Análise de mercado: o que aconteceu em 2022
Em Dez/22 foram adicionados 240k novos beneficiários de assistência médica e 153k novos beneficiários de assistência odontológica, aumentando 0,48% e 0,50%, respectivamente. Agora com os dados do mês de dezembro de 2022 podemos conduzir uma análise mais aprofundada tanto de como foi o último trimestre do ano, quanto do desempenho das operadoras ao longo de 2022.
Primeiramente, vale destacar que os planos de assistência médica tiveram adições líquidas de 1,59m de beneficiários em 2022, uma expansão de 3,25% em relação a Dez/21. Já os planos odontológicos apresentaram adições líquidas de 2,06m de beneficiários nesse período, crescimento de 7,13% em relação ao último mês de 2021. Esses números fortalecem nossa tese de que os planos odontológicos devem continuar a crescer em ritmos mais acelerados que os planos de assistência médica, pela sua menor penetração na população geral e possibilidade de cross-sell com planos médicos.
Observando a distribuição dos tipos de planos contratados, fica claro a influência do mercado de trabalho na quantidade de beneficiários. Os planos corporativos médicos e odontológicos lideraram as adições líquidas, com crescimento de 1,53m e 1,52m de vidas, respectivamente. É preciso estar atento a essa dinâmica, uma vez que a taxa de desemprego está atingindo patamares baixos para o mercado de trabalho brasileiro, e uma reversão nesse parâmetro pode significar perda de um driver importante para o crescimento do mercado de planos privados de saúde.
Outro destaque importante no ano são os planos de assistência médica por adesão, que foram o único tipo de plano que contraiu de tamanho em 2022, perdendo 30k vidas, ou -0,49% de sua base. Do lado dos planos individuais houve crescimento tímido em assistência médica, cerca de 88k novas vidas, enquanto para odontologia a expansão desse tipo de contratação foi mais robusta, adicionando 354k beneficiários em 2022. Isso vai em linha com os produtos observados no mercado, menor oferta de planos de assistência médica individuais, mas com um cross-sell mais forte em planos individuais de assistência odontológica.
O que esperamos para 2023
No geral não podemos descartar que o ano de 2022 foi bom em termos de expansão do mercado de planos privados de saúde, impulsionadas pelo mercado de trabalho aquecido, as operadoras apresentaram bom crescimento de suas bases. Mesmo assim continuamos a ver os resultados das companhias sendo pressionados pela taxa básica de juros e sinistralidade relativamente alta. Assim sendo, continuamos cautelosos para o ano de 2023 com as operadoras de saúde sob nossa cobertura (HAPV, ODPV, SULA e QUAL), devido à expectativa de que um cenário macroeconômico mais deteriorado prejudique também o mercado de trabalho e acabe com esse driver de crescimento.
Ainda mais, com um cenário de inflação se mantendo em patamares relativamente elevados, e por consequência a Selic também, acreditamos que ainda haverá pressão de custos sobre a sinistralidade e as despesas financeiras, continuando a prejudicar os resultados das empresas do setor.
Abaixo trazemos avaliações individuais das principais operadoras no ano de 2022.
Efeito mercado de trabalho aquecido
Nos últimos 12 meses houve melhora significativa no mercado de trabalho brasileiro, a taxa de desemprego caiu de 13,7% em jun/21 para 8,06% em nov/22. Os efeitos de um mercado de trabalho mais forte podem ser observados em assistência médica e odontológica, nos quais os planos corporativos cresceram 4,55% e 7,24%, respectivamente, nos últimos doze meses (UDM). Os planos de assitência médica por adesão e individual apresentaram os menores crescimentos UDM (-0,49% e 0,98%). No total, os planos de assistência médica e odontológica cresceram 3,25% e 7,13% UDM, mas o risco de uma recessão global e a incerteza da política fiscal para 2023 devem ser levados em consideração no curto prazo dada a forte correlação do mercado de trabalho com adições de novos beneficiários. Nossas expectativas para a taxa de desemprego para 2022 são de 7,8%, mas projetamos um aumento em 2023 para 8,8%. No entanto, os níveis de desemprego esperados para 2022 e 2023 seriam o menor nível para o Brasil desde 2015, e destacamos que em 2014 quando a taxa de desemprego atingiu 6,9%, seu menor nível desde 2012, o número de beneficiários atingiu seu pico (+50m beneficiários de saúde).
Análise por operadora
Iniciamos a análise individual das operadoras por companhias que não foram muito citadas em prontuários passados, mas merecem um destaque. Avaliamos primeiramente o desempenho da Porto Seguro, que tem expandido seus produtos de saúde, mas ainda tem uma carteira pequena em relação aos grandes player do setor. A companhia começou 2022 com 345k beneficiários de assistência médica e adicionou 45k vidas ao longo do ano, crescendo sua base 13,0% no período, o maior ganho percentual para assistência médica em nossa amostra. Esse crescimento foi impulsionado também pelos planos odontológicos da Porto, que adicionaram mais 40k vidas à sua base de beneficiários. Do lado negativo destacamos a performance de Prevent Senior no ano de 2022. A companhia focada em planos de assistência médica individual para beneficiários de idades mais elevadas iniciou o ano com 548k vidas em sua base de assistência médica, mas perdeu 8,2k beneficiários ao longo do ano, o que representa uma contração de -1,49% da carteira total.
