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    Publicado em 07 de Junho às 00:13:19

    Economia Bancária: Maior concorrência, menor crescimento e aumento do custo de crédito

    Neste documento destrincharemos os principais pontos do Relatório de Economia Bancária de 2022, disponibilizado pelo BC (link). O relatório abarca os principais tópicos do setor bancário, além de estudos sobre dinâmicas pontuais do setor e as novas inovações propostas pelo regulador. Os tópicos que abordaremos são:

    • Mercado de Crédito: a carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional apresentou um bom crescimento nos últimos 3 anos, mas com projeções de apenas 7,6%, mostrando uma desaceleração significativa em 2023 devido ao aumento da inadimplência. Discutimos mais sobre o cenário de crédito do mês de abril no link;
    • Captações: as captações líquidas ficaram positivas, já que a taxa Selic média maior, sinaliza maior propensão ao acúmulo de produtos bancários, com destaque para os depósitos a prazo. Por outro lado, os depósitos de poupança e à vista apresentaram desempenho negativo;
    • Custo de Crédito e Spread: Em 2022, o ICC (Indicador do Custo de Crédito) aumentou em 2,58 pp, consequência principalmente do aumento da taxa de juros e do ciclo de crédito mais apertado;
    • Rentabilidade: A rentabilidade das instituições financeiras apresentou queda, apesar do aumento no lucro, devido ao aumento das provisões de crédito com o cenário mais desafiador e o caso de Americanas que impactou o balanço de alguns bancos no 4T22;
    • Concentração: A concentração bancária dos principais bancos diminuiu, por consequência da entrada de novos players atacando as operações de crédito relativamente mais simples. Além disso, os bancos públicos diminuíram sua participação no mercado desde 2020, abrindo mais mercado para os privados;
    • Concorrência: A concorrência no mercado de crédito em todos os segmentos (bancário, não bancário e cooperativas) está aumentando, com os maiores bancos com menor poder de mercado, já os serviços tiveram comportamento inverso, com competição arrefecendo.

    Mercado de Crédito: Desacelerou em 2022 e deve piorar em 2023

    A carteira de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional) finalizou 2022 em R$ 5,3 tri, aumento de 14% a/a. Já a razão crédito/PIB ficou em 53,8% em dez/22, um crescimento de 1,2pp a/a.

    No entanto, o segundo semestre de 2022 apresentou uma desaceleração do crescimento de crédito, com arrefecimento na evolução do crédito livre, parcialmente amenizada por uma aceleração do crédito direcionado. O segmento destinado às famílias apresentou uma moderação, devido à redução nas operações de crédito pessoal não-consignado e de cartão de crédito à vista. No crédito livre destinado as empresas também houve uma moderação, com impacto de forma generalizada em todas as modalidades. A queda do nível de atividade econômica e a retomada do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) junto com o Peac (Programa Emergencial de Acesso ao Crédito), que são créditos direcionados, contribuíram para a queda do crédito livre destinado às PJs, já que supriram parte da necessidade dos recursos das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs).

    Para 2023, as projeções do Banco Central para o crédito bancário são de crescimento de 7,6% a/a, com aumento de 7,1% a/a no saldo de crédito de recursos livres e de 8,3% a/a nos recursos direcionados.

    A elevação da taxa Selic ao longo de 2022 foi repassada para os juros cobrados nas operações de crédito. A taxa média dos juros nos novos contratos atingiu 30,1% aa em dez/22, aumento de 5,5pp a/a. Já no crédito livre, os juros ficaram em 41,7% aa, crescimento de 7,9pp a/a.

    O crédito livre para pessoas físicas apresentou uma taxa de juros de 55,4% a/a (+10,4pp a/a), puxado pela elevação dos juros cobrados na modalidade de cartão de crédito rotativo (+60,3pp a/a), devido ao peso da inadimplência na composição do custo da modalidade. Já para as empresas, a taxa livre ficou em 23,1% a/a (+3,4pp a/a), devido ao aumento na taxa do cheque especial (+22,4 pp a/a).

    Em 2022, teve um aumento na inadimplência, principalmente no segmento de recursos livres. Os destaques negativos para pessoas físicas foram o cartão de crédito rotativo e crédito pessoal não consignado. Já na pessoa jurídica, foi a modalidade de capital de giro. A inadimplência do SFN ficou em 3%, aumento de 0,7pp a/a.

    • Crédito para pessoa jurídica por porte: Grandes empresas perdem participação

    O crescimento do crédito para empresas em 2022 foi puxado pelas MPMEs (micro, pequenas e médias empresas), com aumento de 13,9% a/a vs. um aumento de 5,3% a/a das grandes empresas, com a maior expansão por parte das microempresas (+16,4% a/a). Olhando para a participação no saldo total da carteira de crédito, as empresas de grande porte continuaram o movimento de queda, com um total de 55,2% do mercado em 2022. Já as micro e pequenas empresas (MPEs) atingiram uma participação acima de 20% pela primeira vez na história.

