Apesar do crescimento na base de beneficiários de assistência médica no trimestre e uma melhora no ticket-médio consolidado da companhia, ainda não vemos uma luz no fim do túnel para Hapvida. O índice de sinistralidade piorou no trimestre, e as despesas administrativas foram diluídas por um efeito não recorrente. O lucro líquido ajustado de R$ 678,8m é fruto dos ajustes de R$ 643,7m de amortização e de despesas administrativas. Continuamos com nossa recomendação de MANTER com preço-alvo (PA) de R$ 8,50.
Receitas: preço e volume bons
No consolidado de planos de assistência médica a companhia alcança mais de 9m (+1,4% t/t) de vidas, um crescimento de 122k vidas organicamente vs. o 2T22. Esperamos que a Hapvida, continuando a colher sinergias com GNDI, poderá crescer 1% sua base de beneficiários por trimestre em saúde, e é isso que temos observado.
A retomada da capacidade de crescimento orgânico é um ponto importante para a companhia, que continua aplicando o cross-sell de seus produtos para crescer também em odontologia. Os beneficiários de planos odontológicos crescem organicamente 263k vidas no trimestre (+2% t/t), como esperado acelerando em relação aos planos de saúde.
Vemos nesse trimestre uma dinâmica importante no ticket-médio. A companhia consolidada aumenta o preço médio tanto em saúde, quanto em odontologia. Os reajustes no planos individuais continuam fazendo efeito, fortalecidos pelos reajustes aos planos corporativos, levam o ticket-médio de saúde para R$ 225,11 (+3,6% t/t) e de odonto para R$ 9,83 (+0,2% t/t). A capacidade de crescimento orgânico e o aumento no ticket-médio levam a receita líquida do 3T22 para R$ 6,3b (+3,9% t/t), em linha com nossas expectativas.
Custos: sinistralidade batendo na porta (de novo)
Dado o nível de crescimento da receita, esperávamos certa estabilidade para o nível de sinistralidade da companhia, o que não aconteceu. Isso nos preocupa quando levamos em consideração a possibilidade de uma mudança nos hábitos dos beneficiários de planos privados. Houve aumento nos volumes de exames e consultas de emergência e eletivas em relação ao 3T21 e ao 2T22.
Mesmo assim, não podemos esquecer o fato de que houve dissídio coletivo e retroativo que reajustou a folha médica de Hapvida, que tem efeito pontual no trimestre, e o impacto da inflação médica nas operações recorrentes. Continuaremos monitorando a relação de sinistralidade nos próximos trimestre, buscando a retomada da trajetória de controle de custos de sinistro que estava sendo observada.
Despesas: sem Promed, aumento preocupa
Independente do crescimento da receita, o índice de despesas com vendas (proporção da receita líquida) aumenta para 7,7% no 3T22 (vs. 7,5% no trimestre). Esse aumento é, em parte, em função da intensificação do esforço de vendas da companhia, que é necessário para o crescimento orgânico da base de vidas. Como a Hapvida tem a intenção de continuar crescendo em vendas, a dinâmica dessa linha do resultado demanda atenção.
Já para as despesas administrativas, é preciso uma investigação um pouco mais detalhada. O índice de despesas administrativas chega a 3,9% (vs. 9,6% no 2T22). Essa diluição se dá pelo efeito positivo de R$ 417,4m de ajustes relacionados à aquisição da Promed, incluído em outras receitas (despesas) operacionais. Houve a baixa nos passivos ainda devidos de R$ 297,4m e reembolso de R$ 120m por ajustes de preços.
Sem esse empurrão de outras receitas operacionais, o lucro operacional (lucro bruto descontado das despesas totais) seria R$ -319m (vs. reportado de R$ 109,2m). Excluindo o efeito positivo sobre as despesas totais da companhia (despesas administrativas + despesas de vendas subtraindo o efeito não-recorrente), teríamos uma aceleração de ~12,1% no trimestre. Tal aceleração tão significativa deve ser o principal ponto de debate neste trimestre e, provavelmente, um motivo para fuga de alguns investidores do papel no curtíssimo prazo.
Resultado financeiro: os juros doem
O resultado financeiro de R$ -343,4m (+32,4% t/t) reflete o aumento da Selic no trimestre, mas ainda bem acima do que esperávamos. Ainda houve aceleração das receitas financeiras no trimestre, mas não foram suficientes para suavizar o incremento das despesas financeiras. A dívida líquida no trimestre apresentou aumento de R$ 278m; por outro lado, quando ajustada pelas obrigações com aquisições, houve uma queda de R$ 233m graças ao efeito da Promed previamente citado.