Com o segundo trimestre consecutivo de lucro, o IRB aparenta estar finalmente saindo do longo período de prejuízos trimestrais frutos de uma gestão desleal em meio a uma pandemia. A resseguradora reportou um lucro de R$ 20m (ROE de 2,0%), um pouco abaixo das nossas estimativas de R$ 26m e metade dos R$ 40m das expectativas do consenso. Apesar do número mais baixo que o mercado esperava, a empresa vem mostrando evoluções positivas em diversas linhas operacionais.
O índice combinado de 108% (total de custo/receita) continuou acima do breakeven operacional de 100%, mas mostrou uma boa redução de -2,6pp t/t e -46pp a/a. A grande melhora veio do índice de sinistralidade (despesas de sinistros/receita) que despencou -3,7pp t/t e -50,6pp a/a para 73,6%. Do lado mais negativo do resultado, destacamos: (i) o índice de comissionamento cresceu +3,5pp t/t e +4pp a/a, batendo 22,8%; (ii) o índice de despesas administrativas também subiu +1,2pp t/t e +2,6pp a/a para 8,5%, mas incluiu R$ 7,9m de despesas relacionadas a demissão voluntaria.
Apesar da evolução construtiva nos resultados, ainda temos muitas dúvidas da trajetória e da rentabilidade normalizada da resseguradora que são insumos para nossa avaliação da resseguradora. De qualquer forma, estamos melhorando de maneira relevante o preço alvo do IRB, saindo de R$ 28,2 para R$ 35,0, reduzindo a taxa de desconto para fatorar uma entrega agora mais concreta da reestruturação da companhia e melhorando nossas estimativas de longo prazo. O nosso novo preço alvo de R$ 35,0 é baseado em um modelo de Gordon Growth, com premissas de um ROE de longo prazo de 13% (a empresa entregou um retorno de 2% no 2T23), uma taxa de desconto de 16,55% e um crescimento de longo prazo de 5,5%. Nossa modelagem resulta em um P/VP alvo de 0,68x. Dessa forma, apesar da melhora nas nossas premissas, continuamos com a recomendação de VENDER para o IRB. O papel negocia a 13,8x P/L23, 11,9x P/L24 e 0,8x P/VP23.
Caixa
O IRB continuou consumindo caixa, apresentando uma redução de R$ 171,6m no trimestre, mas uma melhora em relação ao consumo de R$ 475,6m no 2T22. A queima de caixa no trimestre ocorreu principalmente pelo menor recebimento de prêmios. Do 3T22 até o 2T23, o IRB já consumiu R$ 1,2b de caixa, praticamente já queimou todo o montante realizado no follow-on de set/22.
Prêmios: Contração de prêmios podem impactar crescimento futuro
Prêmios Emitidos. Os prêmios emitidos totalizaram R$ 1,4b, apresentando uma forte contração de 12% t/t e 17,2% a/a. A empresa tem trabalhado para realizar uma maior concentração no Brasil, reduzindo a participação no exterior em 3pp a/a.
Retrocessão. As despesas de retrocessão apresentaram uma redução de 13,0% a/a, ficando em -R$ 360,5m. No trimestre, ocorreu uma operação de Loss Portfolio Transfer (LPT) na linha de Property doméstico, o que agravou o prêmio retrocedido em R$ 189,2m, mas com efeito positivo nos índices regulatórios e na sinistralidade. O índice de retrocessão ficou em 25,9%, pequena alta t/t e a/a. Não fosse esse LPT, o índice de retrocessão seria de 12,3%.
Prêmios Ganhos. Os prêmios ganhos (receita) também apresentaram um movimento de contração, com queda de -15,4% t/t e -23,8% a/a, impactado também pela variação da provisão técnica que caiu 118,5% a/a chegando a -R$ 12,8.
Sinistralidade: O destaque
O índice de sinistralidade apresentou uma redução de 3,7 pp t/t e 50,6 pp a/a, ficando em 73,6%. O índice foi beneficiado pela linha “patrimonial” no Brasil que apresentou um dado positivo de R$ 64,3m no trimestre devido ao efeito do LPT. Ademais, as linhas de aviação também auxiliaram a sinistralidade com dados positivos, enquanto outras linhas também apresentaram redução de sinistros.
- Brasil: o índice de sinistralidade ficou em 71%, redução de 73pp a/a. Impactado positivamente pelo efeito do LPT, aviação e rural.
- Exterior: apresentou um índice de sinistralidade de 77% (-23pp a/a), apresentando melhora principalmente no patrimonial, vida, rural e aviação.
Comissionamento
O índice de comissionamento apresentou um total de 22,8% (+3,5pp t/t e +4,0pp a/a). O custo de aquisição ficou em R$ 233m, queda de 0,1% t/t e 7,7% a/a, porém a elevação no índice ocorreu pela redução mais expressiva dos prêmios ganhos.
Resultado de Underwriting
No 2T23, o IRB reportou um resultado de underwriting (resultado após sinistros e comissão) positivo de R$ 35,4m, comparado a um resultado negativo de -R$ 661m no 2T22. As principais melhoras de desempenho foram nos segmentos Rural, Patrimonial e Aviação. No entanto, o segmento Rural continua negativo.
Despesas
O índice de despesas administrativas ficou em 8,5% (+1,2pp t/t e +2,6pp a/a), impactado pela linha de despesa com pessoal que apresentou um total de R$ 51,4m (+24,5% t/t e +10,2% a/a), em virtude do programa de demissão voluntária (PDV) finalizada em mai/23 que aumentou a linha em 7,9m. Excluindo o impacto do PDV no trimestre, o índice de despesas administrativas ficaria em 7,7%.
Combinado
O índice combinado, que demonstra a capacidade de geração de resultado operacional da companhia, ficou em 108,3%, acima do breakeven de 100%, mas com forte melhora de 46,0pp a/a.
Resultado financeiro e patrimonial
O resultado financeiro e patrimonial apresentou um total de R$ 95,7m (-34,2% t/t e -8,2% a/a), impactado pela apreciação do real no trimestre, o que afetou negativamente a carteira no exterior. Ademais, a companhia ainda continua com uma forte exposição ao dólar (40% da carteira), o que gera volatilidade no resultado financeiro.
Imposto
A companhia registrou um crédito tributário que beneficiou o lucro líquido em R$ 9m, em nossa visão auxiliado pelos benefícios fiscais devido aos prejuízos acumulados. De acordo com o regulamento do imposto de renda, não há limite de tempo para compensação de prejuízos fiscais, mas há um limite no montante dessa compensação, equivalente a 30% do lucro tributável do período.
Segue abaixo o cronograma com as estimativas da realização dos créditos tributários diferidos com base em estudo técnico e projeções do IRB.
Suficiência do patrimônio
A suficiência de patrimônio líquido ajustado ficou em 122% no trimestre (+17pp t/t e +58pp a/a), ficando acima do capital mínimo requerido de 100%. O índice de solvência ficou em 288% (+18pp t/t e +94pp a/a), ficando em linha com players internacionais.
O índice de cobertura de provisões técnicas ficou em R$ 519,2m vs saldo negativo de R$ 729,7m no 2T22. Assim, a companhia ficou acima da exigência regulatória.