    Para o segmento de MPEs, as modalidades de capital de giro e antecipação de recebíveis foram destaque no ano, com um total de 62,8% da carteira de crédito. Para as médias empresas, essas modalidades atingiram 55,1%, enquanto para grandes empresas foi de 30,5%. Por fim, as grandes empresas finalizaram o ano de 2022 com 43,4% da carteira em operações de crédito voltadas à infraestrutura, projetos ou investimentos e 17,2% alocado em operações de comércio exterior.

    • Portabilidade de Crédito: Piora do crédito aumenta o número de cancelamentos

    No ano passado, o número de pedidos de portabilidade apresentou queda de 50,6% a/a, para um total de 5,1 milhões. Deste total, apenas 1,9 milhão de pedidos foram efetivados (-57,5% a/a), um saldo total de R$ 17,4b (-64,8% a/a). A redução na taxa de efetivações e o aumento na taxa de cancelamentos ocorreu devido a piora nas condições de crédito em 2022, o que levou as instituições a adotarem uma política de crédito mais restritiva, indicando uma aversão maior ao risco no momento da portabilidade do crédito.

    • Cartões de crédito: Dominado pelos grandes bancos

    A quantidade de cartões de crédito em jun/22 apresentou um total de 190,8 milhões, quase o dobro da população economicamente ativa no Brasil de 107,4 milhões.

    O mercado de cartões de crédito foi impulsionado principalmente pelas instituições de pagamentos e bancos digitais, que no período analisado, aumentaram suas bases em 27,6 milhões de usuários. Por outro lado, apesar do aumento da competição e do número de cartões de crédito, o mercado ainda é dominado pelos grandes bancos.

    Nos estudos realizados pelo Banco Central, há indícios de que o acesso a um maior número de cartões com diferentes emissores tende a aumentar o saldo médio das modalidades sujeitas à cobrança de juros, com destaque para o crédito rotativo.

    O estudo demonstrou também que o endividamento oneroso é significativamente maior no segmento de bancos privados pequenos e médios e financeiras.

    Captações: Poupança tem captação líquida negativa por baixo rendimento

    O estoque de captações em 2022 apresentou alta de 13,5% a/a, impulsionada pelas captações líquidas positivas, já que a taxa Selic maior sinaliza maior propensão ao acúmulo de produtos bancários atrelados a esse indexador. O depósito a prazo foi o principal destaque de crescimento com R$ 304b (+19% a/a). Por outro lado, o desempenho negativo foi puxado pelos depósitos de poupança com captação líquida negativa de R$ 102b (compensada pelos rendimentos creditados de R$ 71b em 2022), impactado pelo baixo rendimento da poupança em comparação a taxa básica de juros.

    A taxa média de captação em 2022 dos bancos na categoria S1* manteve-se em torno de 100% do DI (depósito interfinanceiro). Para os outros segmentos, foi exposto uma estabilidade da taxa média de captação.

    *(S1) bancos com participação maior ou igual a 10% do PIB; (S2) bancos com tamanho inferior a 10% do PIB e demais instituições com tamanho superior a 1% do PIB; (S3) bancos e instituições não bancárias com tamanho de 0,1% a 1% do PIB; (S4) bancos e instituições não bancárias com tamanho inferior a 0,1% do PIB; e (S5) instituições não bancárias com perfil de risco simplificado, com tamanho inferior a 0,1%. A participação é medida pela razão do aitvo total em relação ao PIB.

    Custo de crédito e Spread: Custo de captação é o principal componente

    O indicador do custo de crédito (ICC) estima o custo médio, sob a ótica do tomador, de todas as operações de crédito, ao subtrair o custo de captação, há o spread do custo de crédito. Os fatores que impactam a formação do ICC são:

    • Custo de captação: são as despesas com juros referentes aos depósitos captados;
    • Inadimplência: perdas do não pagamentos de dívidas ou juros, além de descontos concedidos;
    • Despesas administrativas: despesas administrativas diversas incorridas para a realização das operações de crédito;
    • Tributos e FGC: reflete os tributos sobre as operações de crédito paga pelos tomadores de crédito e instituições financeiras (IFs);
    • Margem financeira do ICC: inclui a parcela do ICC que remunera o capital dos acionistas das instituições.

    Em 2022, o ICC aumentou em 2,58 pp, puxado principalmente pelo custo de captação (+1,6 pp) e a inadimplência (+0,7 pp). Ambos consequência do ciclo de aperto monetário, com os juros saindo de 2% (mar/21) para 13,75% (ago/22) e se mantendo até hoje. A parcela de despesa administrativa reduziu em -0,24 pp, consequência da maior digitalização do setor bancário.

