companhia informou que utilizando suas premissas de EBITDA para 2023, essa relação seria de 5,8x.
Por fim, dado a queda no câmbio de final de período (5,22 no 4T22 vs. 5,41 no 3T22), a companhia obteve ganho de variação cambial de aproximadamente R$ 685 milhões, o que resultou em um lucro de R$ 230,9 milhões, revertendo a sequência de prejuízos reportados nos últimos trimestres do ano. Excluindo os efeitos mencionados, a Gol obteve prejuízo de R$ 381,6 milhões.
Renegociação de Dívida
No 03/03/2023, a Gol divulgou a conclusão do seu processo de reestruturação de dívida, algo que julgamos de extrema importante e positivo para o futuro da Companhia. A Gol emitiu cerca de US$ 1,4 bilhões em bonds com vencimento em 2028 para a holding Abra, como já era previsto. Com isso, o grupo controlador Abra executou a recompra de aproximadamente US$ 1 bilhão em bonds da Gol, pagando um prêmio aos debenturistas sobre o valor atual de mercado dos títulos com vencimentos entre 2024 e 2026. Na sequência, esses títulos foram cancelados pelo Abra, representado um desconto ao par de U$ 313 milhões. Assim, a Gol reduzirá a dívida líquida em aproximadamente US$ 100 milhões, o que, segundo a empresa, gera uma economia de US$ 30 milhões por ano em pagamentos de juros.
Ressaltamos que apesar dos juros altos, 18% a.a. em dólar, houve redução de 15 p.p. do custo da dívida. Outro benefício importante da reestruturação de dívida da companhia é o aumento da duration de seus títulos, o que por sua vez deve dar mais fôlego à sua operação no curto prazo.
Guidance para 2023
Por fim, a Gol atualizou seu guidance relativo ao ano de 2023. No geral, os principais pontos de atenção são a pequena redução na estimativa de receita (~R$ 500 milhões) e a redução de aproximadamente R$ 300 milhões em investimentos e aquisições de aeronaves.
Ainda estamos com uma perspectiva negativa para o setor aéreo. Nosso grande questionamento paira sobre o Yield. Será que esse crescimento será sustentado ao longo do ano? Mesmo que o setor tenha voltado a operar próximo aos níveis de 2019, com a economia desacelerando, não sabemos até quando o consumidor estará receptível aos novos níveis de tarifa. Como sendo a empresa mais alavancada do setor, acreditamos que a Gol pode sofrer mais em um cenário de deterioração do macro brasileiro, que pode ofuscar os efeitos ganhos com benefícios fiscais e até mesmo rolagens de dívidas.
Mantemos nossa recomendação de VENDA com preço alvo de R$ 5,40.