O IRB divulgou seus resultados do 4T23 nesta quinta-feira à noite, antes do feriado da Páscoa. Os números reportados não diferem significativamente dos divulgados em 28 de fevereiro, quando a SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) publicou os resultados da empresa.
O lucro líquido recorrente atingiu R$ 38m no 4T23, registrando uma redução de -20,5% t/t, principalmente devido ao resultado financeiro mais fraco, aumento do índice de comissionamento para 35% (+17,5% a/a e +10,8pp t/t) e aumento das despesas administrativas (+12% a/a e +36% t/t). Ainda assim, o IRB reverteu o prejuízo de -R$ 70,4m no mesmo período de 2022, devido principalmente a uma melhora relevante de 39pp no índice de sinistralidade.
O lucro do 4T23 ficou 23,8% abaixo das nossas expectativas e 36% abaixo das estimativas do consenso de mercado, porém esse resultado não deveria ser surpresa, uma vez que esses números foram reportados aproximadamente um mês atrás. A empresa demorou a divulgar os números do 4T23 devido às novas regras contábeis do IFRS-17, que demandaram mais tempo para implementação nessa divulgação. No entanto, as informações gerenciais ainda seguem o IFRS-4, não havendo impacto em nossa análise, pelo menos até o momento.
Apesar de o lucro ter ficado aquém das projeções, a empresa demonstra uma trajetória de melhoria da rentabilidade, sugerindo que o processo de reestruturação pode estar surtindo efeito e que possamos vislumbrar resultados mais positivos nos próximos trimestres.
No resultado do 4T23, a companhia manteve suas estimativas de uso dos créditos tributários para os próximos anos divulgadas recentemente junto aos dados da SUSEP no dia 28/02, quando diminuiu substancialmente suas expectativas de lucro implícito. Em nossa análise, a empresa estima um lucro de R$ 377m para 2024, R$ 517m para 2025 e chegando a R$ 962m em 2028. Anteriormente, o lucro implícito derivado do uso de créditos fiscais estava em um patamar mais elevado de R$ 447m para 2024, R$ 719m para 2025 e R$ 1,11b para 2028.
Estimamos um lucro de R$ 323m para 2024, um pouco mais fraco que o lucro implícito projetado pelos créditos fiscais, mas esperamos que os anos seguintes fiquem um pouco acima dos valores implícitos usando a base de crédito tributário. Assim, vemos que a empresa deve começar a melhorar gradualmente seus resultados e voltar a entregar uma rentabilidade em patamares mais atrativos no longo prazo.
Uso do Crédito Tributário (estimado pelo IRB) e Lucro Implícito (R$k)
Para o ano de 2024, esperamos uma leve retomada dos prêmios emitidos, refletindo a gradual recuperação do crescimento da empresa. Além disso, acreditamos que a manutenção da qualidade da carteira e critérios mais rigorosos na emissão de novos prêmios continuarão a contribuir para a redução do índice de sinistralidade, atingindo 70% a/a. Antecipamos também uma possível redução da volatilidade no resultado financeiro, à medida que as posições cambiais migrem para CDI, diminuindo a exposição aos riscos no exterior. Nossa projeção para o lucro recorrente de 2024 é de R$ 323 milhões, representando um aumento de 112,9% a/a, com um ROE de 7,4% (acréscimo de 3,1pp a/a), impulsionado pela melhoria do resultado financeiro, no índice de comissionamento (-5pp a/a 24e/23) e no índice de despesas administrativas (-1,7pp a/a 24e/23).
No momento, acreditamos que a empresa negocia a múltiplos em níveis justos, com um P/VP de 0,73x para 2023 e um P/L de 9,5x para 2024 – múltiplos adequados para uma empresa cuja rentabilidade (ROE de 7-8%) está consideravelmente abaixo de seu custo de capital de 16.25%. Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de MANTER com preço-alvo para o final de 2024 em R$ 43, upside de 15%.
IRB 4T23: Lucro no trimestre apesar de vir abaixo das expectativas
IRB Re (IRBR3): Esperamos uma melhora de desempenho operacional em 2024
Prêmios: Mais fraco e menor exposição internacional
Os prêmios emitidos atingiram R$ 1,57b, queda considerável de -20% t/t e -12% a/a, continuando com a limpeza da carteira no ano de 2023.