Precisamos olhar também para as “Big Four” de saúde médica, Hapvida (e GNDI), Bradesco Saúde, Sul América e Amil, com menção honrosa para Odontoprev que só opera no mercado odontológico.
O ano de Hapvida e GNDI começou um tanto quanto tumultuoso, após o closing da fusão no início de 2022. O crescimento orgânico da companhia demorou para começar, as adições líquidas positivas no acumulado do ano só vieram após maio, mas aceleraram ao longo do ano. Os primeiros meses do último trimestre do ano somaram adições líquidas negativas para Hapvida, mas a companhia conseguiu retomar o crescimento orgânico em dezembro, adicionando 102k vidas em assistência médica (Hapvida + GNDI), o que coloca as adições líquidas do trimestre em 84k nessa modalidade. Olhando para o desempenho do ano da companhia, temos adições líquidas de 391k beneficiários em assistência médica e 472k em odontologia. Isso significa crescimento de 4,43% da base de beneficiários de assistência médica e 7,64% da base de beneficiários de odontologia, essa expansão se deu em cima de uma base de quase mais de 8,8m de vidas em assistência médica e mais de 6m de vidas em odontologia, demonstrando a força que a companhia combinada tem no mercado de planos privados de saúde.
Das grandes operadoras a Amil é a que tem a dinâmica mais peculiar em termos de crescimento de beneficiários. A Em 2012 a Amil foi comprada pelo United Health Group, o maior grupo de saúde do planeta, mas nos últimos anos a companhia tem tido dificuldades de rentabilizar suas operações, com problemas relacionados à sua carteira de planos individuais de assistência médica e odontológica. A Amil não tem capital aberto em bolsa, então não temos informações extensivas sobre a situação financeira dela, mas dados da ANS apontam para sinistralidade de mais de 100% nos 9M22. Do “Big Four” de saúde médica, a Amil é a única com adições líquidas negativas em assistência médica em 2022. Perdendo vidas não somente em planos individuais, mas também em planos corporativos e por adesão. Mesmo assim, ainda vemos adições líquidas positivas em planos odontológicos, com a companhia adicionando 38k vidas nessa modalidade no último ano.
Operacionalmente, a Sul América teve um dos melhores anos das grandes operadoras, adicionando 195k vidas em assistência médica e 126k vidas em assistência odontológica. O foco em expansão para outros pontos da pirâmide, com produtos mais baratos e acessíveis, a SULA continua demonstrando a força de sua marca no mercado de planos privados de saúde. Sem considerar a companhia combinada de Hapvida + GNDI, a Sul América teve o melhor desempenho operacional no 4T22 das “Big Four” de assistência médica. Foram adicionados 72k vidas em assistência médica no trimestre e 15k vidas em assistência odontológica, demonstrando também o poder de cross-sell que a companhia possui. Agora com a conclusão da fusão entre SULA e Rede D’Or, esperamos que a companhia continue agressiva em sua estratégia de crescimento de sua base de beneficiários, e com isso temos expectativas positivas para a tese da nova companhia combinada.
Por fim, destacamos a performance de Bradesco Saúde, que teve o melhor operacional de 2022 das “Big Four” de assistência médica. A companhia teve adições líquidas de 304k no ano, o que representa um crescimento de 8,25% sobre sua base de 3,7m de beneficiários nessa modalidade. Ainda mais, a Bradesco Saúde teve desempenho forte no 4T22, alcançando 72k novos beneficiários.
Qual o papel da Unimed?
É possível observar que a dominância da Unimed é clara, com o maior número de beneficiários e maior participação de mercado em todos os tipos de planos médicos. Hapv e GNDI estão consolidadas em segundo em número de beneficiários, dado que a estratégia de M&A dos últimos anos resultou em crescimento de beneficiários. Destacamos também o tamanho de Odontoprev no segmento odontológico sendo dominante nos últimos 8 anos, mas perdendo market share, uma vez que operadoras como Hapvida, GNDI e SULA estão expandindo seus negócios em assistência odontológica.
Acreditamos que a Unimed continuará a perder market share para operadoras verticalizadas, principalmente em Estados onde a penetração de planos de assistência médica e odontológica é maior e, assim, apresentam um mercado mais competitivo que favorece operadoras premium (SULA, Bradesco) e verticalizadas (Hapvida, GNDI). Embora o crescimento de beneficiários de planos privados tenha sido lento nos últimos 8 anos – principalmente devido a uma profunda recessão em 2015/2016 – esperamos que o desemprego atinja 9% no longo prazo, possibilitando expansão da base de beneficiários e maior penetração de planos privados na população.
Análise de Market Share
Abaixo apresentamos a variação de market share de 14 empresas que representam cerca de 80% do total do mercado (incluindo todas as Unimeds e Uniodontos) na maioria dos segmentos. Vale ressaltar que a análise não captura efeitos de fusões e aquisições pois não consideramos as datas de fechamento dessas operações.
Nos últimos 8 anos, Unimed, Bradesco, Amil e Odontoprev perderam mercado para empresas verticalizadas como GNDI, Hapvida e Prevent Senior. De modo geral, o mercado de saúde se tornou muito mais consolidado nos últimos anos com maior disponibilidade de capital para empresas listadas. Acreditamos que M&As no setor desacelerarão após a fusão Hapvida + GNDI, com efeitos do aumento do custo de capital e do endividamento das empresas.