    Na decomposição do ICC por modalidade de crédito (livre e direcionado), é possível ver o direcionado relativamente menor, por conta de regulação específica.

    Rentabilidade: Americanas e ciclo de maior provisão impactaram 2022

    A rentabilidade do sistema bancário recuou para 14,7% em 2022 (-1,0 pp a/a) devido ao aumento das despesas com provisões e a piora da eficiência operacional. Já o lucro líquido registrou o total de R$ 139b (+2% a/a).

    A margem financeira (NII) apresentou o montante de R$ 289b (-6,7% a/a), impactado pelo maior custo de captação (funding). Do lado positivo, o crescimento da carteira de crédito contribuiu para o resultado financeiro, mas não foi suficiente para compensar a retração da margem. A Carteira de crédito pessoa física permanece com maior representatividade da geração do NII com 73% do total. Além disso, a continuidade das operações de crédito em PF com mais risco e maior retorno permanecem em alta (+17 pp a/a), com destaque para os produtos de cheque especial, cartão de crédito e empréstimo não consignado

    As despesas com provisões aumentaram expressivamente na comparação a/a e se aproximaram dos patamares do primeiro ano da pandemia. Isso ocorreu devido ao (i) aumento do comprometimento de renda das famílias, (ii) crescimento do crédito em níveis de maior risco, (iii) menor capacidade de pagamento de micro e pequenas empresas e (iv) o evento da Americanas que também contribuiu para a alta.

    O índice de eficiência operacional do sistema registrou 46,8%, piora de +1,4 pp a/a. O impactado pela desaceleração das receitas de serviços que cresceram 3,4% a/a (vs 8,9% em 2021) e pelo crescimento das despesas administrativas que cresceram 8,5% a/a, bem acima da inflação do período de 5,8%.

    Concentração: Principais bancos seguem perdendo share

    O Banco Central utiliza do IHHn (Índice Herfindahl-Hirschman Normalizado) para a análise da concentração bancária. Os resultados variam entre 0 a 1, quanto mais próxima de 1, maior a concentração.

    • Entre 0 e 0,1 são de baixa concentração;
    • Entre 0,1 e 0,18 são de moderada concentração;
    • Entre 0,18 até 1 são de elevada concentração.

    O BC também utiliza do E.N. (Equivalente Número do IHHn), que retrata o número de IFs com participação idêntica no mercado que geraria o IHHn. Além disso, há o RC4, que mede o grau de concentração das quatro maiores IFs no mercado.

    **(b1) bancos comerciais e múltiplos com carteira comercial e caixas econômicas; (b2) bancos múltiplos sem carteira comercial, bancos de investimentos e bancos de câmbio; (b3) cooperativas de crédito singular; (b4) bancos de desenvolvimento; (n1) instituições não bancárias atuantes no mercado de crédito; (n2) instituições não bancárias atuantes no mercado de capitais; e (n4) instituições de pagamento (IPs).

    Mesmo com algumas aquisições que ocorreram no mercado, a redução da concentração bancária foi presente em todas as métricas. Em nossa visão, consequência principalmente da entrada de diversas fintechs, que acabam por aumentar a competitividade por meio do foco em menores precificação. Além disso, houve uma menor pujança dos bancos públicos no setor, abrindo maior espaço para o avanço da penetração das entidades privadas.

    Ao olhar para a quebra das operações de crédito percebemos que o crédito relativamente mais simples de ser trabalhado foi o principal atacado pelos novos players, assim, apresentando uma redução mais expressiva da concentração.

    Concorrência: Maior concorrência no crédito, menor nos serviços

    Para a análise da concorrência bancária o BC utiliza o indicador de Lerner, estabelecido pela sensibilidade das empresas em relação as variações de juros. Quanto menor a sensibilidade, maior é o indicador de Lerner, assim, maior é o poder de mercado e menor o grau de concorrência.

    Nos indicadores de crédito, percebemos um aumento da concorrência em todas as instituições analisadas (bancos, cooperativas e IFs não bancárias), assim, acreditamos que apesar de um mercado mais concentrado, há maior facilidade da entrada de novas empresas, principalmente por meio de créditos menos especializados.

    Já no indicador de serviços (administração de fundos constitucionais e loterias, cobrança, mercado de capitais, serviços de pagamento, serviços bancários e intermediação de empréstimos e financiamento entre pessoas) a concorrência diminuiu, mostrando o poder de mercado dos grandes bancos, que conseguiram diminuir seus custos ao mesmo tempo que aumentaram levemente os preços.

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