O prêmio emitido no Brasil totalizou R$ 1,3b, apresentando um aumento de 4,9% a/a, o que reforça o plano da companhia de seguir com expansão no mercado local. O segmento de patrimonial e de vida foram os destaques, com crescimentos expressivos de +19% a/a e +221% a/a, respectivamente. Já o rural foi um detrator dos prêmios emitidos locais, com redução de -64,8% a/a, chegando a R$ 114m.
Já os prêmios emitidos no exterior totalizaram R$ 270m, queda substancial de -50,4% a/a, que puxaram o total de prêmios emitidos para baixo. Esta redução está em linha com a estratégia de otimização de portfólio que já foi comunicada pela empresa, visando a redução da exposição internacional.
Prêmio Breakdown: Diminuição da exposição internacional
Retrocessão. O montante total de retrocessão no trimestre permaneceu estável em termos nominais em relação ao 4T22, totalizando R$ 744m. No entanto, o índice de retrocessão aumentou 5,6pp a/a, de 41,6% no 4T22 para 47,2% no 4T23. No 4T23, a administração deu início ao processo de venda da filial de Londres. Como parte desse procedimento, em dez/23, foi formalizado um contrato de Transferência de Carteira de Sinistros (LPT) para agilizar a transição da carteira de resseguro até que todos os trâmites legais da operação estejam concluídos e aprovados pelas autoridades reguladoras do Reino Unido.
Desconsiderando o esse impacto do LPT, o custo de retrocessão ajustado seria de R$ 580m, e o índice de retrocessão 4T23 seria de 36,8%, -8,1pp a/a em comparação com 44,9% no 4T22 (sem considerar o LPT).
Índice Combinado: Ainda não está no breakeven operacional, mas tem sinais de melhora
O índice combinado fechou o trimestre em 103,9% no 4T23 (-7,5pp t/t e -14,4 a/a), o que guiou o indicador para 108,6% em 2023 (-28pp a/a). Ainda que a empresa não tenha alcançado o breakeven operacional no trimestre e no ano, tem caminhado na direção da melhoria da eficiência, o que consideramos como tendência para os próximos anos (101,5% 24E).
A linha que orientou a melhora do desempenho operacional no trimestre foi a sinistralidade (-18,8pp t/t). Entretanto, o índice de comissionamento serviu como detrator (+10,8pp t/t).
Sinistralidade: Medidas assertivas
O índice de sinistralidade reduziu consideravelmente, tanto na comparação anual quanto trimestral, chegando à casa dos 55,2% (-18,8pp t/t e -39,6pp a/a), em conjunto com a execução da limpeza da carteira de clientes. Entendemos que, ainda que esse movimento possa afetar negativamente o ritmo de crescimento dos prêmios ganhos para os próximos exercícios, faz-se necessário para a melhora do desempenho operacional.
No 4T23, duas operações que geraram efeito favorável na conta de sinistros: (i) LPT (loss portfolio transfer) na operação de Londres, que resultou em um impacto positivo de R$ 174m nos sinistros retidos e negativo em R$165m no prêmio ganho, e (ii) a reversão de IBNR (provisão de sinistros ocorridos e não avisados) de R$ 102m.
Sinistralidade Realizada vs. Normalizada (R$m): Excluindo o LPT e reversão de IBNR, a sinistralidade seria muito maior
Caso a companhia não tivesse realizado essas duas operações, o índice de sinistralidade no trimestre seria de 70,2% – ainda 3,8pp abaixo do realizado da sinistralidade 3T23 e 23,6pp abaixo do sinistralidade 4T22.
No Brasil, o índice de sinistralidade ficou em 37,6% no trimestre (-42,1pp a/a e -22,4pp t/t), com destaque para a melhora no segmento rural (-122pp a/a e -94pp t/t). Já no exterior, o índice foi de 125,6% (+11,7pp a/a e +33,6pp t/t).
Evolução da Sinistralidade: Melhora gradual
Comissionamento: Forte aumento a/a e t/t
O custo de aquisição apresentou forte alta relevante de +50% a/a e 80% t/t, devido a adiantamentos de comissão no segmento vida, o que levou o índice de comissionamento para 35%, alta de +17,5% a/a e +10,8pp t/t.
