A Guararapes irá reportar seus números do 4º trimestre de 2023 no dia 06/mar. Após um 3º trimestre com intensa atividade promocional, onde a companhia optou pelo trade-off de volume em detrimento de margem, esperamos uma desaceleração sequencial do ritmo de crescimento de vendas no varejo.
Contudo, em relação à rentabilidade, acreditamos em margens mais saudáveis sequencialmente, ainda que ‘quase’ estáveis na visão a/a.
Para 2024, acreditamos que a Guararapes deve direcionar seu foco ao aumento de produtividade da área de vendas – sem grandes planos de expansão física. Com níveis de estoques mais normalizados após a centralização da fábrica em Natal, entendemos que a atividade promocional será mais racional ao longo do ano.
Pensando em margens, acreditamos que o trabalho de redução de despesas já foi realizado – dito isso, esperamos que os ganhos de rentabilidade venham de uma dinâmica mais positiva para a margem bruta vs. 2023.
Apesar de vermos uma tendência mais favorável para a rentabilidade, a nossa expectativa é que a recomposição de margens aconteça de maneira gradual. Não esperamos que a companhia retorne aos níveis pré-pandemia no curto prazo.
Com um cenário setorial ainda complexo e um acirramento da concorrência, mantemos uma postura conservadora em relação a Guararapes. Reiteramos nossa recomendação de MANTER, com preço-alvo 12m em R$ 7,60.
Prévia 4T23: Crescimento deve desacelerar sequencialmente
Na vertical de varejo, esperamos uma desaceleração sequencial do ritmo de crescimento do topline. Entendemos que o 3T23 foi marcado por maiores remarcações, impulsionando as vendas no período. Frente a uma atividade promocional mais normalizada, acreditamos que no 4T23 a companhia deve entregar um nível de crescimento mais modesto do que o observado no último trimestre.
Estimamos um faturamento líquido de Mercadorias de R$ 2,1b, um crescimento de +6,7% a/a (vs. +11,4% a/a no 3T23), com um Same Store Sales (SSS) de 6,0% a/a.
Em relação às bandeiras, acreditamos que a dinâmica acima impacte principalmente a Riachuelo, maior marca do grupo (~95% do faturamento da vertical). Estimamos um crescimento de +6,2% a/a do faturamento líquido da Riachuelo. Acreditamos que a Carter’s deve seguir como destaque de crescimento, impulsionado pela expansão realizada nos últimos 12M (+14 lojas). Estimamos uma aceleração de +32,2% a/a do faturamento. Para Riachuelo Home, projetamos um crescimento de +4,1% a/a.
Em relação à vertical de serviços financeiros (Midway), projetamos um aumento sequencial da carteira de crédito, levando em consideração a sazonalidade positiva de vendas do 4º trimestre. No entanto, entendemos que a empresa ainda mantém uma abordagem mais cautelosa na concessão de crédito.
Acreditamos que essa postura limitará ganhos substanciais em termos de receita, apesar de levar a melhores sinais nos indicadores de inadimplência – o que, por outro lado, tende a beneficiar as margens dessa vertical. Nossa estimativa aponta para uma retração na receita de -3,1% em termos anuais.
Consolidando a dinâmica de Mercadorias e da Midway, projetamos um faturamento líquido consolidado de R$ 2,7b – uma aceleração de +4,5% a/a.
Esperamos margens estáveis a/a
Acreditamos que o 3º trimestre de 2023 tenha sido o ponto de inflexão para a rentabilidade da Guararapes. Ao longo do ano, a companhia viu sua margem bruta pressionada por efeitos de remarcação e ajustes de estoque, gerando um carrego negativo para a rentabilidade operacional. No entanto, não esperamos observar essa mesma tendência para este trimestre.
Com a normalização das atividades promocionais, esperamos que a companhia retorne a uma tendência de margem mais alinhada na comparação anual. Projetamos uma margem bruta de mercadorias estável em 49,8% (+10bps a/a).
Dado o trabalho de controle de gastos realizado a partir do 2S22, entendemos que os grandes cortes já foram explorados – esperamos um nível de despesas mais em linha com o patamar visto no ano passado.
