O resultado de Hapvida foi uma melhora em relação ao passado. A receita líquida veio dentro de nossas expectativas, e das expectativas do mercado, mas a sinistralidade recua mais que nossas projeções, para 72,3%. No 1T22, uma de nossas grandes críticas do primeiro resultado da companhia combinada foi a consolidação de apenas dois meses dos resultados de GNDI. Para a divulgação do 1T23, a Hapvida nos trouxe a consolidação completa dos valores, possibilitando a comparação anual fidedigna. Enxergamos, o que pode ser, uma lanterna no fim do túnel para Hapvida, com a receita acelerando mesmo com adições líquidas negativas no trimestre, e sinistralidade com sinais positivos de desaceleração. Apesar de mais otimistas, ainda vemos um caminho a ser percorrido para a operadora, assim, reiteramos nossa recomendação de MANTER com preço-alvo de R$ 5,00
Receita: ticket é o ponto positivo
A receita líquida de Hapv alcança R$ 6,72b (+12,8% a/a e +3,4% t/t). Nossa perspectiva negativa para o crescimento do mercado de beneficiários de planos privados de saúde em 2023 é confirmada pelo resultado de adições líquidas negativas de -7k vidas no trimestre. A companhia deixa claro que uma parte de suas perdas é decorrente do cenário macroeconômico e do efeito do mercado de trabalho desaquecendo. Mesmo assim, vemos o ticket médio em planos de saúde acelerando mais que a inflação para R$ 236,1 (+8,3% a/a e 1,9% t/t). Há forte impacto positivo de reajustes nos tickets da companhia, com a mudança de mix ainda machucando o preço. Esperamos que a tendência de reajustes mais fortes continue, com a Hapvida já tendo anunciado um maior foco em reprecificação que crescimento do volume.
Custos e Despesas: mais otimistas
A sinistralidade caixa no trimestre foi de 72,3% (-2,6pp a/a -0,6pp t/t). Mesmo com uma aceleração nominal dos custos assistenciais, o índice de sinistro cai na comparação trimestral e anual, demonstrando sinais positivos. Vale ressaltar os esforços de verticalização da companhia, ponto importante para a tese, e a continuação do repasse dos ajustes de preço, e outros como pontos positivos. Nos mantemos cautelosos com a sinistralidade, ainda acreditando que o processo de redução do indicador será difícil e vagaroso, com as perspectivas de adições líquidas negativas prejudicando a expansão da receita líquida em 2023. Dito isso, esses sinais positivos iniciais são um colírio para nossos olhos cansados.
No passado, colocamos pontos de atenção diversas vezes no índice de despesas administrativas de Hapvida. Nesse trimestre, o indicador alcança 9,4% (+0,6pp a/a e -0,2pp t/t). Tirando efeitos de contingências e tributos, foram apresentadas diluição ou estabilidade em termos percentuais da receita líquida da companhia em todas as linhas de despesas administrativas. Gostaríamos de destacar, principalmente, os custos de pessoal que pode começar a apresentar redução daqui, fruto de rescisões decorrentes da integração entre Hapvida e NotreDame, algo que tínhamos como ponto de atenção pelo nível elevado do indicador em relação à receita líquida.
Ebitda, endividamento e fluxo de caixa: forte captação de recursos
O crescimento da receita líquida e diminuição da sinistralidade culminam em um Ebitda ajustado de R$634,5m (+63,4% a/a e +24,0% t/t ex-ajuste Premium). Olhando para a relação de endividamento, precisamos comentar sobre os recursos captados pela companhia no trimestre. A Hapvida captou R$ 1,05b por meio de uma operação de follow-on, além de R$ 1,25b por meio de uma operação de sales e lease back. Ambas serão extremamente importantes na gestão do resultado financeiro, que tem prejudicado a companhia, e auxiliam no nível de endividamento. Com ajuda da geração de caixa livre positiva, a dívida líquida alcança R$ 7,48b, o que representa um índice Dívida Líquida/Ebitda de 2,32x (-0,48x a/a e -0,13x t/t).
Lucro líquido ajustado: forte amortização justificada
Apesar do lucro líquido contábil negativo de R$ -341,6m, a Hapvida tem lucro líquido ajustado no 1T23 de R$ 33,1m (-6,3% t/t). Isso é efeito positivo de R$ 336,4m da amortização do intangível de aquisições, e do impacto positivo de R$ 38,2m de incentivos de longo prazo à executivos, que quando retirados do ajuste, significariam um lucro líquido negativo de R$ -5,1m. Começamos a observar o que pode ser uma lanterna no fim do túnel para Hapvida. Enquanto ainda vemos muito caminho para ser trilhado, estamos mais otimistas com o curto prazo da companhia, e reiteramos nossa recomendação de MANTER com preço-alvo de R$ 5,00.