Custo de Aquisição (R$m): Piora no 4T23 com adiantamentos
Despesas: Consecutivo aumento do índice
As despesas administrativas somaram R$ 103,6m, registrando um aumento de +12% a/a e +36% t/t, especialmente devido ao aumento nas despesas com o Plano de Demissão Voluntária (PDV). O índice de despesas alcançou a casa dos 9,7% (+3,2pp a/a e +0,8pp t/t)
Despesas Administrativas (R$m): Piora no 4T23 devido ao PDV
Resultado de Underwriting: Reversão do resultado negativo do 4T22
A empresa registrou um resultado positivo de underwriting (resultado de subscrição) de R$ 105,1m, em contraste com um resultado negativo de R$ -153 milhões no 4T22, devido principalmente a uma melhora no controle de sinistralidade.
Compreendemos que, à medida que os ajustes no portfólio persistirem, podemos antecipar uma melhoria gradual no resultado de underwriting. Esta evolução ocorrerá à medida que os contratos mais recentes amadurecerem, resultando em expectativas de sinistralidade mais baixa. Ao mesmo tempo, os sinistros relacionados a contratos mais antigos diminuirão em relevância para o resultado geral da empresa ao longo do tempo.
Resultado de Subscrição (R$m): Melhora substancial no Rural
Resultado Financeiro Patrimonial: Menor, mas continuou sustentando o lucro
O resultado financeiro e patrimonial atingiu R$ 124,6m, registrando uma queda de -18,6% a/a e de -31,8% t/t. Na comparação anual, o declínio é explicado pela base comparativa mais forte gerada pela venda na participação no CasaShopping. No trimestre, o detrator foi o resultado financeiro que caiu -32% t/t.
Imposto: Alíquota efetiva ainda beneficiada
No trimestre, a empresa aproveitou benefícios fiscais decorrentes dos prejuízos acumulados, resultando em uma alíquota de imposto de 26,8%. Não há restrição temporal para a compensação de prejuízos fiscais, conforme estabelecido no regulamento do imposto de renda. Entretanto, existe um limite para essa compensação, o qual corresponde a 30% do lucro tributável do período.
Segue abaixo o cronograma com estimativas referentes à realização dos créditos tributários diferidos, embasado em estudo técnico e projeções realizadas pelo IRB.
Cronograma de Uso de Crédito Tributário (R$k)
Caixa: Primeira geração de caixa operacional no ano
No 4T23, o caixa gerado pelas operações foi de R$ 256m, um aumento de 16% a/a no 4T22. A geração de caixa neste trimestre ocorreu principalmente devido ao maior recebimento sazonal de prêmios.
O consumo de caixa acumulado nos últimos 12 meses totalizou -R$ 518m, encerrado em dezembro de 2023. Embora ainda negativo, demonstra uma tendência de menor queima de caixa em comparação ao ano passado.
Evolução da Geração de Caixa (R$m): Evolução gradual, mas ainda negativo em 2023
Suficiência do Patrimônio: Ainda bem acima do capital mínimo
A suficiência de patrimônio líquido ajustado atingiu 146% no trimestre, apresentando um aumento de 4pp t/t e 30pp a/a, superando o capital mínimo requerido de 100%. O índice de cobertura de provisões técnicas ficou em R$ 438m, em comparação com R$ 332m no 4T22, representando um crescimento de 31% a/a.
Evolução do Índice de Suficiência: Melhora substancial
Cobertura de Provisões Técnicas: Suficiente mesmo após amortização das debentures
No 4T23, o indicador de cobertura de provisões técnicas mostrou um saldo de suficiência de R$ 438m, comparado a R$ 332m no 4T22. Apesar da redução da margem após o pagamento das debêntures no dia 16/out/2023 no valor de R$ 487m, o indicador ainda apresentou suficiência.
Evolução da Cobertura de Provisões Técnicas (R$m): Saldo positivo mesmo após pagamento de debênture
Resultado Operacional de Jan/24: Forte melhora operacional e lucro do mês próximo ao do 4T23
Juntamente ao resultado do trimestre, o IRB divulgou o informe mensal de desempenho operacional de jan/24. Nele, foi evidenciado o crescimento de lucro de 3045 a/a, chegando a R$ 36,8m (R$ 1m a menos do que o lucro apresentado no 4T23).
As linhas que contribuíram positivamente com o resultado foram a sinistralidade, que apresentou uma queda de -41% a/a, e a melhora no resultado financeiro patrimonial, com um aumento de 49% em relação ao ano anterior.
Vale ressaltar que, embora o índice de comissionamento tenha aumentado 11,9 pontos percentuais em a/a, ele permaneceu 4,5 pontos percentuais abaixo dos 35% apresentados no 4T23, o que contribuiu para que a empresa alcançasse um lucro operacional, com um índice combinado de 97%.