Desse modo, acreditamos que a dinâmica da margem bruta deve se traduzir também em uma estabilidade da margem operacional neste trimestre. Estimamos um EBITDA consolidado de R$ 424m (+5,2% a/a), implicando em uma margem de 15,7% (+10bps a/a).
Lucro deve crescer +22% a/a
Com a expectativa de (I) uma performance de vendas mais positiva em comparação anual, (II) um cenário de equilíbrio de margens e (III) despesas financeiras estáveis a/a, nossas projeções apontam para uma aceleração de +22% a/a do lucro neste trimestre. Esperamos um lucro líquido de R$ 125m (+22,2% a/a).
Tabela 1: Estimativa Genial para Guararapes (GUAR3) no 4T23 (IFRS 16; R$ milhões).
Visão 2024
Mapeamos os principais pontos que vão nortear o ano de 2024 da Guararapes, sendo eles:
(I) Cenário competitivo. A concorrência com plataformas cross-borders continuará sendo um ponto de atenção ao longo do ano, porém, com um tom diferente. Dados do governo têm demonstrado que a taxação de 17% (ICMS) e o aumento da fiscalização de remessas importadas (imposto de 60% para compras > US$50) tem impactado os volumes de importação, além do ticket e a recorrência de compra em players cross-border.
Desse modo, acreditamos que a concorrência com essas plataformas será menos agressiva neste ano. Em nossa visão, com um menor incentivo de preço, os consumidores devem passar a tratar players como a Shein como um destino de compra complementar, assim como outras varejistas de vestuário nacionais.
Vale ressaltar que, ainda assim, as plataformas cross-borders possuem vantagens em termos de variedade e velocidade de produção – de modo que acreditamos que essa concorrência ainda será um ponto de atenção.
(II) Foco em ganho de produtividade. Acreditamos que o ano de 2024 não será marcado por uma expansão física relevante, de modo que estimamos apenas 15 aberturas de Carter’s para o ano. Em nossa visão, a companhia deve focar em aumentar a produtividade da metragem existente, ao invés de expandir área de vendas. Dado isso, acreditamos em um nível reduzido de Capex a/a (~R$440m Est. Genial, cerca de 4,8% da Receita líquida do ano) – direcionado mais a reformas e tecnologia.
(III) Rentabilidade. Acreditamos que, com uma dinâmica mais normalizada de estoques e do nível de remarcações, a companhia deve focar em aumentar a eficiência na cadeia de produção, explorando a integração do varejo com a indústria. Em nossa visão, esse cenário pode beneficiar a margem bruta da companhia – esperamos ganhos na ordem de +90bps a/a.
Dado o trabalho de controle de despesas realizado em 2022, acreditamos que os ganhos de rentabilidade operacional ao longo do ano venham de um carrego positivo da dinâmica da margem bruta. Projetamos ganhos de margem EBITDA na ordem de +140bps a/a.
(IV) Continuidade da desalavancagem. A medida em que a companhia deve direcionar seu foco a ganhos de eficiência na cadeia como um todo, acreditamos que em 2024 a companhia deve seguir em um ciclo de desalavancagem financeira.
Em nossa visão, os pontos que devem auxiliar esse processo são: (a) liberação de caixa via gestão do capital de giro – a medida em que a companhia deve direcionar seu foco a ganhos de eficiência na cadeia como um todo, esperamos ganhos de eficiência de estoques e fornecedores; (b) redução de Capex em relação aos outros anos (giravam na faixa entre R$ 500m ~ R$ 600m) e; (c) amortização das dívidas a vencer ao longo de 2024.
(V) Fim da subvenção para investimentos. Entendemos que a mudança regulatória relacionada ao reconhecimento de benefícios fiscais deve gerar algum impacto negativo no lucro da companhia. A partir de 2024 devemos observar o fim do benefício de subvenções para investimento na linha de IR/CSLL passando a afetar o resultado das empresas.
Ainda assim, acreditamos que o impacto não seja relevante para Guararapes no curto prazo. A companhia tem os incentivos relacionados ao Sudene, de modo que, com a mudança da regulação, a empresa ainda deve conseguir reduzir sua alíquota substancialmente. No longo prazo o impacto pode ser mais relevante, porém a companhia ainda está desenvolvendo um planejamento para o futuro.
Tabela 2: Estimativas Genial para Guararapes em 2024 (IFRS 16; R$ milhões).