O lucro recorrente de Hapvida de R$ 347m veio acima das nossas expectativas de mercado, impulsionado pelo imposto. O imposto foi de R$ 66,5m (vs. -R$ 49 no 4T20). O EBITDA veio 21% abaixo das nossas expectativas e 10,8% abaixo da expectativa de mercado. O desempenho mais fraco do que o esperado do EBITDA se deve a continuidade da elevada sinistralidade, que mesmo arrefecendo t/t segue pressionada com o grande volume de eletivas e procedimentos relacionados a COVID.
Esse é o último tri em que Hapvida e GNDI reportam separados após a mega fusão concluída em fevereiro. Com abrangência nacional de mais de 13,5m de beneficiários e 84 hospitais, a nova Hapvida tenderá a focar em colher sinergias da fusão no curto prazo, dada elevação do custo de capital e maior alavancagem. Mas acreditamos que ainda há espaço para consolidação, principalmente em novas praças, como na região Sul e Centro-oeste, com o a vantagem de poder usar ações como moeda de troca contra players privados sem acesso ao mercado de capitais.
Acreditamos que o confronto no mid-ticket vai se acirrar com a nova Hapvida naturalmente fazendo o upselling de seus planos para tickets maiores. Por isso, achamos que a experiência da Intermédica com uma arquitetura mais aberta (menos verticalizada) se torna fundamental nessa jornada, principalmente nos estados com uma classe média e planos corporativos maiores.
Entenda porque a fusão entre Rede D’or e Sulamérica vai acirrar a consolidação: Dança das Cadeiras
Com a aquisição da Sulamérica pela Rede D’or, acirrasse a competição e consolidação do setor de saúde e a Rede D’or consegue dar mais um passo na construção de seu ecossistema completo de saúde com a maior rede de hospitais do país, Sulámerica (#2 em seguro saúde), Qualicorp (#1 corretora de saúde), diagnósticos (#3), clínicas oncológicas (#1), pesquisa médica, entre outros. Obviamente, com apenas 20% da receita da Rede D’or vinda da Sulamérica, ambas as companhias falam em independência de suas operações, mas acreditamos que uma verticalizacao branda seja interessante no médio-longo prazo. De início, vemos sinergias como aumento da taxa de ocupação em hospitais da rede, melhora da oferta em planos de saúde de mid-ticket (Sulamérica Direto) para barrar avanços da Hapvida/Intermédica, velocidade de convênio em hospitais novos com planos da Sulamérica, entre outros.
Ademais, os ecossistemas de saúde estão cada vez mais abrangentes como o da Fleury, por exemplo, comprando diversos tipos de clínicas e desenvolvendo assistência médica digital em seu ecossistema totalmente fora do quadrado original de diagnósticos, pressionam a consolidação da cadeia.
Outra peça importante nesse xadrez é a Amil, terceira maior operadora de saúde em termos de receita e segunda maior operadora dental do país. A Amil tem 31 hospitais e aparentemente sua controladora americana (United Health) quer vender a empresa depois de vários anos frustrados de prejuízo. Mas quem fica realmente isolado e pressionado nessa corrida é a Bradesco Saúde, que tinha uma parceria com a Rede D’or e vinha montando seu grupo de saúde com participações na Fleury e Odontoprev. Para apimentar a disputa pela Amil, correndo por fora, vem a Dasa (da família dos antigos controladores de Amil) que além de líderes no segmento de diagnósticos tem 3,6 mil leitos hospitalares, se posicionando como a segunda maior rede hospitalar privada do Brasil.
Na guerra entre os modelos de saúde verticalizados e de arquitetura aberta, a verticalização tem ganho espaço, principalmente por controlar melhor seus custos frente a uma inflação médica bem acima do IPCA, fraudes em toda cadeia médica-hospitalar e aumento frequência médica.
Receita
A receita líquida de Hapvida cresceu 14,3% a/a e 1,6% t/t. O crescimento a/a está atribuido ao principalmente ao crescimento orgânico de beneficiário e consolidação do resultado de adquiridas. O número de beneficiários de saúde cresceu 14,3% a/a e 0,3% t/t. No ano foram adicionadas organicamente 87k vidas em saúde e 186k em odonto. As adquiridas adicionaram 479k beneficiários ao portfólio da Hapvida.
Dentre as adquiridas em 2021 estão a Samedh, Plamheg, Pomed, Premium, São Francisco, São José e Medical. Em 2022 devemos ter a conclusão das operações de HBS e Smile, que devem adicionar mais 209k vidas ao portfólio da Hapvida.
O ticket médio de saúde prejudicou o crescimento das receitas, tendo caído 1,2% a/a em função do reajuste negativos de 8,19% dos planos de saúde individuais. Neste ano o reajuste deverá ser compensado com um aumento expressivo, ampliando o ticket principalmente no 2o semestre.
Sinistralidade
O índice de sinistralidade foi de 64,9% no 4T21, uma queda de 3 pp t/t e aumento de 5,4 pp a/a. O crescimento da sinistralidade a/a foi impactado pelo aumento dos atendimentos de Covid e influenza, maior sinistralidade de adquiridas e aumento dos procedimentos eletivos.
O impacto da influenza e ômicron deverá ser mais forte no 1T22, quando observamos picos de atendimentos. Apesar do aumento do número de casos de ômicron e influenza no 1T, a taxa de internação da nova variante do coronavírus foi menor e nova onda de contágio durou menos. Com menos internações esperamos um impacto menor da ômicron na sinistralidade se comparada com demais ondas da pandemia.
Com a pandemia os procedimentos eletivos foram paralisados. O represamento dos exames e procedimentos tem gerado um incremento de volume, que esperamos que normalize gradativamente em 2022.
Despesas administrativas
As despesas administrativas cresceram 17,3% a/a e 3,2% t/t. O resultado pressionado é fruto do dissídio coletivo, contratação de mais colaboradores, indenizações trabalhistas, retorno de viagens corporativas de rotina, provisões cíveis e do aumento dos gastos com novas unidades assistenciais. Tendo aberto ou adquirido novas unidades, a Hapvida precisou reforçar as contratações e compra de insumos.
Ajustes no lucro líquido
O lucro contábil de Hapvida foi de R$ 200m. Já o ajustado foi de R$ 347m. Os ajustes considerados para calcular o lucro líquido ajustado foram: (i) a amortização do valor justo da combinação de negócios líquida do imposto, totalizando R$ 106m; (ii) incentivo de longo prazo líquido de imposto no valor de R$ 3,7m; (iii) dedutibilidade do imposto da amortização do ágil da combinação de negócios, que foi de R$ 37,2. Os ajustes somam R$ 147m.